Por Redação
Depois de 20 anos de carreira o cantor e compositor se dedica pela primeira vez a interpretar músicas de outro artista e se escolhe Bob Marley, uma das suas maiores inspirações musicais. Com lançamento nas plataformas digitais no dia 23 de junho, o álbum é comemorado em dois shows, nos dias 6 e 13 de julho, quintas-feiras, no Solar de Botafogo.
Um álbum inteiro dedicado à obra de outro compositor. Depois de seis discos autorais entre projetos solo e coletivos, incluindo o premiado 4 Cabeça, pela primeira vez, em pouco mais de 20 anos de carreira, Luis Carlinhos interpreta outro artista. A escolha foi certeira, uma de suas maiores inspirações musicais desde a época da sua banda de reggae Dread Lion, quando se apresentava ao lado de artistas do gênero como The Wailers, Pato Banton, Andrew Tosh e Maxi Priest. “Luis Carlinhos Canta Bob Marley” é o novo trabalho do cantor e compositor carioca que será lançado nas plataformas digitais (https://SMB.lnk.to/LuisCarlinhosCantaBobMarley) e com show ao vivo nos dias 6 e 13 de julho, no Solar de Botafogo, no Rio de Janeiro.
No show, ao lado da voz e violão de Luis Carlinhos, a banda conta com João Viana (bateria), Marcos Suzano(percussão), Pedro Mangia(contrabaixo), João Gaspar (guitarra),Lui Coimbra (violoncielo). No repertório, além das músicas dos álbum, Carlinhos também canta Escapulário, Me cura, Oh! Chuva, Estranho amor, Lado B, Toró, Solto pelo ar, Carcaça.
No dia 13, os convidados especiais são o violinista Nicolas Krassik, o saxofonista Rodrigo Shá e a cantora de Silvia Machete.
“Mexer com clássicos não é tarefa fácil. As versões originais do Marley são praticamente intocáveis. Para fazer jus a gravá-las, mergulhei na minha história e nas minhas referências até chegar ao Bob versão Luis Carlinhos, um artista brasileiro, carioca, com múltiplas influências culturais e musicais”, explica Carlinhos, que continua: “Curiosamente, no ano em que me tornava pai do meu primogênito, homenageava aquele artista que mais me influenciou, uma espécie de pai na música para mim”, conclui.
Luis Carlinhos nos apresenta uma possibilidade de pensarmos a obra de Bob Marley a partir de novas lentes e filtros. Dentro de uma concepção fiel e original ao gênero, ele demonstra uma intimidade ímpar com a “gramática” do estilo. Vale destacar que desde o início de sua carreira solo, Luis Carlinhos se apropriou de um vasto campo de referências da música brasileira, todos presentes neste trabalho. Quem acompanha o artista ao longo desse tempo de estrada, certamente, verá a confluência entre estes dois momentos, formando aqui uma expressão bastante autoral, mesmo em um disco onde pela primeira vez, atua somente como intérprete.
A escolha de João Viana, baterista que tocou com grandes nomes da música brasileira e com a Medusas Dreads, banda contemporânea do Dread Lion, não poderia ser mais precisa para co-produção do trabalho. A partir do protagonismo dos violões criados por Luis Carlinhos, os dois convidaram nomes como Marcos Suzano (percussão), Frederico Puppi (violoncelo), Marcelo Caldi (acordeon), Rodrigo Shá (flauta), Nicolas Krassik (violino), Davi Moraes (banjo), entre outros músicos que já haviam colaborado com o artista carioca anteriormente, e que entenderam a proposta do disco com enorme sensibilidade.
A seleção do repertório, para além da relação afetiva de Luis Carlinhos com as canções, procurou dar conta de uma abrangência detemas que atravessam a obra de Bob Marley. Política, amor, festa, dança e espiritualidade surgem no disco como um mosaico que une os dois artistas.
O trabalho conta também com as participações especiais de Alexandre Carlo (Natiruts) na faixa “Real Situation”, da cantora Silvia Macheteem “Easy Skanking” e do Afroreggaeem “Três Lindas Flores”, versão em português para o clássico “Three Little Birds”.
Mais que tudo, “Luis Carlinhos Canta Bob Marley” é um trabalho que oferece ao público uma dupla experiência de fruição. Por um lado, toda memória afetiva e fundamental do reggae como um dos gêneros musicais mais importantes da música popular. Por outro, a marca forte, instigante e autoral de Luis Carlinhos que já conhecemos desde sua colaboração com Dread Lion, mas que se consolidou e se afirmou de forma definitiva a partir de Rapa da Panela, disco de sua estreia solo em 2003.
SERVIÇO SHOW
Lançamento do álbum “Luis Carlinhos canta Bob Marley”
Dias: 6 e 13 de Julho (quinta-feira)
Hora: 21h
Local: Solar de Botafogo – Rua General Polidoro, 180, Botafogo
Ingresso: 60,00 / meia: 30,00
Capacidade da casa, 180 pessoas.
