SÉRIE A – 04 DE SÁBADO (10/02) – ACADÊMICOS DA ROCINHA
Por Gilvan Lopes e Anderson Lopes
Fotos Mariana Barcellos, Marcelo Faria e Adriano Monteiro
Produção Adriano Monteiro
Suporte remoto: Julia Fernandes e Jack Costa
Márcio André, Diretor de Carnaval da GRES Acadêmicos da Rocinha falou ao Portal Sambrasil: “Apesar das agruras que passamos: com corte de subvenção, com a própria violência na comunidade da Rocinha que nos impediu de desenvolver um trabalho bacana que idealizávamos fazer, enfim com tudo; a escola vem firme, pra fazer um desfile digno, sem ostentação, mas correto, essa é a visão do Presidente e, é claro, de toda sua diretoria a qual eu faço parte.”.
O Coreógrafo da Comissão de Frente da agremiação, Hélio Bejani, que divide os créditos do trabalho com Beth Bejani, falou da importância de se reinventar para fazer o carnaval acontecer: “Todas as escolas precisaram reconfigurar suas idéias para colocar seus carnavais na rua, independente do Grupo: os de Acesso; o Especial, todas sofreram muito, e conosco não foi diferente, fui ao barracão eacompanhei as dificuldades; até por isso estou feliz em ver a minha Comissão de Frente pronta, bem vestida, e bem ensaiada, vamos proporcionar um grande show para o público
CARNAVAL 2018
SINOPSE
Enredo: Madeira Matriz
Autor: M. Ferreira.
Pelas campinas sob o vento quente do agreste pernambucano. Céu esculpido por baixas nuvens emoldura muros xilogravados de histórias vividas na memória de populares. A pequena São José dos Bezerros, entrelaçada por animais passantes, eterniza em desenhos a sua história em preto e branco. Passa seus ensinamentos a mãos de seus filhos de fibra. Chão de inúmeros artistas que preenchem paredes vazias com suas lições. Luzir da criação!
Trato o taco de umburana, vindo de Caruaru. Corto com um formão, cavo com uma goivinha e risco com um buril (meio troncho). Traço em matriz a “xilogravida” de um matuto que deu certo por esse mundo afora.
De reinos baianos, os primeiros símbolos gravados em cartas de jogar, ato perpetuado na feira ecológica da minha Bezerrinhos. Penduricalhos. Barracaria: palhaços-vendedores com balões; frutas nordestinas exalando doce-mel; gaiolas repletas de galinhas e cabrinhas; piões esculpidos em louro-canela; o colorido rubro-terroso da cerâmica dos grandes mestres do Alto do Moura, mesmo barro que tinge águas margeantes do Ipojuca. A gritaria dos folheteiros em barracas de cordel estampadas com o tempo de nossa não fácil vida.
Esboço a aridez do chão em tapete verde que resiste e adoça a vida em cor. Florir da palma, meio a seca castigada pelo Monstro do Sertão, nosso alimento em tempos árduos… Mesmas mãos de arte na lida colheita da cana, da quebra do milho, na acolhida aos ovos frescos da manhã ou no afago do algodão. A mula traceja um caminhar de caçuás repletos de girassol-flor e rosas da linda donzela sertaneja. Findo à tarde. Vejo distante pés ao chão e a vida na cabeça, são muitos fujindo (com j mesmo) da terra seca… Solitária, ao alto, acompanha-os: Asa Branca.
Primeiras estrelinhas raiadas ao fundo, em azul tênue do céu. Valei-me meu querido Juazeiro do Norte! Sigo o aviso de Frei Damião: ser um bom romeiro a tantas santidades católicas por mim gravadas, em especial São José, nosso padroeiro protetor. A São Francisco, proteja-me às passaradas. A São Jorge, não me vença os dragões. A Padim Ciço, os primeiros pingos de esperança. Fé e picardia não podem faltar! O diabo e a mulher andam de mãos dadas. A prostituta boa, quem diria, barganhou com charme sua vaga aos céus. O carcará em voo perpétuo sobrevoa o bando de Lampião que, ao chegar ao inferno, avista o casamento de seu supremo maior: Anjo-Mau.
