Liga RJ: Confira o calendário oficial dos ensaios técnicos da Série Ouro para o carnaval 2022

Por Marcelo Faria

Imagens: Agência Sambrasil

CARNAVAL 2022 #ligarjcarnaval2022

PROGRAMAÇÃO DOS ENSAIOS TÉCNICOS NO SAMBÓDROMO
ESCOLAS DE SAMBA DA SÉRIE OURO

Conheça o enredo, a ficha técnica e o samba enredo das agremiações que farão seus ensaios técnicos neste final de semana.

DATASDIAS19h20h21h
12/marçoSábadoEm Cima da Hora(C)Império Serrano (B)Lins Imperial (C)
19/marçoSábadoUnidos da Ponte (C)Acad. do Cubango (B)Império da Tijuca (C)
26/marçoSábadoInocentes. Belford Roxo (B)Acad. do Sossego (C)Acad. de Santa Cruz(B)
02/abrilSábadoUnião da Ilha (C)Acad. de Vigário Geral (B)Unidos Porto da Pedra (C)
09/abrilSábadoEstácio de Sá (C)Unidos de Bangu (B)Unidos de Padre Miguel (C)
  • 01 A_ GRES EM CIMA DA HORA

SINOPSE DO ENREDO:  33 – Destino Dom Pedro II

JUSTIFICATIVA

“Vamos sublimar em poesia A razão do dia a dia. Pra ganhar o pão Acordar de manhã cedo Caminhar pra estação. Pra chegar lá em D. Pedro A tempo de bater cartão […]”

O Grêmio Recreativo Escola de Samba Em Cima da Hora, celebrando o seu retorno ao palco principal de todos os sambistas prepara uma volta no tempo em sua própria história, e que de forma contemporânea, acaba se confundindo com a história da cidade do Rio de Janeiro.

No ano de 2021 a azul e branco apresentará uma releitura de um desfile originalmente criado pelos carnavalescos José Leonídio e Regina Celi que ficou marcado como um dos clássicos do carnaval carioca. Orgulhosamente a comunidade de Cavalcanti resgata do seu baú de memórias afetivas o seu Carnaval de 1984, e honrosamente, reapresenta: “33 – Destino Dom Pedro II”.

É mais uma vez tempo de sublimar em poesia a vida suburbana que tem suas relações com os trilhos de trem que cortam a cidade do Rio de Janeiro e parte do interior. É a história de quem acorda de manhã cedo, caminha para a estação, embarca no trem e segue baldeando por aí a tempo de bater cartão. Imaginem o sufoco de quem vem lá de Japeri? Não é mole não! É a sua história, a nossa história, é o fato-história de cada cidadão que movimenta essa cidade indo e vindo por todos os ramais com o peito amargurado, sonhando com vida de bacana e enfrentando o patrão mal-humorado depois de encarar esse trem lotado.

É o “sacolejo” do famoso 33 levando e trazendo nossa gente, que, apesar do caos urbano vive sambando e pagodeando suas alegrias. Tem artista, jogo de ronda, cartomantes, repentistas e tantas mercadorias. O trem é um universo permeado de histórias e figuras humanas diversas, cultura particular e pulsante neste rio de tantos janeiros. Os trilhos são as veias que cortam esse “gigante-maravilha” levando vida ao seu “coração-central” onde desembarcam as emoções dos seus carnavais, e hoje, a comunidade de Cavalcanti reabre as portas destes vagões e te convida:

Embarque conosco!

Boa viagem!

SINOPSE

Garanta o seu lugar, este trem destina-se à Estação Dom Pedro II. O famoso 33 vai partir mais uma vez, vamos sublimar em poesia…

Os galos e os passarinhos cantam pelo subúrbio e o interior desse Rio que se veste de maravilha de janeiro a janeiro, é mais uma oportunidade de vitória que se inicia. Batem os portões, pé na calçada, um sinal da cruz e assim segue o sagrado rito das manhãs de quem acorda cedo e caminha para estação em busca do pão de cada dia. Não se deve perder tempo, na razão do dia a dia, tempo é dinheiro para quem chega em Dom Pedro a tempo de bater cartão.

