Rio Negro, 50 – Romance de Nei Lopes
Por Marcelo Faria
O título do livro faz referência ao ponto central da narrativa, o Café e Bar Rio Negro, local fictício criado por Nei Lopes onde a maior parte da história acontece, onde militantes e boêmios se encontram para discutir política, criar seus sambas e trabalhos artísticos, se mobilizar enquanto militantes. O Portal Sambrasil traz mais uma excelente dica de leitura, assim segue a narrativa do livro.
Um bar onde, na melhor tradição carioca, se debate de tudo um pouco, se conta causos, se fala de política, da cidade, agita a cena cultural, enfim, um típico bar do Rio de Janeiro. O romance é contado como uma conversa de bar, pequenas historias que se juntam montando um panorama amplo da vida dos negros no Brasil da década de 1950. Um período especialmente rico no Rio. É a década de Copa do Mundo no Brasil, do suicídio de Getúlio Vargas, do inicio da tv no país, o inicio da Bossa Nova, uma década de mudanças. No Rio Negro se reúnem os negros e mulatos da cidade, a mesa que acompanhamos é formada por personagens fictícios que se misturam com personagens históricos e vão mostrando esse panorama do Brasil nos anos de 1950.
O livro não é um romance que acompanha um personagem com uma trajetória especifica, Nei Lopes pega o leitor pela mão e entre uma conversa de mesa de bar e outra vai mostrando como o samba saiu dos morros e ganhou o asfalto, como a política brasileira afetava a vida do homem comum e, principalmente, fala sobre a cultura negra. Esse é, de longe, o aspecto mais interessante da obra de Nei Lopes, falar da cultura negra no Brasil. Explica sem explicar muito as religiões afro-brasileiras e a sua luta para continuar existindo, o triste é que os ataques que eles mostra que existiam no meio do século passado continuam existindo e nós brasileiros deixamos de conhecer e compreender essas religiões tão importantes na nossa formação. Duvida que elas são importantes para todos? Você passa o ano novo vestido de branco? Pula umas ondas e coloca umas flores no mar?
O tema principal do livro é o preconceito racial e como ele é veladamente explicito no Brasil. As pequenas historias desse mosaico que Nei Lopes nos apresenta são todas unidas pelos preconceitos vividos pelos negros e mulatos sejam eles seus personagens fictícios ou nomes importantes como Abdias do Nascimento. Os dialogo sobre preconceito no Brasil são tão atuais que deixam o leitor com uma certa vergonha de pouco ter sido mudado mais de 50 anos depois.
Mas, o diferencial dessa obra é que tanto os locais, quanto os personagens, quanto os acontecimentos estão diretamente ligados aos negros e suas culturas, em geral subjugadas. Nestes momentos vividos no Rio Negro e no Abará (outro bar frequentado, na sua maioria por negros) podemos perceber como algumas falas reforçam quão real e prejudicial é o racismo.
Ficha técnica:
Título / Título Original: Rio Negro, 50
Autor(a): Nei Lopes
Editora: Record
Edição: 2015 (1ª)
Ano da obra / Copyright: 2015
Páginas: 288
Sinopse: Um romance passado no Rio nos anos 50, em plena afirmação do negro na sociedade. As histórias – pois são muitas as vidas que se cruzam neste romance – começam no dia 17 de julho de 1950, quando a derrota do escrete brasileiro na Copa do Mundo motiva um assassinato absurdo, de fortes conotações racistas. O crime é discutido na roda do Café e Bar Rio Negro, epicentro da vida intelectual dos “homens de cor” na Capital da República, e onde somos apresentados a fascinantes personagens. A partir desse microcosmo da então capital da República, em que personagens da história brasileira, como Dolores Duran e Abdias Nascimento, se cruzam nas deliciosas criações ficcionais de Nei Lopes, percorremos uma década decisiva da cidade do Rio de Janeiro e da afirmação da cultura afro-brasileira.