Em Cima da Hora segunda escola em dia de ensaio técnico

Conteúdo: Júlia Fernandes Suporte BackEnd: Jaqueline Costa
Ficha Técnica:
Enredo:Ópera dos Terreiros – O Canto do Encanto da Alma Brasileira.
Fundação: 15 de novembro de 1959
Cores: azul-pavão e branco
Símbolo: uma lira com um relógio
Escola Madrinha: Portela
Bairro: Cavalcanti, Rio de Janeiro
Presidente: Sebastião Ubiratan Fernandes
Presidente de honra: Heitor Fernandes
Interprete: Charles Silva
Carnavalesco(a): Rodrigo Almeida
Mestre-sala e Porta-bandeira: Marlon Flôres e Winnie Lopes
Mestre de bateria: Léo Capoeira
Rainha de bateria: Heather Anchieta
Rei de bateria: Jorge Amarelloh
Sinopse:
Argumento: A realidade pungente em nosso país a respeito do preconceito racial, é ainda uma
ferida intensamente viva, expondo o que há de mais desumano e irracional na humanidade, e
por consequência, corrobora na desigualdade, no ódio e na intolerância. Tão dura e cruel
realidade não conseguiu apagar por completo a ascendência e a identidade dos povos que
foram sequestrados de sua terra, separados da sua gente, da sua família e de tudo mais que os
dignificavam. E, ainda que aportando nestas terras como escravizados, buscaram construir
meios e formas de permanecerem ligados a sua origem, a sua essência, transcendendo à dor e
ao sofrimento, em nome da sua verdadeira ancestralidade.
Reconstruir uma genealogia cultural que mantivesse ligações com sua terra natal ainda é
tarefa que perdura desde a longa travessia entre a África e o Brasil. Mesmo à revelia das dores
e limitações que os envolveram, eles assim o fizeram. Cantaram seus cantos de fé, dançaram
para seus santos, irmanaram-se, lutaram por liberdade, assentaram seus terreiros, criaram
ritmos e laços de irmandade, construíram pontes através da arte e da cultura, buscaram seus
espaços, firmaram seu ponto, fizeram-se luz onde havia ignorância e fé a quem temesse por
justiça.
Trazer para o palco do carnaval o enredo sobre a Ópera dos Terreiros é fazer jus a toda jornada
do povo preto, partindo da primazia do pertencimento e da ancestralidade, que ganham novas
formas de demonstração e que vão conquistando novos espaços e palcos através da arte,
como o canto erudito e operístico. Isso enaltece os distintos povos que para cá vieram para
além dos Bantos e Nagôs. E reforça as infinitas possibilidades de que o negro, com sua cultura,
pode chegar a lugares inimagináveis no Brasil e no mundo. A Ópera dos Terreiros é o ponto de
partida para uma reconexão ancestral pelo prisma da cultura e da fé, genuinamente alicerçada
em Salvador, na Bahia de todos os santos, casa primeira, terra primeira fora do seu habitat.
Com toda a resistência e com todo o axé, construíram o seu espaço de pertencimento, seus
costumes e sua forma de ser no mundo. Com sua identidade e empoderamento preto, fazem-
se presentes, tornando protagonistas em todos os terreiros em que vier a pisar, gestando,
assim como representado na ópera, os filhos seus, um Brasil do futuro. Um novo Brasil. Um
Brasil novo! Salve o canto negro para além da dor e do sofrimento! Abram-se os caminhos
para o canto negro passar!
Justificativa: O carnaval e as escolas de samba possuem entre muitas funções o papel de
mantenedoras e produtoras de cultura. E sua cultura é negra por essência. Sua matriz é
africana e porque não dizer, baiana também.
O Grêmio Recreativo Escola de Samba Em Cima da Hora traz para o seu carnaval a Ópera dos
Terreiros, obra pertencente ao roll de espetáculos do Núcleo de Ópera da Bahia, instituição
que promove a representação da cultura negra em sua ancestralidade dando o protagonismo
aos seus atores/cantores, contribuindo para o descortinar de histórias que guardam signos
sagrados e transmitem a essência de um povo.