São muitos que sacolejam nesse trem almejando a regalia do progresso da nação. Lá vai o humilde verdureiro carregando a dádiva da terra regada com o suor do seu rosto. Tem os moços e as moças engravatadas, e quando acaba o espaço no vagão, tem gente que vai surfando por esses trilhos uma perigosa ilusão. Não dá para esquecer dos maquinistas que tão bem cuidam desse velho trem. Pelas janelas os olhos só enxergam os sonhos, quem sabe um dia ser bacana, mesmo enfrentando o mal da inflação que assola essa nação. São os “Jorges” e as “Marias” nos seus andores suburbanos que vão vencer o dragão.

Não é mole não!

Nos ramais da vida a alegria é o combustível de quem está sempre pagodeando pra esquecer a dureza sem poesia do “cinza-concreto” do cotidiano. Só não entende o patrão mal-humorado, principalmente quando alguém chega atrasado, afinal, parece que todo suburbano mora “logo ali” e não precisa viver baldeando de linha em linha. Imagina quem vem lá de Japeri? No caos do transporte público o “trombadinha” quase sempre se dá bem e o paquera apanha quando mexe com alguém. A viagem é longa com o peito amargurado e na companhia de tanta incerteza, mas, Deus dá um ponto de luz, é candeia de terreiro, anjo da guarda, amém e saravá do cidadão.

Este velho trem balança e embala a arte percorrendo os trilhos que levam e trazem tantos rostos e milhares de sorrisos. Tem a menina do laço de fita, se o trem “variô”, ela batuca na marmita para não ver o tempo passar. A malandragem do jogo de ronda, vendedores, cartomantes e repentistas na magia criativa que transforma o famoso 33 em seu palco popular para quem tira onda de artista. O trem é cultura viva!

Toda essa gente segue para vários lugares, mas, é lá em Dom Pedro II que pulsa o “coração-central” desse gigante Brasil. É onde os olhares se cruzam, destinos se entrelaçam em um aperto de mão, um abraço aconchega, moedinhas para um café e a vida vai seguindo. É nessa Estação Central onde também desembarcam os sonhos de carnaval de todo sambista, e o manto azul e branco, que “vem de lá de Cavalcanti pra Sapucaí”, momentos marcados pontualmente pela sentinela ocular do tempo carioca, que, garbosamente observa os meandros que traçam a vida de tantos brasileiros.

A viagem chega ao seu final, e ao desembarcar, não se esqueça de observar atentamente o espaço entre o trem e a plataforma. Levem consigo esperança, reforcem a vontade de realizarem seus sonhos e a certeza de que todo batalhador tem como destino a felicidade. A Em Cima da Hora, sem atraso e sem demora, agradece a preferência e deseja que a vida de cada um seja sublimada em poesia, para fazer dela uma estação de eterna alegria.

Obrigado por viajar no 33!

Referências Bibliográficas

Delgado de Carvalho, Carlos Miguel. (1990). História da cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura.

GUIMARÃES, Roberta Sampaio; DAVIES, Frank Andrew. “Alegorias e Deslocamentos do ‘Subúrbio Carioca’ nos Estudos das Ciências Sociais (1970- 2010). Sociol. Antropol. vol.8 no.2 Rio de Janeiro May/Aug. 2018

LUCENA, Felipe. “História da Central do Brasil”. 2015. Diário do Rio. Disponível em https://diariodorio.com/historia-da-central-do-brasil/ Acessado em 22 de Abril de 2020.

Referências Musicais

 “33, Destino Dom Pedro II” / Autores: Guará e Jorginho das Rosas / Citação de trecho na justificativa.

