De você fiz meu samba, documentário retrata viúvas de grandes compositores do samba

Por Redação
Destaque na programação do Festival do Rio, “De Você Fiz Meu Samba”, acompanha a rotina das viúvas de cinco baluartes do samba carioca, que em um trabalho invisível se tornaram guardiãs de parte fundamental da história musical brasileira. Um documentário sobre amor, parceria e saudade, que defende uma história feminina sobre a cultura nacional e trabalha num limite tênue entre o quanto elas foram parceiras importantes nas carreiras desses grandes sambistas e o quanto abriram mão da própria vida para viver o sonho do outro — uma questão determinante até hoje para essa geração de mulheres e viraram guardiãs de arquivo precioso. Filme tem direção de Isabel Nascimento Silva, pesquisa de Mariana Filgueiras e roteiro de Isabel De Luca
O Portal Sambrasil sempre atento ao que mais importante referência o samba, acompanhou de perto a estreia dentro da programação do Festival do Rio.
As viúvas contam, de diferentes perspectivas, como foi acompanhar a trajetória e o sucesso de seus maridos enquanto assumiam o papel de parceiras anônimas, responsabilizando-se pelo trabalho doméstico e, muitas vezes, passando por situações de negligência e discriminação diante de um cenário majoritariamente masculino e estruturalmente machista – desde colaborações profissionais não reconhecidas até a naturalização da infidelidade do homem. Ainda assim, as cinco viúvas continuam falando das memórias que construíram ao lado dos sambistas com grande amor e saudade.
Passaram por cima da dor da perda ou do descaso com suas histórias e ressignificaram suas presenças na longa trajetória do samba brasileiro ao reunir, garimpar e guardar caixas e arquivos, organizando versos e melodias cujo nascimento muitas vezes elas presenciaram. Todas estas casas-museus se concentram nos subúrbios do Rio de Janeiro, uma região historicamente esquecida pelos meios de comunicação e pelo poder público, mas dona de tesouros infinitos e muitas vezes desconhecidos. Graças ao trabalho afetivo e perspicaz dessas mulheres, pesquisadores musicais, biógrafos, historiadores e músicos podem produzir novas leituras, livros e discos que recontam a história do samba ou bebem na fonte de sua inspiração. “De Você Fiz Meu Samba” joga luz a um material que, de alguma forma, estaria fadado ao esquecimento na poeira dos armários.
Bertha Nutels foi produtora e companheira de Délcio Carvalho (1939-2013) por 34 anos. Depois que ele morreu, ela continuou a reunir tudo o que dissesse respeito à obra do compositor. Diz que sua casa virou um museu. Mas a jornalista não ficou presa ao passado. Criou uma persona drag queen com a qual interpreta inéditas do letrista de “Sonho meu”, “Acreditar” e outras parcerias com Dona Ivone Lara.
Denize Correia foi casada por 26 anos com Alcino Correia, o Ratinho (1948-2010), coautor de “Coração em desalinho”, “Vai vadiar”, “Loucuras de uma paixão” e outros sucessos. Passou muito tempo dedicando-se aos dois filhos, enquanto o marido lutava para que gravassem seus sambas e frequentava o Cacique de Ramos e a Caprichosos de Pilares — onde venceu sete disputas de samba-enredo.
— Gostaria de ter estudado mais, trabalhado, ter tido minha própria renda — lamenta ela, que no documentário conta que “respirava Alcino”, de quem sentia um “ciúme louco”.
Após a morte dele, realizou desejos como o de fazer tatuagens, ir a rodas de samba e, como diz, se sentir “mais jovem e mais bonita”. Mas não deixa de ser dona de casa e de cuidar da obra de Ratinho, guardando tudo no segundo andar da casa que ele comprou, em Todos os Santos.
Jane Pereira — conhecida por vender jilós na Feira das Yabás, em Oswaldo Cruz — sempre gostou de se divertir, mas nem sempre acompanhava as saídas de Luiz Carlos da Vila (1949-2008). Conta no filme que sabia das puladas de cerca do marido (coautor de “O show tem que continuar”, dentre muitos sambas), mas diz não se queixar: “Ele voltava para mim.”
Conhecida por vender jilós na Feira das Yabás, Jane Pereira conta no filme que sabia que o marido, Luiz Carlos da Vila, pulava a cerca — Foto: Divulgação
Conhecida por vender jilós na Feira das Yabás, Jane Pereira conta no filme que sabia que o marido, Luiz Carlos da Vila, pulava a cerca — Foto: Divulgação
— Passei tudo numa boa. Não teve sequelas — assegura. — Nós nos entendíamos muito bem. Foram 20 anos felizes. Ele era um poeta, e o poeta conquista. Teve muito companheirismo. É por isso que eu tive coragem de falar o que falei no filme.
