Sambista Riachão, morre aos 98 anos em Salvador
Por redação
Morreu de causas naturais em Salvador, na madrugada desta segunda-feira (30), Clementino Rodrigues, o sambista Riachão. Ele tinha 98 anos.
Segundo a família, o sambista sentiu dores no abdômen no domingo (29) e precisou de atendimento médico. Ele foi medicado e depois dormiu. A morte de Riachão só foi descoberta pela manhã, quando os familiares foram ver como ele estava.
“Ele sentiu uma dor. Então, ele foi medicado e sentiu alívio, uma estabilizada. Ele então foi dormir. Eu estava presente. Quando foi [nesta] madrugada, ele veio a falecer. Faleceu dormindo”, disse Milton Gonçalves Souza Júnior, neto do sambista.
Ainda de acordo com a família, a previsão é que o enterro ocorra no Cemitério Campo Santo, no bairro da Federação, em Salvador, por volta das 16h desta segunda. O velório será acompanhado apenas pela família por causa de decretos que proíbem aglomeração de pessoas como medida ao novo coronavírus.
“A gente está recebendo muita mensagem de carinho. O corpo já foi encaminhado para o Campo Santo. Por causa de decretos em função do coronavírus, será possível apenas 10 pessoas na sala. Mas as pessoas poderão se despedir do mestre [espalhadas pelo cemitério]”, disse.
O neto do sambista disse ainda sobre a importância do avô e pontuou que a morte dele é uma grande perda para a música.
“É uma perda lamentável. Fica a memória, a alegria do nosso sambista, do meu avô. Foram 98 anos de muita alegria, muita música. Vai deixar saudade. Grande perda para a nossa música”, afirmou Milton Júnior.
Riachão Luto: Relembre a trajetória do sambista Riachão, que morreu nesta segunda, em Salvador AQUI
Nascido no bairro do Garcia, na capital baiana, em 14 de novembro de 1921, Clementino Rodrigues era o caçula de uma família de 16 filhos.
Ainda na infância assumiu uma nova identidade, que levaria pelo resto da vida. Aos nove anos, o filho da lavadeira e do carroceiro já fazia som batucando nas latas que usava para buscar água.
Riachão, que se tornou um dos mais importantes sambistas do país, compôs a primeira canção aos 12 anos. O que começou como improviso, o levou até um estúdio de gravação, no Rio de Janeiro, em plena era de ouro do rádio, nos anos 1950.
Um dos seus maiores sucessos “Cada Macaco no seu Galho”, nasceu de um golpe que levou quando tentou montar um negócio no Garcia. A canção, que é uma das mais famosas do músico, foi lançada em 1972 nas vozes de Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Além disso, Riachão é compositor de sambas como “Vá morar com o diabo”, apresentado em disco em 2000, em dueto dele com Caetano, mas popularizado no ano seguinte com a gravação feita pela cantora Cássia Eller (1962 – 2001) para o álbum e DVD ao vivo da série Acústico MTV.
Lenço no pescoço, anéis, chapéu de feltro, um lenço no bolso e a inseparável toalhinha: Riachão é uma figura marcante no imaginário de Salvador.
A partir de Riachão, vieram tantos outros sambistas, alguns dos quais seriam seus parceiros de verso, como Batatinha e Panela. Outro artista consagrado que gravou Riachão foi Jackson do Pandeiro. O sambista baiano gravou o primeiro CD aos 80 anos.
Durante a carreira, o sambista fez participação no filme “Os Pastores da Noite”, do francês Marcel Camus, baseado na obra homônima de Jorge Amado. RELEMBRA A ENTREVISTA AQUI
Grande figura do bairro do Garcia, o artista também foi homenageado, em 2014, pela “Mudança do Garcia”. Um ano depois, em 2015, o circuito “Mudança do Garcia” mudou de nome e passou a ser chamado oficialmente de “Riachão”.
Já no mês passado, o sambista participou do carnaval no circuito que leva seu nome. Riachão, um dos mais antigos e principais sambistas da Bahia, na Mudança do Garcia nesta segunda-feira (24), em Salvador — Foto: Enaldo Pinto/Ag Haack
Para este ano, ele planejava lançar o álbum “Se Deus quiser eu vou chegar aos 100”, com repertório inédito e autoral. Este seria o primeiro disco de Riachão desde “Mundão de Ouro”, lançado em 2013.
Martinho da Vila também lamentou a morte do sambista Riachão.
“Foi um dos mais importantes compositores baianos. Compôs muitos sambas curtos, como fazia seu conterrâneo Dorival Caymmi, com quem vai se encontrar no céu.Partiu para o além antes do que sua gente queria, mas a alegria dos seus sambas fica conosco. Foram 98 anos de vivência.⠀ Valeu Riachão”, publicou.
A Secretaria de Cultura da Bahia (Secult) emitiu uma nota de pesar, divulgada no site oficial. Na publicação, a Secult manifestou solidariedade ao samba brasileiro, que “perde hoje um dos seus maiores bambas, e aos familiares do cantor e compositor Clementino Rodrigues, o nosso eterno Riachão”.