O GRES Unidos da Ponte foi a segunda escola da Série Ouro a entrar na Sapucaí

Colaboração: Edson Santos e Miriam Oliveira
Conteúdo: Júlia Fernandes
Suporte Backend: Jaqueline Costa
Ficha Técnica:
Data de fundação: 08 de março de 1978
Cores: Vermelho e branco
Símbolo: Tigre
Presidente de Honra: Fabio Montibelo
Presidente: Fabricio Montibelo
Vice-Presidente Administrativa: Francine Montibelo
Diretor de Carnaval: Aluízio Mendonça
Rainha da Escola: Nicilda da Silva
Carnavalesco: Mauro Quintaes
Enredista: Diego Araújo
Direção Geral de Harmonia: Amauri de Oliveira e Luiz Borges
Intérprete: Wantuir de Oliveira
Mestre de Bateria: Mestre Pablo
Rainha de Bateria: Andrea de Andrade
Coreógrafo de Comissão de Frente: Júnior Scapin
1º Casal de mestre-sala e porta-bandeira: Rodrigo França e Pietra Brum
2º Casal de mestre-sala e porta-bandeira: Johny Matos e Joyce Santos
Diretor Cultural: Paulo Freitas
Responsável pela Velha Guarda: Adália Gomes
Coordenador da Ala de Passistas: Giliard Pinheiro
Responsável pela Ala das Baianas: Cleber Segundo
Responsável pelo Departamento Feminino: Adiara Pereira
Presidente da Ala dos Compositores: Fernando Macaco
Responsáveis pelo Atelier: Anderson Dantas
Secretaria: Vanessa Azevedo
Departamento de Comunicação: Joice Hurtado e Rodrigo CardosoCarnavalesco: Mauro
Quintaes
Enredista: Diego Araújo
'A história que a borracha do tempo não apagou"
Justificativa do Enredo
O Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos do Porto da Pedra descortina ao grande público
do carnaval mais um capítulo da história do nosso país, e honrosamente, apresenta seu enredo
para o Carnaval 2025. O pavilhão vermelho e branco encontrou na vastidão da Amazônia uma
história que vaga entre a utopia e a realidade. Segundo Octávio Ianni, “muito do que se diz
sobre a Amazônia, em prosa e verso, nas mais diversas línguas, expressa a ilusão do outro
mundo”. Desta forma nos deparamos entre o possível e o insólito que forjaram Fordlândia, o
projeto de Henry Ford para construir uma cidade operária na Amazônia para plantio de
seringueiras, extração de látex e produção de borracha.
Fordlândia foi apresentada para muitos como a promessa de uma nova vida, a redenção que
acendia nos corações um lampejo de esperança. A verdade é que parte da floresta que
transformaria vidas tornou-se uma máquina de lucro e progresso de poucos, e para a grande
maioria, desesperança e agonia.
Tudo isto está registrado nos livros de história, mas, não queremos replicar o cartesiano,
queremos ouvir as vozes da mata. Fordlândia foi instalada no Vale do Rio Tapajós, região
ancestralmente conhecida como Mundurukânia, por isso, serão os Munduruku a nos conduzir
por essa história, que na verdade, é um exemplo das inúmeras tentativas de invasão,
vilipêndio e cobiça das riquezas que a Amazônia guarda.
Que essa história inspire você que está lendo a lutar pela Amazônia e por quem nela habita,
para quem sabe então, o mundo compreenda a sua real importância, distante da visão
imaginária e exótica que ainda paira sobre ela. A floresta-mãe, inexorável ao tempo dos que
não lhe conhecem, está de pé e pronta para a retomada da grande Mundurukânia.
Esta é a “História Que a Borracha do Tempo Não Apagou”,
Nós somos ponta de lança, paixão e orgulho de São Gonçalo.
Vamos à luta!