“33 – Destino Dom Pedro II”

Carnavalesco: Marco Antônio Falleiros

Autores do Enredo (1984): José Leonídio e Regina Celi

Autoria, Pesquisa e Texto da Releitura (2021): Diego Araújo

MINI DESFILE: @PORTALSAMBRASIL / @LIGARJ TV  https://youtu.be/dbFuVJkoH68

Ficha técnica:

FICHA TÉCNICA
Presidente:Sebastião Ubiratan Fernandes (Birão)
(Presidente de Honra: Heitor Fernandes)
Carnavalescos:Alex Carvalho e Caio Cidrini
Diretor de Carnaval:Flávio Azevedo
Direção Geral de Harmonia:Comissão de Harmonia (Odan Costa, Paulinho Lins, Valter Moura, Márcio Emerson, Sérvolo Jorge e Jorge Barbosa)
Intérprete:Ciganerey
Comissão de Frente:Carlinhos de Jesus
Mestres de Bateria:Átila e Wando Antunes
Rainha de Bateria:Tânia Daley
1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira:Johny Matos e Jackeline Gomes
2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira:Carlos Caettano e Raquel Pereira

SAMBA-ENREDO

33 – Destino Dom Pedro II

Compositores:       Guará e Jorginho das Rosas

Intérprete:      Ciganerey

Vamos sublimar em poesia

A razão do dia-a-dia

Pra ganhar o pão

Acordar de manhã cedo

Caminhar pra estação

Pra chegar lá em D. Pedro

A tempo de bater cartão

Não é mole não

Com a inflação              (bis)

Almejar as regalias

Do progresso da nação

O suburbano quando chega atrasado

O patrão mal-humorado

Diz que mora logo ali

Mas é porque não anda nesse trem lotado

Com o peito amargurado, baldeando por aí

Imagine quem vem lá de Japeri

Imagine quem vem lá de Japeri

Olhando a menina de laços de fita

Batucando na marmita

Pra não ver o tempo passar

Esquecendo da tristeza quando o trem avariar

Esquecendo da tristeza quando o trem avariar

E na viagem tem jogo de ronda, de damas e reis

Vendedores, cartomantes, repentistas

Tiram onda de artistas

No famoso “trinta e três”

O trombadinha quase sempre se dá bem

O paquera apanha quando mexe com alguém

Não é tão mole

Andar de pingente no trem         (bis)

07 B – GRES IMPÉRIO SERRANO

SINOPSE DO ENREDO

Mangangá

“Eu destampei minha panela e soltei meu mangangá”

“Menina toma cuidado quando mangangá chegar”

“Besouro preto, besouro amarelo, faz a macumba do jeito que eu quero”

“Besouro preto, besouro encarnado, joguei a macumba lá no seu reinado”

(PONTO DE JUREMÁ)

1 – O berimbau puxa o toque para um jogo de dentro lento e rasteiro. Jogo mandingueiro. O toque: ANGOLA.

Seu corpo foi fechado com reza, ladainha e patuá. Èsù seu sentinela. No orí, a mão de cada uma das iabás. Òsányìn deu-lhe a erva na medida. Xangô emprestou-lhe o oxê. Por ordenança de “seu” Arranca Toco, Caboclo Araúna deu-lhe a flecha que usava como navalha. Ogum, por sua vez, forjou a armadura que guardava seu corpo. Por isso, Besouro CORDÃO DE OURO, adiava com astucia, o juízo final. Ogum era seu camará e, se não bastasse, enquanto distribuía rasteiras, golpes de meia-lua e rabo-de-arraia, o ferramenteiro dos orixás soprava repetidamente em seu ouvido: “Filho de Ogum não pode apanhar / Eu sou guerreiro / Eu vim guerrear/ Filho de Ogum não pode apanhar / Eu sou guerreiro / Eu vim guerrear”.

2 – O berimbau se agita. O ritmo alardeia que o perigo e a violência estão espreitando. O toque: CAVALARIA.

