Mestre Wilson das Neves conversa com o Jornalista Marcelo Faria
Por Marcelo Faria
Fotos por Julia Fernandes / Agência Sambrasil Comunicações
Ao completar 81 anos no último dia, 14 de junho, o carioca, imperiano da Serrinha (Império Serrano) e rubro-negro é também baterista, cantor e compositor brasileiro.
Carinhosamente chamado pelos mais íntimos de Das Neves, e eu me incluo neste “hall” de intimidade, o veterano sambista e Insulano (morador da Ilha do Governador), me recebeu em sua casa, para conversarmos e posteriormente irmos juntos a mais um show em sua carreira.
Entre muitas histórias, uma das mais recentes que lembramos, foi durante o ensaio técnico do seu glorioso Império Serrano para o carnaval de 2017, ao qual conquistou o título que lhe deu o direito de ascender ao Grupo Especial em 2018.
Das Neves relatou a nossa equipe que o Império tinha tudo para fazer um grande desfile e sagrar-se campeão, no entanto não podia ter medo de ganhar e entrar na Avenida com muita garra e determinação. Sua profecia e orientação foram seguidas a risca, pois a escola realmente foi a campeã da Série A.
Com uma vitalidade de causar inveja aos mais novos, a Senhor Das Neves, se prepara para mais um show, se arruma com a elegância que lhe é peculiar, as voltas com seu netinho por perto, sempre fazendo graça.
A van chega, e nos conduz à casa de shows, no trajeto, vamos colhendo histórias e fatos que marcaram a linda trajetória de 63 anos de carreira, deste grande sambista.
Fatos estes, que foram descritos em sua biografia “Memórias de um Imperador – Ô sorte. Uma breve biografia de Wilson das Neves”, do pesquisador Guilherme de Almeida. Lançada em maio de 2016, o livro biográfico aborda a vida de das Neves, cantor, compositor e percussionista, de forma leve e descontraída através de sua trajetória pessoal e musical. Conhecido pelo bordão “Ô sorte!”, com o qual é saudado e reconhecido no meio artístico, mas segundo o próprio Das Neves, a criação deste bordão foi do cantor e compositor Roberto Ribeiro, que assim costumava cumprimentar o amigo baterista nas rodas de samba na Escola de Samba Império Serrano.
O mestre sintetiza: “O samba é nosso idioma! Naquela época – quando eu era jovem, você não podia escolher. Tinha que saber tocar tudo que era considerado hit de baile, depois o que tocava na rádio, na televisão e no teatro. Nesse processo, aprendi a tocar variedades, mas o samba sempre foi música que me mais me influenciou porque o samba é a nossa música, o nosso sotaque.”.
Outra lembrança veio ao nosso bate papo: Na 25ª edição do Prêmio da Música Brasileira, edição esta que homenageou o Samba, o senhor ganhou os prêmios de Melhor canção pela música “Samba pra João”, uma parceria com Chico Buarque, e de Melhor Álbum de Samba pelo disco “Se me chamar Ô Sorte”. Como foi receber e presenciar o reconhecimento da sua obra?
Foi extremamente gratificante: “Você sente que alguém está te observando e você não está fazendo as coisas à toa ou por acaso. Claro que não fiz nada disso pelo reconhecimento, mas se eu ganhei um prêmio é porque eu mereço.”.
BIOGRAFIA
Sobre o Senhor e Mestre Wilson das Neves:
Estudou música com Joaquim Naegele e logo depois com Darci Barbosa. Aos 14 anos, através do ritmista Edgar Nunes Rocca, o “Bituca”, tocou na Escola Flor do Ritmo, no bairro do Méier. Anos mais tarde, deu começo à sua carreira de baterista na orquestra de Permínio Gonçalves.
Entre 1957 e 1968, Wilson das Neves acompanhou a pianista Carolina Cardoso de Menezes, foi membro do Conjunto de Ubirajara Silva, estreou como músico de estúdio na Copacabana Discos, se integrou em conjuntos como o de Steve Bernard e o de Ed Lincoln. Tocou com o flautista Copinha, com o pianista Eumir Deodato no conjunto Os Catedráticos, e com Eumir e Durval Ferreira no grupo Os Gatos. Fez parte da orquestra de Astor Silva, da orquestra da TV Globo e da orquestra da TV Tupi de São Paulo, liderada pelo maestro Cipó. Em 1965, participou da gravação do disco Coisas do mastro e compositor Moacir Santos, tocando bateria em todas as faixas do álbum. Além disso, gravou com Elza Soares, o disco Elza Soares – Baterista: Wilson das Neves e formou seu conjunto, registrando o LP Juventude 2000.