Sinopse:
“Munduruku é a flecha
Munduruku, as estrelas
Munduruku são os ventos
A brisa das manhãs
Munduruku são as guerras
Munduruku é a terra
Munduruku são as crenças
E o sol que brilha no norte…”
Nós somos Munduruku! Você escuta a nossa voz? Nossa história não começa agora, mas você
precisa saber…
De Karusakaibê herdamos a beligerância que nos fez “paiksés”. Tapajós! Onde ficamos as
nossas raízes, no fundo das matas e profundo das águas. Somos brado da grande
“Mundurukânia”, guerreiros implacáveis, arcos e flechas temidos. Pele pintada de jenipapo,
alma vermelha feito brasa, incandescente, formiga-de-fogo.
As mães espirituais ensinaram: corpo e floresta são um só. Os “pariwat” que cobiçam a
Amazônia nunca entenderam isso. Repare! No espelho d’água enxergam somente eles nas
dimensões concretas do seu mundo que cada vez mais perde a beleza das cores na íris da
verdade.
“Tapajós, Madeira
Antes minha morada
Agora repousa no fundo das águas
Memórias antigas de tempos bravios…”
Foi assim que invadiram o nosso território. Sim, invadiram! Com suas barcaças, maquinários,
titãs de ferro com olhos de fogo. Transformaram o cipó em engrenagens, a cobra grande em
linha de montagem, a copa das árvores e o velho tapiri em barracões de metal. O que fizeram
com o nosso lugar? Não era mais Mundurukânia, eles diziam: Bem-vindos à Fordlândia!
Eis a floresta da borracha, o símbolo da sanha de riqueza! Que atraiu rapinas da cobiça de um
norte diferente do nosso. Tantos outros do Nordeste, feito arigós fazendo arribação, e
caboclos dos beiradões como sabiás que já sabiam onde se aninhar. Vieram todos atraídos
pela promessa de uma nova vida afirmada no papel: prosperidade e felicidade! Eles só não
sabiam a verdade!
Pelos rios, estradas da vida amazônica, viajaram famílias e bagagens ao encontro de uma
realidade diferente. O canto dos pássaros era o apito da produção, o calor das fogueiras era o
abrasar das fornalhas. No coração da mata acenderam-se luzes estranhas para poucos,
enquanto a poronga alumiava os (des)caminhos de muitos nos seringais.
Os relógios giravam e não havia minuto a perder. Alucinava, atordoava, a sede de lucro e a
fome de progresso alimentavam o metal-capital calando as vozes da floresta enquanto os
batalhões de trabalhadores se alimentavam de enlatados estranhos mais duros que casco de
tracajá. Fartura? Somente de dívidas para essa gente que sentia falta do seu peixe com farinha.
Era tudo tão confuso! Alteraram o curso do rio e a vida daquelas pessoas, eram um Brazil com
Z que ninguém conhecia. Foi o estopim da revolta! Onde estava a felicidade? Cadê a
prosperidade? Até mesmo a floresta não reconhecia aquelas árvores enfileiradas e não
conseguia se defender do mal-das-folhas. Tramas do inimaginável, luzes se apagavam em
prenúncio de falência. As pegadas formavam rastros da caminhada no sentido contrário do
que um dia imaginou-se encontrar na vastidão da Amazônia.
“No murmúrio das águas
No lamento das almas
No mistério da mata
O clamor deste rio…”
O tempo, que nunca foi nosso inimigo, passou sereno feito o vento entre as folhas. Para quem
nunca entendeu a floresta, ou sequer a conheceu, ele tornou-se algoz dos pesadelos que
corroem as mentes e o metal erguido nas sombras da velha cidade. Fordlândia lentamente se
esvaziava de tudo que um dia lhe deu formas: sonhos, vontades e perspectivas.
Ainda estamos aqui! Contando para vocês o que os velhos nos contaram na vida e nos sonhos.
