Tradição de mãos dadas com inovação: Estandarte de Ouro chega à 50ª Edição premiando destaques da Sapucaí
Por Redação
Desde 1972, premiação reconhece desfiles das escolas de samba. Edição especial publicada em O Globo e apresentada pela refinaria Refit relembra grandes marcos da história do carnaval carioca
Com a retomada do carnaval na Marquês de Sapucaí em 2022, o mais tradicional e importante prêmio que reconhece a celebração carioca famosa mundialmente chega a sua 50ª edição: o Estandarte de Ouro. Nesta quarta-feira, dia 20 de abril, O Globo publica um caderno especial, que registra tudo o que fez história na Marquês de Sapucaí desde o início da premiação. Além disso, no ambiente online, o jornal terá um infográfico interativo sobre o tema.
Criado em 1972 por um grupo de jornalistas do Globo fãs do carnaval, o Estandarte de Ouro já reconheceu grandes figuras históricas carnavalescas como Fernando Pamplona, Joãosinho Trinta, Paulo Barros, Rosa Magalhães e muitos outros, antes mesmo de serem premiados pelo júri oficial. E, ao longo dos anos, o prêmio sempre teve o compromisso de fazer justiça ao carnaval carioca. O inesquecível “Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia”, criado por Joãosinho Trinta e apresentado pela Beija-Flor em 1989, por exemplo, recebeu quatro prêmios do Estandarte, a começar por melhor escola, mas não foi vencedor pelo julgamento da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa). Independentemente de aspectos técnicos, o júri valoriza fatores como evolução, harmonia, empolgação, emoção e simpatia com o público, prestigiando escolas, sambas e enredos icônicos que muitas vezes não são reconhecidos oficialmente.
Algumas escolas que também foram prestigiadas apenas pelo Estandarte de Ouro foram: União da Ilha, 1977; Portela, 1979 e 1995; Mocidade, 1983 e 1999; Caprichosos de Pilares, 1985; Beija-Flor, 1986 e 2001; e Unidos da Tijuca, 2004.
Todos os anos, a escolha dos vencedores é feita por jurados especialistas em carnaval, que votam em todas as áreas e promovem debates e discussões acerca de cada quesito. Nesta edição, o júri, que já reuniu nomes importantes como Moacyr Luz, Nélson Pereira dos Santos e Ricardo Cravo Albin, será composto por Alberto Mussa, Angélica Ferrarez, Bruno Chateaubriand, Dorina, Felipe Ferreira, Haroldo Costa, Ju Barbosa, Leonardo Bruno, Luis Filipe de Lima, Luiz Antônio Simas, Marcelo de Mello, Maria Augusta, Odilon Costa e Rachel Valença.
Os vencedores da 50ª edição do Estandarte de Ouro serão revelados no dia 24 de abril e o evento de premiação será no dia 6 de maio, no Morro da Urca. A festa, realizada pelos jornais O Globo e Extra, com apresentação da Refinaria Refit e patrocínio de Invest.Rio, terá participação de Teresa Cristina com a apresentação do show “Um Sorriso Negro”. Os ingressos estão disponíveis no site.
São 18 categorias no total: escola, samba-enredo, bateria, enredo, Fernando Pamplona (uso de material barato com bom efeito visual), comissão de frente, mestre-sala, porta-bandeira, inovação, personalidade, revelação, ala, ala das baianas, puxador, ala de passistas e destaque do público, no Grupo Especial; na Série Ouro, escola e samba-enredo. No “destaque do público”, os internautas poderão votar a partir de uma seleção feita pelos sites do Extra e do GLOBO no domingo de manhã, após a última escola, elegendo um item de uma das 12 agremiações do Grupo Especial.
Tradicional sim, conservador nunca
Desde o início de sua história, o Estandarte de Ouro é o último a abandonar a tradição e o primeiro a aderir à inovação, sempre reconhecendo tendências e novas personalidades. O primeiro desfile vencedor na categoria “comunicação com o público”, a principal de 1972, ficou marcado justamente por isso. Naquele ano, o Império Serrano fugiu do estilo tradicional com o samba-enredo “Alô, alô, taí Carmen Miranda”, de letra curta, e teve como um dos maiores defensores o carnavalesco Fernando Pinto, sob o argumento de que a música funcionaria na avenida. Outro exemplo clássico de inovação foi Joãosinho Trinta, que em 1974 colocou destaques em cima dos carros alegóricos e rendeu ao Salgueiro os prêmios de melhor escola, enredo e fantasia.
Já em 1985, o júri deu a Fernando Pinto um prêmio extra, pela criatividade em “Ziriguidum 2001, um carnaval nas estrelas”. Fantasias e alegorias mostravam foliões, levados por naves espaciais, brincando nos planetas do sistema solar, e na ala das baianas, trocaram o uso de turbantes por capacetes. Dois anos depois, Pinto também ganhou o prêmio de melhor enredo com “Tupinicópolis”, uma metrópole indígena em que os habitantes faziam compras no Shopping Boitatá, iam à Boate Saci e andavam de patins, com uma visão irônica e bem-humorada da integração das tribos à vida moderna.
Grandes vencedores, personalidades, prêmio póstumo
O Império Serrano foi a primeira escola a ter o privilégio de levar o prêmio, em 1972, na principal categoria da época, chamada de “comunicação com o público”. Já na categoria melhor escola, criada em 1973, a mais premiada de todas as edições é a Mangueira, que levou nove troféus, seguida do Salgueiro, com oito troféus.
As personalidades premiadas são inúmeras, mas ganham um destaque especial as que tiveram a honra de levar o troféu ainda crianças. Em 1990, Flávio Miranda, de 10 anos, da Unidos da Tijuca, e, em 1992, Aline Caetano, também de 10 anos, do Salgueiro, ganharam na categoria revelação. Já a pessoa mais velha a receber o prêmio foi Vó Lucíola, da Mangueira, que em 2005 foi ganhadora na categoria personalidade aos 105 anos, após seu desfile na comissão de frente, em uma cadeira de rodas.
Além destes, o Estandarte de Ouro também já teve prêmios póstumos, provando que o reconhecimento de grandes personalidades é atemporal. Considerado o maior compositor de samba-enredo de todos os tempos, Silas de Oliveira foi a única pessoa a ganhar o prêmio, em 1973, um ano após a sua morte. “Aquarela brasileira”, sua obra-prima, composta para o carnaval de 1964, foi reeditada em 2004 pela verde e branco da Serrinha e ganhou o prêmio de melhor samba-enredo.
Ainda, uma das juradas da edição deste ano também já foi por muitas vezes vencedora do Estandarte. Formada pela Escola de Belas Artes da UFRJ, Maria Augusta é discípula de Fernando Pamplona, professor que levou vários de seus alunos da universidade para o carnaval. Passou pelo Salgueiro, onde assinou, em coautoria, carnavais campeões, como “Festa para um rei negro”, mais conhecido como “Pega no ganzê”, em 1971; e “O rei de França na Ilha da Assombração”, em 1974. Em 1977, a União da Ilha garantiu o prêmio de melhor escola, com o trabalho solo de Maria Augusta, “Domingo”. Já em 2012, integrou a comissão de frente da União da Ilha, que ganhou o Estandarte de Ouro.
Créditos das imagens:
Desfile da Escola de Samba “Beija-Flor de Nilópolis”, com o enredo “Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia”
(Créditos: Ricardo Leoni)
Arlindo Rodrigues, criador de figurinos da Mocidade, recebeu o Estandarte de melhor fantasia em 1975
(Créditos: José Vidal)
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