Classificação: 18 anos
Tel: 2543-5411
**Participação especial de Silvia Machete, Nicolas KrassiK e Rodrigo Shá, no dia 13/07.
Faixa-a-faixa, por Luís Carlinhos:
- Rock it Baby – Apresenta de cara a estética do trabalho, de sonoridade acústica com violões, vozes naturais, contrabaixo, ukulelê, percussões e violoncelo, este último, do Federico Puppi que participa de mais três faixas. Tem uma roupagem tipo folk americano, só que com o meu violão nylon numa célula rítmica de baião, irmão do ragga jamaicano. A passagem natural dessa levada folk-baião para o reggae-roots antes do último refrão, mostra o quanto é possível e corajosa essa fusão. O tema da música, amor festivo, e o clima dela, permite ainda mais essa variação.
- Natural Mystic – Guiada pelos bordões do meu violão – por sinal o fio condutor de todo o álbum -, com uma base rítmica dedjambe, xequerê e caxixis do percussionista Léo Mucuri, tem o lindo acordeom de Marcelo Caldi, contraponteando a voz e passando pelo tema principal. Em uma referência ao próprio misticismo do título, ela é como um mantra em que as percussões, o baixo elétrico e os poucos efeitos vão entrando, criando camadas.
- Três lindas Flores – Versão em português para Three Little Birds que fiz com o Cláudio Agá, tem a flauta floreada de Rodrigo Sháe a participação do trio vocal feminino do grupo Afroreggae. Ter as meninas da comunidade de Vigário Geral, além de trazer a energia das The I Threes (cantoras do Bob), deu força simbólica à faixa. Bob Marley foi criado no gueto, e em algum momento teria de me deslocar para dentro dele.
- Waiting in vain – O violão, sozinho numa célula rítmica sambeada, toca com a base de percussão composta por vassourinha, molas e bongô de João Hermeto, e o contrabaixo acústico deLancaster Pinto, baixista de todo o álbum. Essa canção do Bob, umas das românticas mais famosas do seu repertório, soa aqui, cool, quase como um lento samba-jazz com o trompete deLeandro Joaquim. Os comentários de violão aço do João Gaspar, músicos que gravou ukulêlê em outras duas faixas, dão ainda mais delicadeza a esta versão.
- Who the cap fit – Tem a presença luxuosa do percussionista Marcos Suzano, que ao som de palmas derbak e cahon, faz desta faixa um dos pontos altos do álbum para mim; seu famoso pandeiro teve destaque ao lado do violoncelo de Puppi num especial que nos remete a uma trilha incidental, senão medieval. Todo o arranjo pulsa como se fosse de um reggae de raiz, mas sem soar nada óbvio pela ausência do tradicional “tchaca”. O fim, só com os batuques e comentários do baixo do Lancaster, me remete a um ritual nayabing de baixo de árvore.
- Easy skanking – Tem uma harmonia que aponta para um caminho mais soul, dançante como a própria letra diz. Os vocais sedutores da cantoraSilvia Machete, que brinca num jogo de resposta da minha voz, por vezes atua como um coro por outras uma solista. O teclado hammond, instrumento muito usado no reggae, pela primeira e única vez aparece no álbum pelas mãos de Carlos Trilha. A bateria de João Viana, que vem com um kit aveludado e compacto – três canais apenas -, ajuda a imprimir uma sonoridade bem especial à faixa.
- Soul shake down party – Interpretada em outros tempos, ao vivo, pela banda Dread Lion, ganha uma roupagem enxuta de um trio dançante de baixo acústico, bateria e violão, reforçado pelo naipe de trombones deMarlon Setter. Iniciei as gravações por esta faixa quando nem sabia que daí viria, de fato, um álbum. O violão e as vozes são guias que não pude deixar de usá-las como finais. O aproveitamento de vozes e violões caseiros se deu em outras faixas também, vai saber, é a mística da gravação.
- So much trouble in the world – Eu tinha que escolher ao menos uma canção do “Survive”, um dos meus álbuns preferidos do Bob. Com um arranjo que nos refrões beira um drum in bass, só que acústico, a faixa tem uma pegada pop, o belo violino do francêsNicolas Krassik – em pizzicatos e no arco -, que sola sobre a voz principal oitava abaixo e somada à outras vozes minhas em coro. Esse é um jogo típico teatral, de coro e corifeu, que faço comigo mesmo, e acontece em mais momentos do álbum.
- Real situation – Com uma mensagem política e reflexiva na letra, foi o primeiro single a ser lançado. Fiz um dueto vocal com Alexandre Carlo, parceiro meu dos tempos de quando oNatiruts se chamava Nativus, que foi registrado também em vídeo clipe. Surpreendente o timbre de voz que ele optou, suave. Convidei Davi Moraespara gravar um instrumento acústico, algo que soasse diferente. Foi quando ele surgiu no estúdio com um banjo, arrasou com um pica-pau e um solo arrebatador no fim, quando a música embarca numa onda africana conduzida por João Viana, Leo Mucurie Lancaster. Termina em fade out, o único entre nove faixas.