Faleceu a brilhante artista do carnaval, Maria Augusta

Por: Gilva Lopes BackOffice: Jaqueline Costa
Debaixo de muita emoção, a carnavalesca Maria Augusta Rodrigues foi sepultada na tarde do último sábado, 12/11, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul. Referência histórica do carnaval carioca, ela estava internada no CTI do Hospital São Lucas, em Copacabana, e, aos 83 anos, sofreu complicações em decorrência de um câncer na bexiga, vindo a óbito na sexta-feira, dia 11. Nascida no interior do estado do Rio, em São João da Barra, Maria Augusta teve seu primeiro contato com o samba no fim da década de 1960, no Império da Tijuca. Em 1969, estreou com título no Salgueiro com o enredo “Bahia de Todos os Deuses”, atuando como assistente de Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues. Voltou a vencer no Salgueiro em 1971, com “Festa para um Rei Negro”, e em 1974, quando auxiliou Joãosinho Trinta em “O Rei de França na Ilha da Assombração”.
Nos anos seguintes, fez história na União da Ilha do Governador, onde assinou desfiles marcantes como “Domingo” (1977) e “O Amanhã” (1978), consolidando um estilo próprio, com enredos leves e de grande apelo popular. Na década de 1980, passou por escolas como Paraíso do Tuiuti e Tradição. Em 1993, realizou seu último trabalho como carnavalesca na Beija-Flor de Nilópolis, substituindo Joãosinho Trinta no enredo “Uni-duni-tê, a Beija-Flor escolheu: é você”.
Fora da Avenida, construiu trajetória respeitada como comentarista de desfiles, com passagens pelas emissoras: Band; Manchete; Globo; e CNT. Candomblecista e ex-professora da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Maria Augusta exerceu papel fundamental na formação de artistas visuais e carnavalescos, como Marcia Lage, que morreu em janeiro de 2025, sua ex-aluna, dentre tantos outros. Informalmente, exerceu o papel de “embaixadora das artes e do samba”, recebendo ao longo das décadas diversos pesquisadores e profissionais estrangeiros interessados no carnaval brasileiro. Em 2004, virou enredo do GRES Arranco, no desfile do antigo Grupo B. Em 2025, foi homenageada pela escola mirim Aprendizes do Salgueiro. Teve também sua trajetória lembrada numa exposição no Sesc Madureira, em 2023, que reuniu desenhos, croquis e outros objetos do seu acervo pessoal, sob a idealização do pesquisador Leonardo Antan. Solteira, a artista não teve filhos.
Maria Augusta é destacada pelo protagonismo feminino nos desfiles e pela contribuição intelectual à folia. A despedida contou com a presença de grandes nomes da Sapucaí, como a porta-bandeira Selminha Sorriso, da Beija-Flor; Gabriel Haddad e Leonardo Bora, carnavalescos da Unidos de Vila Isabel; André Vaz, presidente do Salgueiro, e Elmo José dos Santos, ex-presidente da Mangueira e diretor de Carnaval da Liesa. Uma coroa de flores enviada por dezenas de escolas, como Portela, Tuiuti, Ilha, Salgueiro e Beija-Flor, marcou a homenagem à carnavalesca. Respeitadíssima no mundo do carnaval, era presença cativa nas quadras durante todo o ano. Comparecia a quase todos os eventos promovidos pelas escolas, como lançamento de sinopses, apresentações de protótipos e finais de samba-enredo. Na temporada de ensaios técnicos, entre janeiro e fevereiro, acompanhava tudo de perto, sempre atenta e aos detalhes e atualizada.
No decorrer do cerimonial do enterro de Maria Augusta, ritmistas da Bateria do GRES Império Serrano, escola de coração da artista, tocaram o clássico samba de 1982, “Bumbum Paticumbum Prugurundum”, sendo cantado pelos presentes. A carnavalesca ocupava o cargo vitalício de madrinha deste segmento na agremiação. O portal Sambrasil abraça fortemente parentes e amigos dessa sumidade que a todos encantava com sua sabedoria e simpatia; inclusive no último desfile na Sapucaí, nosso repórter Gilvan Lopes teve a oportunidade de fazer um bate-papo na concentração com ela, onde uma vez mais, a professora nos coroou com suas pérolas de sabedoria sobre a vida; e, é claro, sobre o carnaval. Desejamos a ela um ótimo e merecido descanso.