Já Ângela Nenzy ganhou fama de brava. Não por ciúme do pacífico Wilson Moreira (1936-2018), mas por virar empresária dele e não deixar que um compositor de grandes sambas — como “Senhora liberdade”, “Coisa da antiga” e “Gostoso veneno”, parcerias com Nei Lopes — trabalhasse por qualquer dinheiro. “Organizei a vida dele e fiquei maldita”, diz no documentário.
Ela já tinha carreira de pesquisadora quando se casou com Wilson. Intelectualizada, militante, queria escrever uma tese nem que fosse aos 80 anos. Não deu. Tinha um câncer e morreu aos 66, de Covid-19. “De você fiz meu samba” é dedicado a ela.
— Foi uma guerreira, mulher exemplar. Considero um privilégio ter cruzado com ela na minha vida — exalta Isabel Nascimento Silva.
Liette de Souza perdeu em 1996 o marido, o cantor Roberto Ribeiro, quando ele tinha apenas 55 anos — foi atropelado. Quando se casaram, ela já tinha quatro filhos. Era compositora e teve sambas gravados por Roberto. No filme, fala da saudade que sente dele na cama e canta a sua “Orgasmo”. Hoje, porém, está afastada do meio do samba. Tornou-se evangélica.
Um dos motivos para se sentirem à vontade e falarem de assuntos íntimos foi o fato de a equipe do longa-metragem ter apenas mulheres, acredita Isabel Nascimento Silva. Ela recorda que houve quem ninasse um neto de Denize enquanto a avó era filmada.
Fundo do Baú
“De você fiz meu samba” deixa a mensagem de que há músicas inéditas que, graças a essas mulheres, podem ser descobertas e gravadas.
— Damos o devido tamanho a uma categoria invisível, que são as viúvas de grandes sambistas — diz Isabel De Luca. — São guardiãs de uma memória afetiva e um tesouro inestimável: as centenas de inéditas que estão nas casas-museus onde elas moram até hoje.
Mariana Filgueiras diz:
— Esse baú em que se pode mergulhar traz a memória para o tempo presente. É um convite para pesquisadores e compositores se debruçarem sobre as obras desses grandes artistas.
Angélica Ferrarez relativiza o encanto pela preservação amadora do material:
— Me preocupa a falta de incentivo, de interesse quando o acervo é samba. Vemos os protagonistas de suas histórias cuidando do acervo com seus próprios métodos. É bonito encontrar uma casa-museu, mas não dá para romantizar a carência de estrutura e todo o aparato que as instituições de memória devem ter para preservação.
— Elas têm histórias extraordinárias, muito fora da curva. Deram novo significado à vida depois que os companheiros morreram — afirma a diretora Isabel Nascimento Silva, destacando que no filme elas falam, por exemplo, de sexualidade, traição e relação aberta. — A sociedade não espera que as mulheres façam muitas coisas na idade delas.
O embrião do projeto é de 2010, quando Mariana Filgueiras fez reportagem no GLOBO sobre viúvas que guardam acervos de sambistas, inclusive inéditas. Muitos anos depois, a jornalista escreveu um argumento para a Hysteria, núcleo da Conspiração Filmes voltado para personagens femininas. Tornou-se pesquisadora e roteirista do longa-metragem, dividindo esta função com Isabel De Luca, cocriadora da Hysteria com a xará Nascimento Silva.
— Para além das tias, das mulatas, das pastoras, há mulheres que preservam as histórias, cuidam dos filhos, são companheiras. O pensamento social do samba não olha para esses ambientes domésticos — diz Mariana. — Mas elas são fortes. Não teriam atraído esses homens se não fossem fascinantes. Não são Amélias.
Herança imaterial
Para Angélica Ferrarez, doutora em História Política que pesquisa a história social do samba, além de documentos, fotos e troféus, essas viúvas preservam a herança imaterial.
— A própria memória dessas mulheres deve ser levada em consideração. Não são simples relatoras. Participaram e participam do movimento. São inspirações para canções de amor e de despedida. Presenciaram eventos e provocaram momentos importantes — ressalta ela, também jurada do Estandarte de Ouro.
Ficha técnica:
Documentário/Documentary
Cor/Color DCP 72′
Brasil – 2022
Direção/Direction:
ISABEL NASCIMENTO SILVA
Roteiro/Screenplay:
ISABEL DE LUCA
MARIANA FILGUEIRAS
Empresa Produtora/Production Company:
CONSPIRAÇÃO
Produção/Production:
ISABEL DE LUCA
ISABEL NASCIMENTO SILVA
LUíSA BARBOSA
RENATA BRANDãO
Coprodução/Co-production:
HYSTERIA
Fotografia/Photography:
LíCIA AROSTEGUY
Montagem/Editing:
MARíLIA MORAES
Elenco/Cast:
LIETTE DE SOUZA
ANGELA NENZY
JANE PEREIRA
DENIZE CORREIA
BERTHA NUTELS
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