7ª- X-9 PAULISTANA fecha a primeira noite de desfiles pelo Grupo Especial de São Paulo
Por Redação
Reportagem: Roberta Campos, Vinicius Aguiar e Vitor Oliveira
Suporte Técnico: Jack Costa
- Sinopse
Que som é esse, que dita o ritmo das batidas do meu coração,
entra pelos ouvidos, percorre minhas veias e cadencia a pulsação?
É um toque envolvente, um toque de fé, um toque de religiosidade,
que diz muito sobre quem sou e minha ancestralidade.
Pois vem da África o meu batuque!
(acredite em mim, um velho contador de história,
que mesmo com o avanço da idade, guardo tudo na memória)
Afinal, falo com a propriedade de quem muita coisa testemunhou,
eu vi o princípio de tudo e conto agora como começou…
Era uma época sombria, onde armadilhas tiravam vidas, sem piedade, sem dó.
Ví os gêmeos Ibejis enganarem a morte, “Ere mi beje eró!”
Dos seus tambores mágicos, emanou-se o mais puro som que se ouviu até então,
trazendo tempos de alegria, abrindo caminhos para salvação.
E por lá trilhamos um novo rumo, numa espécie de cortejo sagrado,
onde cada irmão de raça e fé, por nosso rei maior sentiu-se abençoado.
E a mim, os Ibejis deram uma missão que me deixou intrigado:
Encontre nosso batuque novamente e serás recompensado.
Hoje meus olhos marejam, sou tomado pela emoção.
ao relembrar minha origem e esse momento de afirmação.
com o peito pulsando forte, digo com certeza e com moral,
eu sou o digno representante do batuque ancestral.
Porém, o tempo passou, e os ventos que propagaram o som do meu tambor,
também trouxeram o cruel invasor.
Tive a liberdade suprimida nos elos de uma corrente,
fui arrancado da minha terra e levado para outro continente.
Numa viagem rumo ao desconhecido, carreguei comigo a saudade,
crenças, costumes e minha musicalidade,
Aportei num lugar onde brancos ditavam as regras, dominavam o local,
com forte influência européia, principalmente da corte de Portugal.
Conheci um povo sábio e guerreiro, que ao meu se assemelha,
me encantei ao ouvir os tambores dos nativos de pele vermelha.
mal sabia que naquele momento, um novo destino estava sendo traçado,
da mistura dessas raças, vi nascer um país miscigenado.
Brasil dos ritos e festejos e do sincretismo religioso,
lugar onde seguirei minha trajetória, firme e orgulhoso
pois sou descendente do batuque Ibeji, isso posso afirmar
vou em busca de novas histórias e meus ouvidos vão me guiar.
Começo onde uma linha imaginária divide os hemisférios,
no Amapá de tantos encantos e mistérios
ao som da caixa de Marabaixo, participei de uma linda festa.
Segui adiante, guiado por um ritmo que vinha da floresta,
naveguei por um gigante de água doce, até chegar a ilha da magia
em Parintins, descobri que o azul e o vermelho são as cores da alegria
e tambores celebram a cultura popular dessa maravilhosa terra,
salve a encarnada batucada do povão e a azulada marujada de guerra!
Me despeço do Amazonas, numa cerimônia sem igual,
o rito de passagem da moça ticuna é marcado pelo verdadeiro toque tribal.
Chego ao Pará, para uma das experiências culturais mais intensas que vivi,
onde Mundurukus e Muirapiminas ditam o ritmo do Festival de Juruti.
E numa aldeia de pescadores em Marajó,Ouvi e dancei o famoso carimbó.
Bate a mão no couro tocador!
Pois em Tocantins, a Sussia é dançada ao som da cuíca e do tambor.
O que vi pela frente seu moço, me deixou maravilhado,
vi um nobre com coroa de imperador e bravos cavaleiros, bem no meio do cerrado,
seguidos por uma procissão, onde a fé de duas raças se misturavam num único rito,
louvando o sagrado Espírito Santo, a Senhora do Rosário e também São Benedito.