Quando perguntavam-lhe por seu mestre, dizia descender de Alípio, cativo do Engenho Pantaleão. Foi vaqueiro e amansador de burro bravo. Dizem, “o mais valente dos negros do cais de Santo Amaro”. Valentão. Vingador. Justiceiro. Passada a escravidão, não aceitava chefia. Só trabalhava se fosse por dinheiro. Não engolia senhor dizer que “quebrou pra São Caetano”. Os desavisados, agarrava pelo colarinho. Surrava. Golpeava. Do chapéu, retirava-lhes a pena, como quem vingava, inclusive, a dor do pavão.

3 – O berimbau leva o TOQUE DE IDALINA. Toque para jogo de armas brancas. Guerreia-se contra facões.

Colecionou desafeto entre senhores, jagunços e policiais. Sobre Besouro era comum perguntar: Mas como por fim com morte matada a um cabra preto de corpo fechado como o de Besouro? Faca de tucun, revelou um traidor. Foi assim que, após Memeu – filho do fazendeiro Zeca – ter sido desmoralizado em praça pública pelos golpes do capoeira, uma cilada – nas redondezas de Maracangalha – emboscou o capoeira. Na tocaia, cercado por quarenta homens, bala nenhuma tirou-lhe uma gota de sangue. Mas um facão – concebido com a madeira mágica que ergue a palmeira de tucum em direção aos portões de Aruanda – tombou-lhe. Seu corpo vergou. O rasgo deixou escorrer o misticismo e o mistério de sua própria vida.

4 – O berimbau puxa o TOQUE AMAZONAS. Toque para saudar a valentia dos mestres. Escuta-se as platinelas de um pandeiro e o dedilhar de uma viola baiana.

Guardo um ponto de juremá na memória que diz: “meu mano não chore não, que eu vou, e torno a voltar”. Isso me lembra que a morte cantada, versada e dançada não é morte, nem despedida. Besouro morreu e sua vida virou ladainha. Morreu, e a vida que levou virou samba de roda. Morreu, e sua valentia virou cântico de capoeira. Morreu e sua luta vai virar samba-enredo. Besouro morreu, pra viver na festa. Na alegria dos que vencerão.

“Êta besouro pra voar!” Segue, “sem choro e sem vela”. Canto um samba VALENTE E MIRONGUEIRO e, atendendo seu pedido, repouso teu corpo entre os enfeites de uma lapinha, com os versos que nunca esqueci:

“Quando eu morrer me enterre na Lapinha

Quando eu morrer me enterre na Lapinha

Calça, culote, palitó almofadinha”

Adeus Bahia, zum-zum-zum”.

Cordão de ouro

Eu vou partir porque mataram meu besouro”