A união entre o erudito e o popular não é em si uma novidade, mas rara de se vê quando a
ênfase se dá na negritude, a africanidade, na construção do saber cultural do negro em todos
os espaços. Soma-se a esse fator a importante contribuição dos povos pretos à formação
cultural do Brasil, com suas religiões, costumes, língua, saberes e personalidades. Adentrar o
universo operístico sob a luz da Ópera do Terreiros é considerar o que veio antes, desde a
diáspora africana, sua resistência, a manutenção dos saberes e das coisas transcendentais que
abriram caminhos e aos poucos ganharam espaços até então impossíveis de se alcançar.
Reverenciamos, assim, todos os que construíram, lutaram e se dignificaram na transmissão dos
saberes, tornando possível o alastramento dessa negritude fortificada no Brasil, mais
precisamente, em Salvador. Onde a África é mais baiana. Onde a identidade molda e
determina o ser negro. É função cultural e ancestral abrir caminhos, lançar luz e ampliar os
horizontes para que esta obra alcance ainda mais terreiros pelo mundo afora, como já vem
conquistando. Emocionando a quem a vê e a quem a ouve, transmutando a realidade que se
esperava em nome de um futuro cada vez mais justo e livre como sempre deveria ter sido.
SINOPSE: Cena 1 Brasil, Fruto do amor dos filhos da antiga África Que cantado em ária,
rememora seu passado Tornando latente o desejo de um futuro melhor. Brasil, vive a recontar
inúmeras histórias pelas ruas e ladeiras de Salvador Nos portais da cidade quem o ouve,
transporta-se para os portais do Benim Seguem rumo a uma nova terra num completo
desconhecido Navegam pelo impetuoso mar de Olokun Revivendo tormentos que destruíram
sonhos, aflorando muitos medos Onde naufragaram inúmeras histórias, restando apenas
esperança. Mas hoje, Brasil não veio contar sobre a dor.
Mesmo latente e ainda presente Ele veio contar sobre os povos trazidos da terra mãe
Resgatando todos aqueles que assumiram o compromisso de perpetuar sua história Suas
raízes e seus ancestrais. Aqueles que trouxeram os signos que permeiam o seu sagrado e sua
identidade E que chegando à baía que aportaram primeiro, onde todos os santos os receberam
Guardaram consigo os mistérios, os encantamentos e seus saberes transcendentais.
Cena 2 Água de cheiro. Banho de arruda. Axé em templo sagrado Terreiros firmados, há
séculos são avistados e visitados É canto, é dança, é fundamento Ao sabor das memórias que
percorreram o oceano que os separou. Vem de Jeje, Ketu, Banto e Nagô Na roça que bate o
ponto Maxicongo é Bate Folha de Congo e Angola. Sejam inquices, voduns ou entidades, filhos
de todos os santos Se espalham, multiplicam e renovam sua ancestralidade Desde a Casa
Branca ao Gantois Entre ladeiras, encruzas e matas É o sagrado assentado e firmado, legado da
nossa história. É tempo de bater cabeça, tomar a benção e se curar. Salve as mães baianas que
iniciadas iaôs um dia foram Salve todas elas que abençoam toda gente com seu banho de fé.
Mulheres que foram resistência e se tornaram essenciais. Matriarcas! Mães de santo! Fonte
dos saberes e dos cultos! O elo na gira perfeita que no tempo se sente o que não se vê.
Cena 3 Na energia que emana a vibração, o Maculelê é a batida que ressoa no tempo Tocando
o passado no nascer de novos ritmos Faz surgir samba de roda no Recôncavo, reconvexo no
alcance que se tem Na batida do tambor, ogãs dão o tom Capoeira é sinônimo de luta ao
toque do berimbau Que encanta a quem o ouve e o vê E vai Brasil, banhado no axé de outrora
Vem mostrar que o canto desta cidade também é seu. Ao saírem dos terreiros emanando todo
o seu axé Blocos afro e de afoxés tomam as ruas com sua sonoridade A sacudir, a abalar,
fluindo a baianidade que faz sua gira no carnaval. Num ato de resistência, em busca de sua
essência Brasil sobe a ladeira do Curuzu E se põe a ecoar por toda a cidade que “a coisa mais
linda de se vê é o Ilê Aiyê” No Muzenza e no Malê Debalê se renovam a negritude Como num
levante a determinar seus espaços em nome da liberdade. Pelo ritmo do afoxé dos filhos da
paz, Salvador ganhou as telas e os livros É festa de preto. É toque preto timbaleiro que sacode
o mundo inteiro E traz cacique afro metalizado, afrofuturismo invadindo a tradição. Olodum, o
quilombo dos ritmos sincopados Contam histórias que não se podia contar sobre muitos
lugares Negro era rei e também divindade. Negro era o Faraó. – Eu falei, Faraó! Seu esquema
mitológico ecoou nos quatro cantos do mundo Coroando com turbantes os súditos de
Tutankhamon Signos mantenedores de uma ancestralidade viva! Transcendental. No Cortejo
Afro, Brasil se viu representado Eis a Bahia que povo branco se rendeu… Alicerçado e
fortalecido pelos que vieram primeiro Brasil, em sua “Roma Negra”, valoriza seus saberes,
comungando de todas as artes Transvestido de sua história que determina tudo o que foi e o
que virá Alimentando a todos com sua genuína identidade Na capital que é patrimônio
ancestral e que o mundo vem conhecer Pelourinho se transforma em cartão postal Quilombo
que se materializa, força que sintetiza a luta secular por liberdade.
