Beth Carvalho e Fundo de Quintal em uma noite histórica e emocionante
Por Marcelo Faria
Foto por Marcelo Faria
Na noite deste sábado, Beth Carvalho e o Fundo de Quintal proporcionaram ao público uma noite repleta de emoção, primeiro pelo fato histórico relevante do show pelos 40 anos do álbum antológico – De pé no chão, gravado por Beth Carvalho, na companhia de músicos, ainda “amadores”, mas acima de tudo, talentosíssimos que se reunião na quadra do Cacique de Ramos.
Segundo pelo exemplo de profissionalismo da nossa Madrinha, sempre magnífica! Uma guerreira genial, bravo símbolo de resistência, pelo prazer de cantar samba! Digna representante do samba provou para todos nós espectadores do belo show, que com amor pelo que se faz, superamos todos os obstáculos. Parafraseando os versos no samba “Passarinho”, de Chatim, faixa nove do LP De pé no chão, onde este espírito livre, apaixonado, poético, lírico de Beth Carvalho, sintetiza o prazer de cantar, mesmo em condições adversas.
Beth, mesmo com muitas dores, decidiu cantar deitada para manter o espetáculo. Compondo o cenário do palco foi colocado um “chaise longue”, uma espécie de divã. Nossa DIVA, elegantemente vestida com um vestido do mesmo modelo que usou para fazer a capa do LP em 1978, cantou magistralmente!
“Quero viver como um passarinho
Cantar, voar sem direção
Quando quiser construir meu ninho
Hei de encontrar um coração
Por enquanto eu quero viver
Com toda liberdade
Cantando aqui, pousando ali
Esta é a minha vontade…”
O Fundo de Quintal como sempre espetacular, acompanhou a madrinha com a competência e excelência que lhes são peculiares. Várias histórias foram lembradas durante o show, a mais intrigante e hilária, foi quando da decisão da Beth em convidar os músicos sem experiência profissional e em conversa como o maestro e produtor Rildo Hora, que ainda ressabiado e desconfiado do talento dos tais músicos, propõe um encontro no estúdio para fazer um “bate-bola” – tocar um pouco para serem observados e avaliados. Eis que chegam os músicos, entre eles o Ubirany, com seu repique de mão, instrumento criado por ele, com o couro rasgado, pronto, pausa para gargalha geral! Então põe-se fita crepe no instrumento e foram para o teste, Rildo fica abismado com forma com que os músicos tocavam e extraiam o som dos instrumentos, aí do bate-bola, foi só fazer o gol e assim foram contratos e gravaram o LP De pé no chão. Genial!
No repertório do show estão clássicos do samba que até hoje animam e emocionam a nós todos, como “Vou Festejar”, “Ô Isaura”, “Goiabada cascão”, “Passarinho”, “Agoniza mas não morre”, entre outras pérolas, do disco “De Pé no Chão”, composições de gênios como Cartola, Nelson Cavaquinho, Candeia, Martinho da Vila, Monarco, Beto Sem Braço, Jorge Aragão, Wilson Moreira, Nei Lopes, Neném, Pintado, Guilherme de Brito e até Paulo da Portela. Esse era um time dos sonhos de compositores e de canções que entraram para a história. Além das 12 faixas desse disco, Beth Carvalho e Fundo de Quintal cantaram músicas que fazem parte da carreira deles, como “Coisinha do pai”, “Doce refúgio”, “Além da razão” do repertório da Beth, e que foram feitas por compositores ligados ao Cacique de Ramos, e também “O show tem que continuar” “Batucada dos nossos tantans”, “E eu não fui convidado”, do repertório do Grupo Fundo de Quintal.