Vida de Martinho da Vila é contada em espetáculo teatral

Por Marcelo Faria
Imagens: Cissa Pereira e Marcellus
Fotos Marcelo Faria
Em 1938, durante o carnaval, nasceu Martinho José Ferreira, são 80 anos e uma vida dedicada à música, à poesia e à luta nos movimentos negros. Martinho da Vila, que completou as oito décadas em fevereiro, vem recebendo homenagens desde o início do ano, inclusive durante o carnaval do Rio e de São Paulo. Porém, agora a homenagem está no teatro.
O Portal Sambrasil – www.sambrasil.net prestigiou a estreia e conversou com Martinho da Vila após o espetáculo. Ele cita que não dá para medir em palavras a sua emoção em ver sua vida retratada no espetáculo Martinho 8.0 – Uma filosofia de Vida. “- Passou um filme da minha vida na cabeça durante a peça, a certeza que tenho é que assisti nesta noite de estreia uma ótima peça. Estava ansioso, não fui a nenhum ensaio. Dei uma lida no roteiro no início e achei muito bom. Estou feliz com a estreia!”.
Na peça teatral musicada, público pode ver no palco trechos dos seus principais sucessos, como ‘Devagar, Devagarinho’, ‘Disritmia’, ‘Mulheres’, entre muitos outros. No cenário, projeções de fotos e os ambientes que retratam sua vida e carreira desde a década de 1940.

Martinho 8.0 – Uma Filosofia de Vida – Elenco, por Marcelo Faria – Agência Sambrasil
Em cena, três atores representarão diferentes fases da vida do sambista: Victor Hugo (infância), Junior Vieira (juventude) e Nill Marcondes (adulto). Vieira também interpretará Josué, pai de Martinho. A atriz Ana Miranda será Dona Teresa de Jesus, mãe do sambista, e Babi Xavier viverá Cléo Ferreira, além de Esther Delamare (professora Ida) e William Vita (Marcus Pereira – primeiro empresário).
Conversamos também com Nill Marcondes e Babi Xavier, veja os vídeos:
Nill Marcondes teve contato direto com o sambista e pôde observar mais de perto sua vida.
“- O Martinho é um cara simples, vê tudo com amor e paz. Estou tento a oportunidade de realmente me apaixonar pela pessoa que ele é, além do grande músico. É uma honra de vida. Impossível interpretar o Martinho. Serei apenas um dos contadores dessa linda história, que é e foi a vida dele. E alerta: A peça é uma dramaturgia “musicada e não musical”!”.
Babi Xavier teve a oportunidade de estar em contato direto com Cléo Ferreira e pôde constatar o quão doce, gentil, humildade e importante, ela está posicionada na vida do Martinho da Vila. Isso tudo pode ser observado durante a peça e em um dos trechos, Babi / Cléo, cita uma frase singela ao atender um telefonema, onde lhe é pedido que ela decidisse, pelo Martinho, sobre um determinado assunto. “…Eu sou apenas sua esposa, não posso tomar esta decisão por ele, sou só a esposa…”.
Com direção de William Vita, o espetáculo ‘Martinho da Vila 8.0 Uma Filosofia de Vida’, de Ana Ferguson, Luiz Marcelo Legey e Solange Bighetti, teve sua estreia com todos os pés direito. A vida do compositor foi contada com base no livro ‘Memórias Póstumas de Teresa de Jesus’, publicado por ele, além de uma vasta pesquisa no acervo e entrevistas. A curadoria é de Cléo Ferreira, esposa do artista. Vale citar a importância de Cléo, sempre uma parceria e colaboradora apaixonada, nestes 25 anos de relacionamento.
Memórias Póstumas de Teresa de Jesus, de Martinho da Vila, é uma biografia póstuma, na qual Martinho assume o papel da sua mãe para relatar toda a saga e luta da Família Ferreira, com suas dificuldades, sua coragem e suas particularidades. É uma história interessante, que toca naturalmente a música, a religiosidade, a fé, a união e a solidariedade entre seus membros, capitaneados pela figura forte de Dona Teresa. Após a morte de sua mãe, Martinho escreveu o livro contando uma parte desconhecida de sua história. Ele fala sobre a infância pela voz da mãe, abrindo nossa visão para todas as dificuldades que passaram.
O espetáculo também aborda a participação de Martinho da Vila na luta pelos direitos dos negros e lembra do showmício que organizou em São Paulo pedindo a libertação de Nelson Mandela. Em 1991, já fora da prisão, o ex-líder sul-africano veio ao Brasil e fez questão de se encontrar com o sambista. Na peça, são cantados alguns trechos da música “Meu homem”, feita por Martinho para o ex-presidente, quando este ainda estava preso.

Cléo Ferreira, Solange Bighetti, Ana Ferguson e Martinho da Vila, por Marcelo Faria – Agência Sambrasil
Na plateia, entre os convidados, o maestro e produtor Rildo Hora, o musicólogo Ricardo Cravo Albin, o jornalista especializado em samba Marcelo Faria, o sambista Marcelo Moreira, o Capitão Guimarães – conselheiro da Liesa, entre outros atores e atrizes que prestigiaram ao espetáculo.
O espetáculo ficará em temporada até o dia 15 de julho, sempre as sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 20h
DOUTOR HONORIS CAUSA
Do menino Martinho José Ferreira, que nasceu em Duas Barras, Rio de Janeiro, filho de Tereza de Jesus e Josué Ferreira, lavradores da Fazenda do Cedro Grande, até o celebrado e conceituado artista, foram 50 anos de trajetória. Ana Ferguson, uma das autoras, encantada com tantas facetas de Martinho, quis trazer as histórias não tão conhecidas do sambista para o palco.
“Depois que ele recebeu o título de Doutor Honoris Causa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em outubro de 2017, nos sentimos na obrigação de levar ao conhecimento do público toda uma história de vida ligada ao movimento negro e preocupação com a língua portuguesa nos países lusófonos”, esclarece. “Além disso, falar da sua carreira artística de grande sucesso, ao longo de seus 80 anos”, explica Ana.