Areal iluminado por linhas tracejantes de gambiarras, pequenos pontos de luz. Ouço a rude batucada e cânticos de louvor a Xangô na fina areia do agreste. Devagar. Brejeiros, os primeiros acordes do pífano rural no forró da Serra Negra. Ordeno o som da embolada para as donzelas do Coco e Ciranda. Nas cheganças, lindo cortejo de fitas e flores franzidas no balancê do Bumba-meu-boi e Cavalo-marinho. Passo cruzado, brilhante perucaria da corte do Maracatu Rural. Nas pequenas sacadas, Papangus comem xerém ao som do frevo e cantoria. Os hômi se esconde das muié na sua rouparia. Baile armado: compasso minha alegria!
Escavo a minha inspiração e moldo a máscara em papel colè. Marco o debrum negro de formas aladas. Pingo antenas com auréola. Faço uma fúlia (digo folia) com a borboleta encantada, pedacinho do meu Agreste… Pincelo o verde, azul e deixo o branco como base. Entalho, assim, essa história e a minha história, Rocinha!
De tema: Madeira Matriz. Preparo a tinta gráfica. Prenso. Penduro.
Finco na barrinha: J. Borges.
Vocabulário Matuto:
Alto do Moura – Município de Caruaru.
Anjo-Mau – A figura demônio, satanás, diabo.
Barracaria – Muitas barracas, termo coloquial.
Buril – Prego de improviso.
Caçuá – Cuia de cipó da mula.
Campinas – Espaço terrestre do Agreste com pouca vegetação.
Formão – Objeto cortante de mão.
Goivinha – Faca de improviso.
Ipojuca – Rio que corta o Agreste Pernambucano.
Louro-canela – Madeira leve.
Palma – Cacto do Agreste.
Serra Negra – Localidade festiva de Bezerros.
Umburana – Madeira nobre utilizada na xilogravura.
Xangô – Candomblé do Agreste pernambucano.
Joel – in memoriam, Nena, J. Miguel, Manassés, Ivan, Givanildo, Pablo e Bacaro
(Clã Borges)
Severino Pedro e Fernando Acrízio
(Consultoria Cultural – Secretaria de Cultura de Bezerros)
Prof. Henrique Pessoa
(Consultoria e Revisão Textual)
Gustavo Melo e Prof. Gilmar de Carvalho
(Título)
SAMBA ENREDO:
Compositores: Márcio André, Marquinhos do Armazém, Amaury Cardoso, Ronaldo Nunes, Rafael Prates, JR Vidigal, Flavinho Segal e Anderson Benson
Intérprete: Leléu
LETRA:
Um olhar acende a luz da inspiração
Vem ilustrar em preto e branco o meu agreste
No taco da umburana, a matriz traçou
A xilogravura de um matuto sonhador
Os muros vão retratar a lida de sua gente
Nas feiras, nuvens de balões
Folheteiros de ilusões, doces, frutas e piões (bis)
O barro é ouro às margens do Ipojuca
Floriu da palma o alimento desta luta
Contra o monstro do sertão (bis)
Seca danada como esta ninguém viu
“Vamo” simbora que asa branca já partiu
Meu padim faz chover, São Jorge não vença o dragão
Quem carrega a fé pra valer, vai seguindo a procissão
Estrelinhas lá no céu alumiam Bezerros
É São José padroeiro (bis)
Qual “muié” pôs o cão na garrafa?
Quem viu casar Lampião?
É o pecado e a graça nestes causos do sertão
Tem batuque pra Xangô no pé da serra
Maracatu, bumba meu boi, papangu da minha terra
Nessa ciranda todo mundo vai chegar
Este cortejo tem frevo e cantoria
Fiz de papel colè as máscaras desta “fulia”
Vem, que a Rocinha chegou, é nosso caso de amor
Deixa a borboleta te encantar… (bis)
Chora, viola, a minha história vai emocionar
FICHA TÉCNICA
Presidente: Ronaldo Oliveira
Carnavalesco: Marcus Ferreira
Diretor de Carnaval: Márcio André
Diretor Geral de Harmonia:
Intérprete: Leléu
Comissão de Frente: Hélio Bejani e Beth Bejani
Mestre de Bateria: Júnior
Rainha de Bateria: Mônika Nascimento
1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: David Sabiá e Thainá Teixeira
2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Vinícius de Jesus e Viviane Oliveira