8ª- VAI-VAI

Por Redação
Reportagem
Roberta Campos, Vinicius Aguiar e Vitor Oliveira
- Sinopse
“…lembranças eu tenho da saracura, saudades tenho do nosso cordão…”.
Em andança por estas mesmas ruas, agora tomadas pelos arranha-céus, me vem à mente estes versos imortais. Não sei precisar ao certo quando foi a primeira vez que os ouvi, ainda que tenha a estranha certeza de sempre ter os conhecido.
O que sei é que minha história por essas cercanias começa muitos anos atrás, quando, sob influência da folia carioca, o Temido Cordão –de episódios memoráveis –adormeceu para dar origem a gloriosa Escola de Samba Vai-Vai.
Do Velho Bixiga -de seus cortiços e casarios -partiram rumo ao novo cenário os mais nobres brincantes: os príncipes batuqueiros e damas meninas, reis negros e rainhas baianas, com toda a tradição de uma corte popular.
Os feitos deste povo, dessa nossa nação, seriam imortalizados agora como estrelas –como nas mitologias antigas -e comporiam sob a proteção da coroa e dos ramos de café, a maior dentre todas as constelações.
Para elas, as joias de nossas conquistas, damos o nome de Álamo, aquilo que nos consagra como vitoriosos, as virtudes que nos colocam “acima dos fortes”.
E para alçá-las, no passo do tempo que corria em direção ao novo horizonte, nossos sambistas levaram consigo aquilo que havia de mais genuíno em essência: força e galhardia inigualáveis, uma energia capaz de seduzir os olhos e arrebatar os corações. O preto e o branco, solitários, encontraram outras cores e pintaram a aquarela de nosso renascimento. Ao som de acordes fascinantes, nossos bambas embarcaram no carrossel de enredos fantasiosos, emergidos da imaginação.
Éramos agora os babalaôs do eterno amanhecer, os guerreiros do céu e da terra, os arlequins e colombinas de um país verde e amarelo, gente que apostava na alegria pra mudar a vida e queria fazer de todos os dias um inesquecível carnaval.
Por vezes, demos a volta no mundo, na roda viva do cotidiano, como personagens de nossa própria história, com nossos pequenos e grandes milagres, nossas nuances e nossa fé.
E quando sonhar foi preciso, fizemos de sonho a nossa odisseia e seguimos rumo ao marco do século, a virada do milênio que trazia à humanidade tantas expectativas, temores e reflexões. O ouro de tolo e os questionamentos sobre o valor da vida, despontaram pela noite feito um clarão, através da nossa vibração; um alento boêmio para o dia-a-dia de um povo combalido que só via no samba o caminho para transformar a tristeza em euforia!
Tomamos a imagem e semelhança de quem fora capaz de reconstruir sua própria existência –no oriente de sua trajetória -para enfrentar as profecias mais sombrias e adentrar a nova era com a certeza de que, se não era possível mudar o passado, dependia de nós reescrever o futuro, éramos a própria esperança.
E nossa ascensão definitiva seria embalada pelas fagulhas cintilantes deste novo tempo. A luz da paz, com o calor emanado das mãos unidas, daria um toque de
consciência e traria a cena uma nação tomada pela cegueira, um transe que nem o farol de seu lábaro de estrelas fora capaz de despertar.
Nosso grito acordou então os filhos desta pátria abandonada, na trilha das clássicas melodias, num ato de inebriada comoção. Na transversal do tempo contra todos os adventos, reverberou a emoção, a apoteose das massas. Como manda a tradição, a velha máxima, o povo foi a voz divina da nossa consagração.
É através deste coro –do canto que ecoa em prece de nossas ruas –de nossa gente, que nos encontramos outra vez em estado de graça, no ponto mais alto de nossa jornada, no apogeu. Somos assim, gente que faz da queda o motivo da superação.
Esse é o nosso jeito de chorar sorrindo, de celebrar o ser, o existir e o resistir. O VAI-VAI de Corpo e Álamo*, alma e calor no asfalto, como diz o nosso exaltação.
- Justificativa
Cartola no coco e camisa listrada, calça alinhada, cigarro de palha e tamborim.
O Criolé surgiu a imagem e semelhança de outros tantos crioulos, descendente dos melhores brincantes de rua. Ele é um símbolo, uma identidade, caricatura do próprio sambista da saracura, aquele que personifica a escola ao vestir-se de suas cores –o preto e branco –um pouco de cada um dos que leva o VAI-VAI dentro do coração, um pouco de cada sambista, de cada escola de samba que faz parte deste mítico universo.
Sua criação, no início dos anos 70, foi idealizada quando a folia paulistana era finalmente reconhecida pelas autoridades e –agora não mais marginalizada -importava sob influência carioca o modelo de ESCOLA DE SAMBA para ocupar o lugar dos blocos de embalo e grandes cordões.
Neste processo havia inúmeros desafios, dentre eles –e talvez o maior de todos –estava preservar as características marcantes de nossa agremiação. Nosso malandro urbano, então, seria o marco desta passagem, a comunhão entre o ontem e o amanhã.
Como testemunho participe, ele esteve no meio de nós, a frente, ao alto, em nossas alegrias e dissabores, nas epopeias de avenida e nos ensaios que antecediam os desfiles, nas letras do samba, no comando dos enredos, no corpo e na alma de cada folião.
Nestas “Bodas de Álamo” é ele quem vem contar os triunfos, as grandes vitórias de nosso povo, justamente por serem estas vitórias as que nos fizeram os maiores campeões do carnaval paulistano. Outra vez, ele riscará o chão com seus passos mágicos e espalhará a energia capaz de dar vida até as mais distantes recordações.
- Ficha Técnica
Fundação: 1/1/1930
Cores oficiais: Preto e branco
Presidente: Dra. Ana Murari
Carnavalesco: Chico Spinoza
Mestres de Bateria: Tadeu e Beto
Primeiro Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Reginaldo Romualdo Pereira (Pingo) e Paula Fernanda Penteado (Paulinha)
Diretor Geral de Carnaval: Lourival de Almeida Campos
Diretores de Harmonia: Edson Francisco Paulino (Buiu)
Intérpretes: Luiz Felipe e Washington
Colocação em 2019: 14º Lugar – Grupo Especial
Ordem do Desfile em 2020
Acesso I – Domingo – 23/02
8ª Escola à Desfilar – 04H
- Letra do samba
Enredo 2020: “Vai – Vai de corpo e álamo”
O meu Bixiga é encanto e magia
Show de melodias que pairam no ar
Vai Vai traz no peito as suas estrelas
E vai te emocionar
Vai alvorecer
E no despertar de um novo dia
Vou eu, recriando a história
Um passado de glórias
Nesse chão de poesia
Vamos viajar pelos caminhos da folia
Chuva de confete e serpentina
Damas meninas embalando a multidão
Transformando em passarela a Avenida São João
Busquei no orum o azul mais bonito
Pra eternizar Noel
Nas voltas do mundo fui força e milagres
Girando em um carrossel
Num toque fiz brilhar
Valores que brindei
Nos braços da boemia
Divaguei com olhos de criança
Vi um facho de esperança
Nas viradas da alegria
Acorda meu amor
Vem clarear os sonhos meus
Que um novo dia vai raiar
Pra iluminar os filhos seus
A música venceu
E além do tempo eu hei de ver
O álamo do samba florescer
Composição: Afonsinho BV, DaMatta, Dani Almeida, Koke, KZ, Ronaldinho Do Fundo De Quintal