Grupo Especial: Imperatriz Leopoldinense é a campeã do Rio Carnaval 2023
Por Marcelo Faria e Equipe Sambrasil Rio
Reportagens: Sirlene Oliveira, Ricardo Netto, Gilvan Lopes, Roberta Campos, Lizia Nascimento, Fernanda Gaspar e Rafael Rios
Imagens: Julia Fernandes, Sirlene Oliveira, Fernanda Gaspar e Lizia Nascimento
Fotografias: Arlene Melo, Marcelo Faria, Lizia Nascimento, Fernanda Gaspar e Marcelo S. Faria
Suporte técnico: Jack Costa e Jaime Jotta Jr.
Videomaker: Jaime Jotta Jr. e Raphael Rios
Produção: Lízia Nascimento e Fernanda Gaspar
Redes Sociais: Jack Costa, Lízia Nascimento, Julia Fernandes e Sirlene Oliveira
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Com inspiração nas visões delirantes dos cordéis nordestinos que contam histórias fantásticas sobre
a chegada de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, ao céu e ao inferno. A escola vai mergulhar no
universo visual nordestino, se debruçar sobre a literatura popular, o cangaço e as tradições estéticas
e musicas do sertão, o enredo é desenvolvido pelo carnavalesco Leandro Vieira
ENREDO: “O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não
deu guarida”
SINOPSE DO ENREDO:
Cheiro de pólvora perfumando as ventas. O parabelo carregado e a bala cortando os ares. O
calango rabisca o chão, a boiada se inflama, o cavalo galopeia aperriado. O rifle balança como
menina na mão do cangaceiro. A faca talha. Fura. Mata gente.
O cabra grita, o suor desce pelo gibão de couro. O líder do bando canta e os bandoleiros se colocam
a arrastar as chinelas. A poeira laranja sobe sobre o xique-xique ainda verde. Criança de colo corre.
O gato late. O cachorro solta um miado fino e a turma se põe a xaxar. Xaxando, me ponho a contar,
nome por nome do time que Lampião comandava: tinha Corisco e tinha Dadá. Tinha Pilão Deitado,
Beato e um homem brabo, com nome de cobra, vulgo Jararaca, que, ao morrer, dizem ter virado
santo. Tinha também Graúna, Zé Baiano, Azulão e Cirilo Antão. Não me perdoo se esquecer o nome
de Cansanção. Canário, companheiro de Adília, Pé de Peba e Pé de Pato. Pajeú, Volta Seca e Zé
de Julião. Juntos, essa turma esquentava como pitú com pimenta ou o sol que arde, queima e
castiga o sertão. Arruaça, rebuliço, Deus nos acuda e, no meio disso, reluz – como a chama do
candeeiro – a estrela de Salomão, que brilha no chapéu de um cangaceiro, rei e capitão.
Contado nas palavras rimadas do cordel, cantado pelas cordas das violas do repente, tema para o
gracejo do boneco mamulengo. Ele tá na boca e na reza dos beatos; nos aboios dos vaqueiros; na
bagagem dos tropeiros; no motivo da lágrima que molha o rosto da carpideira. Tá lá o nome dele:
Virgulino Ferreira da Silva. Vulgo Lampião, que morreu aos quarenta anos tiroteado numa
emboscada que lhe separou a cabeça do cangote, no raiar de um dia vinte e oito, quando o
calendário marcava o mês de julho, no ano de 1938.
Morto, Lampião foi direto aos portões do inferno. Morada do Encardido, Capiroto, Arrenegado, Peba,
Excomungado. De nome Filhote e sobrenome Danado. A casa do Tinhoso onde pensava ser tratado
e aceito como bom moço. Barrado no portão, fedendo a enxofre, montado em seu cavalo – agora, só
de osso – se aperreou com a demora pra entrar, fruto da discussão com um diabo ainda moço.
O certo é que Satanás, dono daquela morada, por saber de quem se tratava, não queria confusão.
Se desse ingresso a um cabra com a fama de Lampião, logo, sem demora, lhe chegava a
desmoralização. Diante da negação, Virgulino Ferreira se inflamou e, acredite o senhor ou não, fogo
no inferno o sujeito tocou.
O certo é que Satanás, dono daquela morada, por saber de quem se tratava, não queria confusão.
Se desse ingresso a um cabra com a fama de Lampião, logo, sem demora, lhe chegava a
desmoralização. Diante da negação, Virgulino Ferreira se inflamou e, acredite o senhor ou não, fogo
no inferno o sujeito tocou.