Cena 4 Vem chegando a negritude que dá a volta no mundo e vê o mundo girar. Onde o amor
é sempre azul Infinito como o mar de Olokun.
Esta é a terra que o canto negro tem vez e voz. Mas que continua a lutar. Sua ópera negra,
entidade que fortalece um laço universal de união Fomenta a negritude cultural na cidade
mais africana além de África. Nesta ópera principal, Brasil é o fruto do amor Banto é Nkosi,
Oxum é Nagô Entre cantos e encantos, eles se enamoram em meio a conflitos Exu abre os
caminhos e rearruma os seus propósitos Iansã faz o vento dançar pro amor acontecer A
senhora do tempo ensina que destino é coisa certa, não se pode mudar. O amor que é banto
se vai, a morte o encontrou A filha de Oxum que fica, lamenta sua dor Em seu canto, tal qual
uma prece, sente nova vida chegar Seu filho Brasil está prestes a nascer. Sua trajetória se torna
estandarte em prol da negritude No panteão negro que se reconstruiu ao longo de toda sua
história Nos laços que se firmaram entre os terreiros que viraram ópera E a ópera que se
tornou terreiro também!! Com o renovar de consciência ganhando forma Sendo a liberdade
sua fonte de inspiração Alcança novos portos, adentrando ou rompendo outros portais Onde o
povo preto é o protagonista e se mantém ancestral Para além dos que um dia foram tratados
como senzala E transcende a tudo o que um dia lhe fora negado Mas que agora vem encantar
o mundo Com sua arte, sua raça, seu canto e sua cor. E vai o Brasil Cantando em ária sua
ancestralidade Como fruto do amor dos filhos da Antiga e da “nova” África Rememorando seu
passado, na construção de um mundo melhor!
Argumento: Anderclébio Macêdo Rodrigo Almeida Texto e pesquisa: Anderclébio Macêdo
Samba Enredo:
Compositores: Caxias Gilmar / Guilherme Karraz / Marcio de Deus / Marquinhos Beija-Flor /
Orlando Ambrosio / Serginho Rocco / Richard Valença / Bruno Dallari / Pedro Poeta / Lucas
Pizzinatto / Guto Melcher / Marcelinho Santos / Viny Machado / Jacopetti / Guinho Dito
Letra do samba para 2025:
Tambor quando toca é voz de orixá
É feitiço de Ilá, ô ô
Tambor quando toca é voz de orixá
Se a pele arrepiar, incorporou
A mensagem de Exu na Bahia (ê Bahia)
Na travessia do brado de nosso axé
Encruza das ondas e alforrias
Ergueu a luta do meu candomblé
Maré que me leva, encontro das almas
A dor que se acalma, o grito aflito
É verso escrito entre Ayê e Orum
É choro incontido ao toque do rum
Maré que me leva, encontro das almas
No couro, nas palmas, no chão do terreiro
O som brasileiro na pele e na cor
O afro erudito em Bantu e Nagô
Sou eu, a mistura da fé africana
A paixão que venceu a demanda
Onde o povo retinto uniu
Eis o meu nome assentado em terras de paz
Onde reinam os meus orixás
Eu me chamo Ilê Brasil
Quando ronca som do couro
A mandinga do chão de crioulo
Se faz cantoria de axé
E a rua se torna um só carnaval
Nossa ópera é ritual
Pra louvar o seu candomblé
Alabê chamou, e eu não vou embora
A magia do preto, Em Cima da Hora
Segura o corpo que eu quero ver
Quando a força do cangerê
For poder de romper aurora