ENREDO: MANGANGÁ

PESQUISA, DESENVOLVIMENTO E TEXTO: LEANDRO VIEIRA

MINI DESFILE: @PORTALSAMBRASIL / @LIGARJ TV  https://youtu.be/2s_fUACUbz4

FICHA TÉCNICA
Presidente:Sandro Avelar
Carnavalesco:Leandro Vieira
Diretor de Carnaval:Wilson da Silva Alves (Wilsinho)
Diretor Geral de Harmonia:Júnior Escafura
Intérpretes:Nego e Igor Vianna
Comissão de Frente:Patrick Carvalho
Mestre de Bateria:Vitinho
Rainha de Bateria:Darlin Ferrattry
1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira:Matheus Machado e Verônica Lima
2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira:Yuri Pires e Maura Luiza
SAMBA-ENREDO – Mangangá
Compositores:Paulo César Feital, Henrique Hoffman, Andinho Samara STS, André do Posto 7, Jefferson Oliveira e Ronaldo Fininho
Intérpretes:Nego e Igor Vianna
Áudio:      G.R.E.S. Império Serrano – Samba-Enredo 2022
Firma ponto no juremá, pro corpo fechar
Patuá e Ladainha
Risca pemba no chão
Tem erva, farinha e facão
A vida é rinha!
Ginga de Angola ancestral
Falange, Ogã, berimbau
Besouro… Saravá… Serrinha!
Canta o justiceiro vingador
Que Mestre Alípio ensinou
O negro há de se orgulharFilho de faísca é fogo
Se entra no jogo é pra incendiar         (bis)
Camará… Mangangá… Toque de Cavalaria
Camará… Mangangá… Não aceita tirania
Se quebrar pra São Caetano                               (bis)
O cativo azeda o mel
Negro feito na cabaça não se rende a coronel
No Tucum o fim da vida
Finda a vida nasce a luta
E o revide do pretume
Idalina força bruta
Amazonas valentia
Salve Manoel Pereira
Meia lua de caboclo rabo de arraia é pedreira
Não chore não, meu mano
Que eu volto já
Contra toda intolerância sou Exu de Oxalá
Não chore não, meu mano
Que eu volto já
Hoje o Rei da Resistência
Capoeira quer jogarBate marimba Camará
Camugerê Paticumbum        (bis)
Sou eu Império
Da Patente de Ogum

01 B – SRES LINS IMPERIAL

SINOPSE DO ENREDO: Mussum Pra Sempris – Traga o Mé que Hoje com a Lins Vai Ter Muito Samba no Pé!

Texto-mestre, ou SINOPSIS

Dizem que, quando o menino, preto retinto, nasceu com cara de quem tem fome aqui no Morro da Cachoeirinha, veio um anjo atrapalhado, desses que vivem se escorregando pelo caminho, desengonçado, que disse: Vai, Carlinhos! Ser estrela na vida! E o garoto foi. Desajeitado, mas foi. Entre cambalhotas, tropeços e acertos, mas foi. Tudo para ele virava espetáculo. Tanto que ele não era apenas um. Carlinhos era vários!

E o garoto, muito travesso, debandou com tantas pernas por aí, sempre a se aventurar. Não parava num canto. Escorregava daqui. Escorregava dali. Escorregava acolá. Era difícil de segurar Carlinhos! Preto sabido, ele driblou a miséria, cortou na mão as dificuldades que a vida lhe impusera. De verdade, meus cumpadis, não tinha tempo ruim para ele! Até porque sabia tirar proveito de tudo para viver, por alguns instantes, em céu de brigadeiro! Eita, menino arteiro!

Um dia, o mé, que bota a gente comovido como o diabo gosta, fez Carlinhos sair perambulando pelo subúrbio carioca. E no meio do caminho do garoto tinha um bloco. Tinha um bloco no meio do caminho do garoto. Era o União da Guanabara, com tanta gente com cara de fome que nem ele, improvisando no visual e na percussão. Foi ali, rapaziada, que o menino da Cachoeirinha viu no samba uma possibilidade de ser estrela na vida. Carlinhos, daí em diante, nunca mais se esqueceria deste dia. Nunquinha! Porque descobriu ser pé de valsa, cortejando feito mestre-sala. Porque descobriu que também era mestre-sala na arte da música de se reinventar, levando jeito para tocar, de forma incomum, um velho reco-reco cavado num gomo de bambu.

É, o moleque era atrevido! Tão atrevido que não demorou pra como Carlinhos do reco-reco ficar conhecido! Que ironia, né?! Ganhou o apelido de um instrumento que, em suas mãos, virava ouro, deixando de ser considerado da ralé! E logo não tardou para ele mesmo fazer seu reco-reco, com metais, parafusos e mais o que se tinha por perto. Mas a protagonista da história era mesmo a mola. Ela, igualzinha a ele, ora! Que encolhe, estica, parada não fica, balança, mas não cai! Ui, ui, ui, papai!