Em brasa, morreu pra mais de cem cão queimado. Morreu Desgraça Pouca e Bananinha. Morreu
Propina. Morreu um cão chamado Preguiça. Morreu Luxúria e Avareza. Saudades deixou o cão
Safadeza. Gemendo, morreu Ypsilone. Em chamas morreu Furico. Morreu Belzebu muito apreciado
por Satanás.Em brasa, morreu pra mais de cem cão queimado. Morreu Desgraça Pouca e
Bananinha. Morreu Propina. Morreu um cão chamado Preguiça. Morreu Luxúria e Avareza.
Saudades deixou o cão Safadeza. Gemendo, morreu Ypsilone. Em chamas morreu Furico. Morreu
Belzebu muito apreciado por Satanás.
Sabendo do alvoroço, o Bicho ruim mandou chamar Lubisome, gritando por Aucapone – este, com o
pau da prensa – gritou por Ritlê e Moléstia. Veio uma Diaba boa e braba chamada Quem Me Dera.
Uma velha, famosa como Língua de Sogra. Soltaram a Onça Caetana da coleira e foram, com a
tropa armada, pro meio do tiroteio, onde o cacete batia, o filho chorava e a mãe não via. Em boa
luta, pra mais de duas horas, Lampião ainda de pé, com uma caveira de boi, arrebentou um cão,
puxou do oitão, incendiou o mercado e lançou brasa no armazém de algodão. Prejuízo sem
tamanho, matemática de se danar: perdeu-se todo o dinheiro que o Diabo ganhou com a
rachadinha, queimou-se o livro de ponto, o Excomungado perdeu pra mais de vinte contos e
Lampião, vendo que não era bem quisto, teve de se retirar.
Com a má-querença do excomungado, Capitão Virgulino montou-se nos costados de um azulão e
arribou rumo ao portão do céu. Naquela morada, de cadeado bem trancado, bateu palmas dizendo
querer entrar. Foi então que Pedro, santo carrancudo, largou do café que bebia, pra ver quem, na
santíssima morada, queria estadia.
Sem crer no que via, São Pedro tratou de enxotar Lampião. Na mão esquerda, sua chave; na direita,
um papel de pão. Nele, escrito toda sorte de judiação: filho da gota serena, ladrão, furador de bucho
e assassino ferino. Amancebado, marcador de gente, bandoleiro perigoso metido com rapariga. É
pirangueiro que bulinou mulher casada. Meteu galho na testa do pai de família.
“Não seja dedo-duro”, respondeu Lampião e, com o rifle na mão, fez a exigência: “me leve até o pai,
pois é ele quem sabe de tudo. Sou filho do homem. Por ele parido e não sou bastardo. Tu até
parece brabo, mas, nessa santíssima mansão, tu não manda, tu é mandado”.
Diante da ousadia, São Pedro tocou o sino. Vejam vocês, chamou uma tropa de anjo menino.
Mandou São Jorge selar o cavalo e ordenou a São Gonçalo Ivo: “Chame Antônio e São Miguel.
Chame também por Gabriel. Diga a Santa Rita que venha. Apresse Nossa Senhora da Penha. Diga
à Bárbara que cesse a macumba; que São Longuinho apareça; que João menino traga o triângulo e
a zabumba”.
A santaria veio num pinote. Lampião corria, parecia uma festa junina, quando ele então, pendurou-
se num balão e clamou ser levado à presença de “Cíço” Romão. “Isso é golpe baixo”, berrou São
Judas Tadeu, interrompido por Santa Luzia que lhe advertiu: “Se tem padrinho, não morreu pagão.
Deixe que o balão suba e leve o moço até os aposentos de Padre Ciço Romão”.
Lampião bem que tentou. Padim Ciço advogou. Mas São Pedro, o pé não arredou: “és um sujeito
malcriado e o diabo também não lhe quis. Desça daqui pra terra. Vá vagar pelo sertão. Torne-se
assombração, mas suma, antes do fim do barulho de meu trovão”.
Mal quisto no inferno e sem a guarida do santíssimo, Lampião desceu à terra em busca de alguma
morada. Astucioso, querendo a eternidade, o homem que em vida perdeu o coco para ser sabedor
do que havia depois da morte, queria habitar agora o quengo que pertencia aos outros.
Primeiro, andou fazendo assombro ao abrigar-se por de trás do dente canino e pontiagudo de uma
carranca que navegava no São Francisco. Na sequência, foi morar no breu do olho direito e cego de
Patativa do Assaré. Esteve abrigado na sombra de cada palavra dita e escrita pela pena do poeta.