Em 1969 gravou pela Polydor seu segundo disco, Som Quente É o das Neves e, no ano seguinte, o LP Samba Tropi – Até aí morreu Neves, desta vez pelo selo Elenco/Philips. Estes dois trabalhos tiveram arranjos de Erlon Chaves. Desse período até 1973, acompanhou artistas como Elis Regina, Egberto Gismonti, Wilson Simonal, Elizeth Cardoso, Roberto Carlos, Francis Hime, Taiguara e Sérgio Sampaio.
Em 1975 participou da gravação dos discos Lugar Comum, do músico João Donato; e Meu Primeiro Amor, da cantora Nara Leão; no ano seguinte, tocou timbales no clássico África Brasil, de Jorge Ben.
Tempos depois fez o terceiro disco com o seu conjunto, o LP O Som Quente É o das Neves. Nesse trabalho, lançado pela gravadora Underground/Copacabana, Wilson das Neves estreou como cantor e compositor. Os arranjos foram feitos por João Donato e pelo tecladista Sérgio Carvalho.
Figura presente no samba, o baterista tocou ao lado de grandes nomes do gênero como João Nogueira, Beth Carvalho, Cartola, Nelson Cavaquinho, Clara Nunes, Roberto Ribeiro, Martinho da Vila e muitos outros. Foi ritmista na escola de samba Império Serrano, onde tocava tamborim.
Como compositor, é parceiro de Aldir Blanc, Paulo Cesar Pinheiro, Nei Lopes, Ivor Lancellotti, Claudio Jorge, Marcelo Amorim, Moacyr Luz e Chico Buarque, com quem toca desde 1982.
Gravou em 1996 o disco O Som Sagrado de Wilson das Neves, lançado pela CID com participações de Paulo César Pinheiro e Chico Buarque, agraciado com o Prêmio Sharp.
Em 2001 participou do CD O Quintal do Pagodinho, idealizado por Zeca Pagodinho e produzido por Rildo Hora.
Desde 2003 é integrante do combo carioca Orquestra Imperial, sendo cantor e compositor parceiro dos jovens integrantes do grupo.
Em 2004 lançou o CD Brasão de Orfeu no Centro Cultural Carioca, onde também foi apresentado o curta-metragem O samba é meu dom, no qual o compositor contou detalhes de sua vida.
Em 2006 atuou no filme Noel – Poeta da Vila, no papel do motorista e cantor Papagaio.
Em 2011, Das Neves lançou, no Brasil e Europa, seu terceiro CD como cantor e compositor, Pra Gente Fazer Mais um Samba. Indicado melhor cantor pelo Prêmio da Música Brasileira 2011 e vencedor como melhor álbum de samba.
Em 2013 fez uma participação na música Trepadeira, do CD O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui, do rapper Emicida.
Em mais de cinquenta anos de carreira como baterista, participou de mais de 600 gravações e acompanhou Carlos Lyra, Ney Matogrosso, João Bosco, Maria Bethânia, Gal Costa, Emílio Santiago, Nelson Gonçalves, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Alcione, Tom Jobim e Miucha, entre vários artistas da MPB além de internacionais como Michel Legrand, Toots Thielemans, Sarah Vaughan e Sean Lennon.
Discografia
Elza Soares – Baterista: Wilson das Neves (1968 – Odeon)
Juventude 2000 – Wilson das Neves e seu Conjunto (1968 – Parlophone/Odeon)
Som Quente É o das Neves – Wilson das Neves e seu Conjunto (1969 – Polydor)
Samba Tropi – Até aí morreu Neves – Wilson das Neves e seu Conjunto (1970 – Elenco/Philips)
O Som Quente É O Das Neves – Wilson das Neves E Seu Conjunto (1976 – Underground/Copacabana)
O Som Sagrado de Wilson das Neves (1996 – CID)
Brasão de Orfeu (2004 – Acari Discos/Biscoito Fino)
Samba de Gringo 2 (Bina & Ehud -2006)
Pra Gente Fazer Mais Um Samba (2010 – MP,B/Som Livre)
Se me chamar, ô sorte (2013 – MP,B/Som Livre)