Da cavalhada, mascarados e o lindo foguetório,
passando pela banda de couros com seu vasto repertório,
tudo ficará na minha memória (ao fechar os olhos, já imagino)
o dia que conheci o batuque da alvorada, lá da Festa do Divino.
Parto rumo ao Nordeste, em busca de um ritual de fé
no maranhão, fui a casa fundada pela rainha de Daomé
onde voduns são cultuados, pois é Jeje sua nação
e hábeis runtós batem tambor de mina, como diz a tradição
e por falar em tradição…
Vi casais dançando o xote no sertão até a poeira levantar
ao som da sanfona e zabumba, se divertiam até o dia clarear
e no meio da agreste, reduto de cabra macho,
ouvi rifles batendo no chão e cangaceiros bailando no mesmo passo,
comemorando as vitórias do bando do valente Virgulino,
o xaxado é patrimônio cultural do povo nordestino.
De lá, fui para uma terra que encheu meu coração de alegria,
revi irmãos de raça e fé, quando cheguei lá na Bahia.
No recôncavo, onde sambadeiras com vestidos rendados, ditavam a moda,
toquei pandeiro, ganzá e berimbau, num grupo de samba de roda.
Em Salvador, bati tambores e atabaques num terreiro de candomblé
e ao som de agogôs e xequerês, desci ladeiras num bloco de afoxé.
Me despeço daqui, com as lembranças de vivi nesse lugar sensacional
e chego a outra terra com a mesma grandeza cultural.
Fui recepcionado por cacique e porta estandarte, num gesto de carinho,
em Pernambuco, toquei maraca e bumbo e dancei o caboclinho.
E na abertura do carnaval de Recife, vi um cortejo de rara beleza,
alfaias e agbês, anunciam a chegada de representantes da realeza.
Presenciei um momento que por mim será sempre lembrado,
o encontro das nações de Maracatú de baque virado.
A essa altura, uma certeza pairava em minha mente,
a cada lugar visitado, maior era o fascínio pela batucada dessa gente.
No Espirito Santo, conheci o Ticumbi, um folguedo tradicional
onde um duelo entre o rei do congo e o rei de bamba, faz parte do ritual
E ao som do ganzá e do pandeiro, demonstram devoção à São Benedito padroeiro.
Foi nas Minas Gerais, que encorporei a devoção desse povo mais uma vez,
toquei caixa em homenagem ao pretos libertos na festa do Catopês.
Veio do Sul, um som grave feito um trovão
o tambor de sopapo no Rio Grande é tradição.
Africanidade em minhas veias, a gunga de lata aprendi a tocar,
presente em várias cidades da região, a congada se fez popular.
Vejo uma estrela no céu com um brilho encantador,
pois hoje é dia dos Santos reis, epifania do senhor.
Regidos por violas, tambores e flautas e na igreja o ressoar do sino,
devotos vão de casa em casa, relembrar o nascimento do Deus Menino.
Chego a um cenário natural, que de tão bonito parece irreal,
de todos os lugares que percorri, o Rio de Janeiro tem o mais belo visual.
Local onde irmãos vindo de Angola, trouxeram suas cerimônias e rituais
para fugir da repressão, os pontos eram entoados numa lingua cifrada
por isso, o jongo subiu o morro e na serrinha fez sua morada.
Da senzala para favela, a vida do meu povo pouco mudou, continuou o sofrimento
mas, as noites de batucada serviam como alento.
Não demorou para o nosso toque ser ouvido em outros lugares da cidade,
meu “semba” virou samba e o ritmo se espalhou com facilidade.
Fiquei deslumbrado com o entrudo, ranchos e cordões, achei tudo sensacional,
uma explosão de alegria, nada se compara aos desfiles de carnaval.
Logo meu batuque ganhou bares, terreiros, quadras e quem diria…
virou presença obrigatória nas noites de boemia.
Agora sou sambista nato e guiado por ogum meu padroeiro,
que também é Jorge o meu Santo Guerreiro,
no rufo dos ogans, que ele e todos os orixás, me dessem proteção
para o prosseguir do meu caminho e o término de minha missão.
