Livro: “Zé Katimba – Antes de tudo um forte”
Por Redação
Segundo título da coleção Acervo universitário do samba, o livro Zé Katimba – Antes de tudo um forte (Outras Expressões / UERJ) historia a saga de compositor que virou parceiro de Martinho da Vila em sambas de versos dengosos e/ou erotizados como Danadinho danado (1995) e Jaguatirica (1998).
Autor do livro, que traz encartado CD com gravações inéditas de nove músicas de Katimba, o escritor Luiz Ricardo Leitão reproduz no título do livro trecho de frase emblemática impressa na memória popular pelo escritor Euclides da Cunha (1866 – 1909) na obra-prima Os sertões (1902) porque Leitão se refere a Katimba como “sambista sertanejo”. Não porque o compositor mistura samba com música sertaneja, mas porque Zé Katimba – nome artístico de José Inácio dos Santos – veio ao mundo no sertão da Paraíba, em tese em 11 de novembro de 1932, em fazenda do município interiorano de Guarabira (PB).
Leitão narra a vida seca de Katimba com os pais sertanejos e a travessia rumo à cidade do Rio de Janeiro (RJ), onde o artista se abrigou em morros e bairros suburbanos, caindo na cadência bonita do samba-enredo. A propósito, a trajetória musical de Katimba se cruza com a da escola de samba Imperatriz Leopoldinense, agremiação do bairro carioca de Ramos para a qual Katimba compôs, com diversos parceiros, sambas antológicos como Martim Cererê – joia do Carnaval de 1972 que brilhou na trilha sonora da novela Bandeira 2 (TV Globo, 1971 / 1972), cuja trama era ambientada em subúrbio em que o samba e o jogo do bicho davam o tom da vida das personagens criadas pelo escritor Dias Gomes (1922 – 1999) – e O teu cabelo não nega, tema que ajudou a Imperatriz a ser campeã no Carnaval carioca de 1981. A partir da entrada de Katimba na escola de samba, o foco da narrativa de Leitão se alterna entre a vida do artista e a evolução da agremiação ao longo dos Carnavais, com detalhes dos bastidores da agremiação.
Com justa reverência ao compositor, mas sem ocultar a face temperamental do artista (o sobrenome artístico Catimba, posteriormente alterado para Katimba, tem origem no adjetivo catimbeiro, empregado várias vezes para caracterizar o gênio difícil do sambista), o escritor mostra a solidão do sertanejo na cidade grande quando se distancia dos pais e as aventuras conjugais (e extraconjugais) do sedutor sambista.
As paixões pelas mulheres geraram sambas como Minha e tua (1997) – parceria de Katimba com Martinho da Vila e Alceu Maia, gravado há 20 anos por Martinho no álbum Coisas de Deus (1997) – e Beija, me beija, me beija (1989), outra dengosa parceria com Martinho.
Embora integre coleção intitulada Acervo universitário do samba, a narrativa de Luiz Ricardo Leitão evita a linguagem acadêmica e flui bem, embora sem jamais alcançar a leveza coloquial dos versos de grande parte dos sambas de enredo que levam a assinatura de Zé Katimba, sertanejo forte que mais recentemente superou adversidades (inclusive graves problemas de saúde) e se fez ouvir no mundo do samba, mesmo sem se projetar como cantor. Tal força parece residir mais no talento como compositor.
(Crédito da imagem: capa do livro Zé Katimba – Antes de tudo um forte. Zé Katimba em foto de Leonardo Zulluh. Projeto gráfico de Alexandre Machado)
Fonte: G1- Por Mauro Ferreira