Carlinhos, nessa bagaça, embarcou no bonde do samba e conheceu, pelas bandas de uma tal Praça, o Clube dos Baianos, onde deixou de ser um simples frequentador para começar a virar um artista que tira o seu ganha-pão tocando. A admiração pelo talento de Carlinhos era tanta que fez com que ele ali mesmo fosse parar num tal de Modernos do Samba, que depois virou Originais. Neste grupo, meus cumpadis, só tinham os de fé, os geniais!

E o sucesso foi chegando, no sapatinho, como: contando sobre a nêga Tereza, que deixou de pista um malandro, indo dar uma sambadinha lá no morro com outro fulano; tirando sarro da cuíca da vizinha Maria, que adorava um sururu na esquina com o Peru; e entregando que, de tanto glup glup pra lá, glup glup pra cá, acabou acontecendo uma Tragédia no Fundo do Mar!

Enfim, o rapaz, danado que só, destaque no grupo, foi ganhando mansamente os palcos da vida e do mundo, mundo, vasto mundo.

Carlinhos, como um bom batedor de pernas que era, também foi dar um rolé em Mangueira, pelas vielas da favela! Ele era gente da gente! Gostava de dar perdido principalmente nas biroscas que tinham no Buraco Quente! Onde vista assim do alto mais parece um céu no chão, pisou miudinho sobre folhas secas e até foi parar no quintal de Dona Neuma! Lá, aprendeu que madeira de dá em doido é jequitibá! A partir de então, do Morro de Mangueira, não queria mais arredar o pé, não!

O moleque, rapaziada, acabou ainda se apaixonando por uma tal de Primeira Estação! Carlinhos dizia que era um sentimento tão grande que nem cabe explicação! Daí, varava as noites na Cerâmica, fazendo amizade com tantos bambas consagrados. E também não perdia a oportunidade de mostrar na quadra da Velha Manga que entendia do riscado!

E escola de samba ensina… Ah, como ensina! Deixou na memória de Carlinhos marcado o Mundo Encantado de Monteiro Lobato e toda poesia e verdade do Reino das Palavras de Carlos Drummond de Andrade! Como dizem, torcer para a Mangueira é o a-a-a-ço! Imagina só: Quanto orgulho o rapaz não tinha de ter participado dos desfiles a esses escritores que deram à Estação Primeira campeonatos?!

Ah, e sabe quando, mesmo sem querer querendo, você vira de uma família membro e até apelido acaba tendo? Foi justamente isso que aconteceu com Carlinhos! Ele ficou todo prosa, pois agora era filho da Manga Rosa! E embalado pelo som dos tamborins e o rufar do tambor que cortavam a manhã, percebeu que era Mangueira, sim! Pra hoje, pra sempre e até pra Amanhã!

E pernas pernas pernas. Nas suas andanças, Carlinhos foi até parar nas telas. De um jeito atabalhoado, sempre com a cara assustada e os olhos esbugalhados, caiu nas graças do povo! E ele era realmente muito engraçado! Todos queriam vê-lo de novo e de novo e de novo! Mas ora, ora, quem diria! O rapaz que para ator achava que não levava jeito nenhum, ganhou de Grande Otelo até o apelido de Muçum – peixe escorregadio, difícil de pegar, que se adapta em qualquer lugar! E se não bastasse de aventuras isso tudo, com seus ezis e izis, foi parar na Escolinha do Professor Raimundo! É! Mussum era mesmo palhaço, um insociável, que, mesmo abduzido ao Planalto dos Macacos, adorava fazer graça, levando toda gente a morrer de rir, perder o ar de tanto dar gargalhadas!

É, meus cumpadis, Não tinha jeito, não! O circo tava montado! Nas voltas que o mundo dá, Mussum foi virar um global Trapalhão! E nas poltronas, de casa, dos cinemas, ou de qualquer outra apresentação, o palhaço era aclamado, a grande estrela, a atração!