Em dia de festa, esteve de tocaia na sanfona de oito baixos de mestre Januário. Durante anos, seu
paradeiro foi o gibão de Luiz Gonzaga. Com ele, foi ao Sudeste, ao rádio, exibiu-se na televisão.
Esteve sob a coroa de couro de outro rei, o do baião.
Astucioso, buscando uma morada que não lhe fosse perene, deixou-se amassar pelas mãos de
Vitalino. Misturou-se então – pra sempre – nas entranhas de corpos sem osso e sem costela. Tá em
toda sorte de gente, ainda hoje, feito de uma mistura que cozinha um bocado de barro mágico,
pouca água e o fogo que arde feito o sol desfeito em brasa.
Texto Pesquisa, desenvolvimento e texto: Leandro Vieira.
Pesquisa: *Inspirado nos Cordéis "A Chegada de Lampião no Inferno" e "O grande debate que teve
Lampião com São Pedro" de José Pacheco.
SAMBA ENREDO: “O aperreio do cabra que o Excomungado tratou com má-querença e o
Santíssimo não deu guarida”
Compositores: Me Leva, Gabriel Coelho, Miguel da Imperatriz, Luiz Brinquinho, Antonio Crescente e
Renne Barbosa
Intérprete: Pitty de Menezes
VEIO CONTAR PRA VOCÊS
UMA HISTÓRIA DE ASSOMBRAR, TIRA SONO MAIS DE MÊS
DISSE UM CABRA QUE NAS BANDAS DO NORDESTE
PILÃO DEITADO SE ACHEGAVA COM O BANDO
VINHA NO RIFLE DE CORISCO E CANSANÇÃO
JUNTO DE CIRILO ANTÃO, VIRGULINO NO COMANDO
DEUS NOS ACUDA, TODO POVO APERREADO
A NOTÍCIA CORRE CÉU E CHÃO RACHADO
REBULIÇO NO OLHAR DE UM MAMULENGO
ERA DIA 28 E LAGRIMAVA O SERENO
E FOI-SE ENTÃO… ADEUS, CAPITÃO!
NO ESTOURO DO PIPOCO
ROLA O QUENGO DO CABOCLO
A SETE PALMOS DESSE CHÃO
NOS CONFINS DO SUBMUNDO ONDE NÃO EXISTE INVERNO
BANDOLEIRO SEM ESTRADA PEDIU ABRIGO ETERNO
ATIÇOU O CÃO CÁ-TRÁS, FEZ FURDUNÇO
E SATANÁS EXPULSOU ELE DO INFERNO
O JAGUNÇO IMPLOROU LUGAR NO CÉU
TODA SANTARIA SE FEZ DE BEDEL
CABRA MACHO EXCOMUNGADO DE TOCAIA NO BALÃO
NEM ROGANDO A PADIM CIÇO ELE TEVE SALVAÇÃO
PELOS CANTOS DO SERTÃO… VAGUEIA, VAGUEIA
TAL QUAL BARRO FEITO A MÃO MISTURADO NA AREIA
QUANDO A SANFONA CHORA, MANDACARU AFLORA
BATE ZABUMBA TOCANDO NO MEU CORAÇÃO
LEOPOLDINENSE, CANGACEIRO, A MINHA ESCOLA
EIS O DESTINO DO VALENTE LAMPIÃO
FICHA TÉCNICA
Fundação 06/03/1959
Cores Verde, Branco e Ouro
Presidente de Honra (In Memoriam) Luiz Pacheco Drumond
Presidente Cátia Drumond
Quadra Rua Prof. Lacê, 235 – Ramos – Rio de Janeiro – RJ – CEP. 21060-120
Telefone Quadra (21) 2560-8037
Barracão Cidade do Samba (Barracão nº 02) – Rua Rivadávia Correa, nº 60 – Gamboa – CEP:
20.220-290
Telefone Barracão (21) 2516-5620
Site www.imperatrizleopoldinense.com.br
E-mail contato@imperatrizleopoldinense.com.br
Imprensa Pedro Henrique Leite
Tel.: (21) 96966-6061 / 99969-6680
Enredo 2023 "O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não
deu guarida"
Carnavalesco Leandro Vieira
Diretor de Carnaval Mauro Amorim
Intérprete Pitty de Menezes
Mestre de Bateria Lolo
Rainha de Bateria Maria Mariá
Mestre-Sala e Porta-Bandeira Phelipe Lemos e Rafaela Theodoro
Comissão de Frente Marcelo Misailidis