Neguinho da Beija-Flor lança o CD Sambas Memoráveis – Anos 60
Por Redação
Prestes a completar 44 anos de Avenida, o cantor e compositor Neguinho da Beija-Flor está realizando um sonho antigo: colocar voz em alguns dos sambas históricos de antigos carnavais de muitas escolas. O projeto Sambas Memoráveis, com 12 obras que se destacaram nos anos 1960, será o primeiro de uma trilogia e estará à disposição dos apaixonados por sambas-enredo neste sábado, 15 de fevereiro, nas plataformas digitais.
É o primeiro trabalho de Neguinho voltado exclusivamente para serviços de streaming. O repertório foi escolhido pelo artista em parceria com integrantes do Doentes da Sapucaí, grupo paulistano formado por admiradores de sambas-enredo do Carnaval carioca, que também cuidou da produção.
Em Sambas Memoráveis – Anos 60, a única composição que não faz parte daquela década é Cânticos à Natureza, de Nelson Sargento, Jamelão e Alfredo Português, que a Mangueira cantou no desfile de 1955. As demais obras são: Rio, capital eterna do samba (Walter Rosa, Portela, 1960); Seca no Nordeste (Gilberto Andrade e Waldir de Oliveira, Tupy de Brás de Pina, 1961); Dia do Fico, (Cabana, Beija-Flor de Nilópolis, 1962); Chica da Silva (Anescarzinho e Noel Rosa de Oliveira, Salgueiro, 1963); Aquarela Brasileira (Silas de Oliveira, Império Serrano, 1964); Cinco Bailes da História do Rio (Silas De Oliveira, Ivone Lara e Bacalhau, Império Serrano, 1965); Mundo Encantado de Monteiro Lobato (Jurandir, Batista, Darcy da Mangueira, Helio Turco e Luiz, Mangueira, 1967); Sublime Pergaminho (Carlinhos Madrugada, Nilton Russo e Zeca Melodia, Unidos de Lucas, 1968); Heróis da Liberdade (Silas de Oliveira, Mano Décio e Manoel Ferreira, Império Serrano, 1969); Bahia de Todos os Deuses (Bala e Manuel Rosa, Salgueiro, 1969); e Yayá do Cais Dourado (Martinho da Vila e Rodolfo, Vila Isabel, 1969).
Das 12 faixas do disco, apenas uma é anterior à década de 60. Por que dessa escolha?
Eu era criança, tinha uns 6 anos, e me lembro bem das pessoas entoando “Cânticos da natureza” (Mangueira 1955). Foi quando comecei a me interessar por samba-enredo. Nessa época eu morava no bairro Nova América, em Nova Iguaçu, não tínhamos luz elétrica, banheiro, nada em casa. Meu pai era músico e, já na adolescência, eu inventava alguns sambinhas. No quartel, uma pessoa me disse: “Quer dizer que você é compositor?” Mas, para mim, era inventor de samba. Ali descobri o que era ser compositor.
Quando foi seu primeiro contato com uma escola de samba? Foi nesse período?
A primeira vez que fui a uma quadra eu tinha 18 anos. Era a final de samba de “Mundo encantado de Monteiro Lobato” (Mangueira 1967), vencida pela composição de Jurandir, Batista, Darcy da Mangueira, Helio Turco e Luiz. Já no ano seguinte, veio Sublime Pergaminho (Unidos de Lucas), outro clássico. Era uma época incrível. Os dois sambas estão no meu disco. É um resgate para mostrar aos jovens de hoje como se fazia obras maravilhosas sem ganhar nada.
Você conheceu os grandes compositores dessa época?
Não conheci o Silas de Oliveira pessoalmente. Nessa época eu estava ensaiando entrar no mundo do samba. Ele morreu logo. Vi o Cartola e o Carlos Cachaça só uma vez. Alguns dos sambas dessa época eu só ouvi bem depois, como Seca no Nordeste (Tupy de Brás de Pina 1961).
Seu primeiro samba, como cantor e compositor na Beija-Flor, foi em 1976. Hoje, sua voz é considerada uma das mais marcantes da história do carnaval. Como encara isso?
Ser compositor não dava dinheiro. Eu dei sorte, porque tenho rinite alérgica, fazia nebulizações constantemente, e tenho essa rouquidão. Se dizem que a minha voz é marcante para a história do carnaval, fico feliz. Mas, para mim, Jamelão é o chapa, o incomparável.
Este é seu primeiro disco lançado apenas nas plataformas digitais. Por que da decisão?
Para alcançar os jovens. É o que a garotada está ouvindo. Além disso, muitas vezes, é difícil encontrar alguns desses sambas nas plataformas de streaming. Espero que as pessoas gostem.
Projeto
Voz oficial da Beija-Flor, compositor de seis sambas-enredo que a escola de Nilópolis levou para a Avenida (1976, 1978, 1981, 1983, 1984, 1992) e autor de sucessos como O campeão (Domingo, eu vou ao Maracanã …), A Deusa da Passarela, Malandro é malandro, mané é mané, Bem melhor que você e Gamação Danada, com Amir Guineto, entre outros, Neguinho da Beija-Flor lamenta que, nos últimos anos, nenhuma obra cantada no Sambódromo carioca tenha se transformado em clássico, caído na boca do povo e ultrapassado o universo restrito aos sambistas.
O cantor defende a história do estilo. “Não acho que isso aconteça necessariamente porque a qualidade dos sambas mais recentes seja inferior à dos sambas mais antigos. O espaço pro samba-enredo é que tá ficando cada vez menor nas tevês e nas rádios, perdendo pro sertanejo, pro funk …. Mas, claro, que pérolas como essas que estão nesse projeto, com autores que precisam ter seus nomes lembrados, são obras que precisam ser imortalizadas. Por isso a ideia do Sambas Memoráveis, porque os mais jovens precisam ter acesso a essas obras. É uma coisa de resgate mesmo. Resgatar pra manter viva a cultura do samba-enredo.”
Neguinho explicou a razão de incluir entre as 12 faixas, o hino que a Mangueira cantou no Carnaval de 1955, Cânticos à Natureza. “Eu tinha seis anos e lembro de ouvir o Jamelão cantando esse samba. E foi nessa época que eu, menino pobre da Baixada Fluminense, passei a me interessar por samba-enredo. E foi ouvindo a voz do Jamelão, cantando esse samba, que me tornei fã dele. Então, incluir essa obra nessa primeira coletânea, também tem um significado sentimental, porque posso dizer que foi um marco na minha vida.”
A gravadora Movieplay, especializada no mercado musical digital será responsável pelo lançamento. O projeto Sambas Memoráveis terá continuidade, com lançamentos futuros de obras históricas dos anos 1970 e 1980.