Mas quis a vida pregar uma peça no menino que vivia pregando peça nos outros. Carlinhos foi se empirulitar. Só que seu sorriso continuou passeando por aí! Tá em todo lugar! Dando esperança a tantas crianças! Estampando lembranças! Atravessando o tempo para de novo uma pindureta armar! Reivindicando o direito de que ser pretis não é absurdo! Reinventando a arte num mundo caduco!

E segue, meus cumpadis, com seus bordões eternizados, perambulando por aí, o que um anjo atrapalhado disse ao garoto daqui do Morro da Cachoeirinha: Vai, Carlinhos! Ser estrela na vida! Vai, Carlinhos! Ser estrela na vida!

É, Carlinhos é mesmo uma estrela, sim! Pra sempris em nossos coraçõezis… E fim!

Inserções feitas no texto com trechos de “Poema de sete faces”, de Carlos Drummond de Andrade; de “Sei lá, Mangueira”, de Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho; de “Jequitibá”, de José Ramos e Marcelino Ramos; “O meu guri”, de Chico Buarque de Hollanda.

Obra consultada

BARRETO, Juliano. Mussum forévis – samba, mé e Trapalhões. Disponível em: . Acesso em: 29 jul. 2020.

Carnavalescos: Eduardo Minucci e Raí Menezes.

Texto, pesquisa e desenvolvimento: Mateus Pranto e Raphael Homem.

MINI DESFILE: @PORTALSAMBRASIL / @LIGARJ TV  https://youtu.be/ewltmcMHB4k

FICHA TÉCNICA
Presidente:Flávio de Mello Lima
Carnavalescos:Eduardo Gonçalves e Raí Menezes
Direção de Carnaval:Maurício Dias e Ronaldo Abrahão
Direção Geral de Harmonia:Carlson Renato Ribeiro (Renatinho) e Ramon Mansur
Intérpretes:Lucas Donato e Rafael Tinguinha
Comissão de Frente:Carlos Bolacha
Mestre de Bateria:Átila Gomes
Rainha de Bateria:Danny Foxx
1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira:Jackson Senhorinho e Manoela Cardoso
2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira:Paulo Roza e Manu Brasil
SAMBA-ENREDOMussum Pra Sempris – Traga o Mé que Hoje com a Lins Vai Ter Muito Samba no Pé!
Compositores:Arlindinho Cruz, Mateus Pranto, Braguinha, Rafael Tinguinha, Lucas Donato, Naldo do Lins, Pezão, Carlinhos Bocão, Marquinhos Mola, Hélcio Colored, Genésio, Antônio da Conceição e Samuel Gasman
Intérpretes:Lucas Donato e Rafael Tinguinha
Áudio:      S.R.E.S. Lins Imperial – Samba-Enredo 2022
Nêgo menino, “lá no morro”, iluminado
O seu destino foi um anjo quem guiou
Descendo a ladeira, Carlinhos
Por tantos caminhos, a sua estrela brilhou!
Com reco-reco na mão, o dom de improvisar
A vida o ensinou a se reinventar
Talento como o dele ninguém viu igual
Um bamba partideiro originalNo quintal de folhas secas, tocou surdo de primeira…
Caiu no samba lá no Morro de Mangueira!                              (bis)
Onde parecia um céu no chão
De verde e rosa, tingiu seu coração
Um dia o artista se torna palhaço
Nos palcos, pela arte é consagrado
Dos mestres, as lições ele guardou
Com sua graça o povo cativou
Mas quis o destino levar seu sorriso
Deixando o infinito mais bonito
Mussum…
Um trapalhão que inspira tanta gente
Chama que jamais se apagará
É luz que há de brilhar “pra sempris”!Desce mais um mé que a Lins vem festejar…
E a batucada rola até o sol raiar!                                (bis)
Valeu, Mussum, valeu! É grande a saudade
Do filho que orgulha a comunidade!

Agradecemos pela sua visita, por ler essa matéria e principalmente pelo prestígio da vossa audiência!

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