O que o mistério dos pajés revelou no poder das ervas e na fumaça do tauari: resgatem a
grande Mundurukânia! Desenterrem as raízes, resistam. A luta agora é contra o garimpo que
assoreia e contamina o Tapajós na busca insana do ouro. E que as lágrimas derramadas afluam
feito o Juruena fazendo resistir nossa esmeralda das águas que fora enlameada pelos absurdos
humanos.
Somos a força dos clãs! O encarnado e o branco que marcam a nossa identidade. Etnia,
valentia e os nossos pés marcam o pulsar do coração da Amazônia, a mãe de todas as coisas.
Permaneceremos trançando saberes milenares com a fibra das palhas, enfeitaremos as
cabeças para mais quinhentas luas iluminarem os nossos diademas e vocês saberem que antes
do Brasil da coroa, existe um Brasil do cocar de asas abertas para a eternidade.
Nos teus livros de história, Fordlândia é um capítulo esquecido. Mas, alguém lembrou de nós
e, se temos voz, queremos ser ouvidos! Irmanados aos nossos parentes Apiaká, Borari,
Maytapu, Avá-Canoeiro, Arapium e Arara Vermelha. Tupinambá, Cumaruara, Jaraqui, Tapajó e
Tupaio. Por nossa gente do Tapajós, por nossas terras, por nossos lugares.
Estamos aqui! Punhos erguidos e braços dados com os caboclos da Amazônia! Para vocês não
esquecerem da luta de cada seringueiro que pisou em Fordlândia. Para não serem apenas
dados, e principalmente, para quem ficou, não ser apenas parte da história encrostada no
velho metal corroído que paira adormecido no embaraço da mata.
Nós estaremos sempre aqui! Ensinando nossos curumins e cunhatãs a flecharem os peitos
inflados de cobiça! Para que eles saibam que o único marco temporal que existe são as marcas
dos nossos pés nesta terra e as cicatrizes da luta que carregamos em nosso corpo e nosso
espírito. Nós não temos o tempo dos pariwat e borracha alguma vai apagar o que escrevemos
hoje para vocês. Somos vozes indígenas, somos vozes caboclas, estamos vivos no rugir da
grande fera…
Nós somos a Amazônia! Você escutou a nossa voz?
“Filho da selva perdido no tempo
Filho da guerra, na terra do sol
Filho da pátria tingida de sangue
Filho do povo guerreiro Brasil”
Samba Enredo 2025:
'A história que a borracha do tempo não apagou"
Compositores: Guga Martins / Passos Júnior / Gustavo Clarão / Cristiano Teles / Cadu Cardoso
/ Wendel Uchoa / Abílio Jr. / Marcelo Moraes / Tangerina / Marquinho Paloma / Leandro
Gaúcho / Ailson Picanço.
Letra:
Munduruku
É o Sol que brilha lá no Norte, a nossa voz
Vento que sopra pelo Rio Tapajós
É o som da mata que ecoa na raiz
Atiro a ponta da minha flecha
Mirando em seu peito e na sua ambição
Meu velho, não esqueça que a floresta
Não se rende feito os donos da nação
Barcaça vai trazer
Os ferros que erguem a cidade arredia
Confundem engrenagem com sabedoria
Ignorando os segredos do lugar
Barcaça vai levar
Meu ouro branco, rasgado em seringais
A esperança é deixada pelo cais
Pra quem um dia só queria sonhar
Ê caboclo de bubuia, quero ver! Quero ver!
Quem vai acordar antes do amanhecer?
No ribeirão, vá buscar tracajá!
Não tem capitão se meu povo zangar!
Deixa que o canto já ecoou
Quando toda fumaça se dissipou
Eaê aê, nossa luta não dá pra comprar
Eaê aê, Amazonia resistirá
Em cada voz do Juruena
Transformada em poema num antigo ritual
Não temos o tempo dos pariwá
Borracha nenhuma pode apagar
A nossa história!
A nossa gente!
Meu carnaval!
Vermelho urukum! O tigre de guerra!
Não se esconda quando eu voltar
Eu sou orgulho e paixão
Bem mais que um pavilhão
A força que faz esse povo lutar