Fui em busca de uma resposta e na terra da garoa eu cheguei
e logo me surpreendi com o que encontrei.
Ao som do tambú, matraca, guaiá e moda cantada
homens e mulheres dançavam o batuque da umbigada.
Vi um samba tocado diferente de todo mundo,
para fazer a alegria daquela gente, bastou apenas um bumbo.
segui em procissão, para uma cidade que o nome digo agora,
me empolguei com o samba do povo negro, nos barracões de Pirapora.
Com uma batida acelerada que lembrou o som dos meus ancestrais,
conheci muita gente bamba e sambista imortais
e com eles parti para a capital, para morar na periferia
e nesse local quem diria, comecei a enxergar a samba como arte,
pois fazia minha batucada numa latinha de graxa, trabalhando como engraxate.
Fiz parte da malandragem e da boemia, foram tempos de felicidade,
vi nascer os primeiros cordões e escolas pelos quatro cantos da cidade.
A essa altura não tinha mais como negar,
essa batucada me conquistou e São Paulo é o meu lugar.
E numa das minhas andanças, por uma quadra da zona norte,
por um instante, meu coração pulsou mais forte,
ao ouvir no toque da bateria da X9, um som familiar,
minha missão chegou ao fim, pois o batuque Ibeji, acabei de encontrar
e como recompensa, por ter cumprido a risca o que me foi ordenado,
como o rei do samba, por eles fui coroado.
E no reino do carnaval, minha primeira ordem não é difícil de imaginar…
Oi, dá licença, deixa a X9 passar!
- Justificativa
A ideia dessa letra é a de fazer uma viagem cultural pelo Brasil, contando um pouco da batucada de todas as regiões e religiões do país.
- Ficha Técnica
Fundação: 12/02/1975
Cores Oficiais: Verde, Vermelho e Branco
Presidente: Ailton Martinelli da Silva (Branco)
Vice-Presidente: Paulo Perez
Direção de Carnaval: Pê Santana e Edson Assunção Júnior
1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Marquinhos e Lyssandra Grooters
Carnavalesco: Pedro Alexandre Magoo
Intérprete Oficial: Pê Santana
Mestre de Bateria: Fabio Américo
Rainha de Bateria: Juju Salimeni
Coreógrafa da Comissão de Frente: Yaskara Manzini
Diretor Geral de Harmonia: Comissão de Harmonia (Douglas Pinto, Ubiratan Melo, Arnaldo Coelho e Aguinaldo Coelho)
Colocação em 2019: 10º lugar – grupo Especial
Ordem do desfile em 2020:
Grupo Especial – Sexta-Feira – 21/02
7ª escola a desfilar – 06h15
- Letra do samba
Enredo 2020: “Batuques para um Rei coroado”
Eu sou o samba, rei do povo brasileiro,
sou o batuque da x-9 nos terreiros
de ogum, meu padroeiro, e de todos os orixás,
na pulsação que vem dos ancestrais.
Quando um toque ritmado toca o destino,
cada passo mostra o que passou.
Sou um contador e conto a dor de um peregrino…
um som divino me enfeitiçou.
Vi os ibejis beijarem a sorte,
a morte singrar o oceano.
Mudaram os ares, os mesmos olhares,
ferida no corpo, a alma espelha.
Rufam tambores que marcam a pele vermelha…
O som da marujada,
na tribo que festeja,
encanta a batucada,
começa a peleja.
Rito da moça na aldeia, tom que passeia no ar…
é valor de mina longe a ecoar.
Arrasta-pé no chão rachado,
poeira vagueia ao luar do sertão.
Brilham forró e xaxado,
festa do divino e são joão.
Gira a saia e abre a roda,
alegria transborda também na bahia…
maracatus, caboclinhos,
seguindo o caminho que a fé irradia.
No ticumbí, no catopês,
pandeiros, ganzás, xequerês.
Dos atabaques do jongo à folia de reis…
a zona norte desfila e emociona outra vez
Compositores: André Diniz, Cláudio Russo, Marcio André filho, Arlindinho, Marcelo Valência, Pê Santana