2ª- TOM MAIOR é a segunda escola a entrar no Sambódromo do Anhembi pelo Grupo Especial
Por Redação
Reportagem
Roberta Campos, Vinicius Aguiar e Vitor Oliveira
- Sinopse
Primeiro setor: Introdução.
A chegada do Negro no Brasil não como escravo, mas como portador de uma bagagem cultural própria, que irá contribuir na formação de nossa identidade.
“Eu não vim a esta terra pra ser escravo nem servil. Se a dominação me fez mercadoria, minha luta é quem me faz senhor do meu destino. Eu vim pra ser protagonista da história, Pilar da identidade do Brasil. Nada de minha trajetória veio de favor. A liberdade se conquista dia a dia, com a genialidade, a força e a maestria de líderes com a minha cor. Essa história também é minha. Pra conquistar eu dei meu sangue. E é sangue forte, é meu sangue, sangue de preto. Dizer que o suor do negro faz parte da construção do Brasil é repetir o óbvio. É preciso enxergar além do básico e perceber que a contribuição para a formação de nossa nação, de nossa identidade cultural, vai muito além da força dos músculos ou do fruto da exploração. É muito trabalho, é meu trabalho, é trabalho de preto.”
Segundo setor: O reconhecimento óbvio.
O senso comum associa o talento negro aos espetáculos e artes populares. Esse reconhecimento é de alguma forma limitante, mas não pode ser desprezado. O negro fez por merecer estas conquistas que serão mostradas no segundo setor, inclusive em aspectos menos conhecidos destes méritos. Mussum, Ruth de Souza, Grande Otelo, Aracy de Almeida, Cartola, Clementina de Jesus, Elza Soares, Ivone Lara, Leci Brandão, Aída dos Santos, Dayane dos Santos, João do Pulo, Leônidas da Silva, Maguila, Marta.
“Nos esportes, sair do óbvio é perceber que para que houvesse um Rei, muitos soldados tiveram que se sacrificar. Quando o futebol ainda não tinha se naturalizado brasileiro, o esporte bretão era reduto dos ricos e, por consequência, dos brancos. A história conta que alguns jogadores tinham que usar pó de arroz no rosto para jogar em clubes aristocráticos no início do século passado. Mas não foi só o futebol que contou com a força do Negro para consagrar nosso país. Nos passos rápidos e velozes nas pistas, os golpes certeiros nos ringues, ou na graça de uma menina gaúcha: onde houve glória verde amarela, teve talento. E é meu talento, é talento de Preto. Na cultura, o talento de artistas negros construiu não apenas o Samba mas a essência da musicalidade brasileira. Na coxia e na ribalta, atores e atrizes negros emocionaram o país de um modo especial. Aqui ninguém é coadjuvante. Comediantes icônicos marcaram gerações com uma forma própria de humor. Cantores e cantoras de voz potente, arrepiaram corações e almas com sua voz. É meu som, é som de preto.”
Terceiro setor: A intelectualidade negra.
Neste momento o desfile passa a superar o senso comum e a expor a contribuição negra para além do óbvio. No Brasil, as artes “eruditas”, bem como a literatura, a poesia, tem em artistas e intelectuais negros alguns de seus maiores expoentes. Chiquinha Gonzaga, Emanuel Araújo, Carolina Maria de Jesus, João do Vale, Sérgio Vaz, Lima Barreto, Machado de Assis, Conceição Evaristo, Pixinguinha, Araci Cortes, Elizeth Cardoso; Mercedes Baptista, Zózimo Bulbul
“Mas, se o talento do negro o faz brilhar nos esportes e espetáculos, é muito importante dizer que limitar sua contribuição a isto é desconhecer o patrimônio cultural de nosso país. Escultores e artistas plásticos de sensibilidade negra ocuparam galerias do mundo inteiro. O barroco brasileiro tem em um artista negro seu maior expoente. É arte de ponta, é minha arte, é arte de preto. E minha arte não se faz só pra divertir ou encantar. Vem também pra questionar, pra incomodar. Vem na ironia de um machado que não se pôs a cortar madeira, mas a romper barreiras e fundar a Academia Brasileira de Letras, ampliando os horizontes de nossa literatura e inspirando tantos outros escritores e escritoras, poetas e cronistas, intelectuais negros. Baobá de onde brotam os rappers e partideiros. Só quem traz as costas marcadas pode entender as dores. Só quem traz os olhos atentos pode enxergar os problemas. Só quem traz a inteligência e a sensibilidade ativas pode esclarecer as respostas. Tem que ter cabeça. A minha cabeça, cabeça de preto.” Quarto setor: Os transgressores sociais.
Neste setor, elencamos algumas personalidades negras que, cada um a seu modo e momento histórico, transformaram a sociedade por suas atitudes e questionamentos. Sua postura e atitude vão influenciar a sociedade brasileira, provocando rupturas e evoluções. Abdias do Nascimento, Djamila Ribeiro, Eva Maria, Madame Satã, Mãe Menininha do Gantois, Mano Brown, Mestre Bimba, Tia Ciata.
“Mas não se transforma uma sociedade, não se impõe sua dignidade, sem dar a cara preta a tapa. Quem quer farinha tem que socar o pilão. E não foi diferente com nossas tias baianas, nossos mestres capoeiras e nas noites infernais da Lapa em que uma alma negra transgressora fez valer o seu talento. O samba, o rap, o funk, os saraus pelas periferias, são muito mais que um som, são uma voz de afirmação, um estilo preto de viver. E para fazer valer sua identidade, pra influenciar e se assumir, tem que fazer a coisa ficar preta. Tem que ter atitude. É minha atitude, atitude de preto.”
Quinto setor: Defensores da igualdade.
No último setor, retratamos personagens que atuaram na vida política do Brasil, participando de momentos históricos como a luta pela independência e, obviamente, da conquista, pelo povo negro, da abolição da escravatura. André Rebouças, Antonieta de Barros, Chico da Matilde (Dragão do Mar), Ernesto Carneiro Ribeiro, Joaquim Barbosa, José do Patrocínio, Laudelina de Campos, Luisa Mahin, Luiz Gama, Maria Felipa, Maria Firmina, Milton Santos, Nilo Peçanha.
“E foi essa atitude, essa presença, que me fez ser ator da minha história, escritor do meu destino, questionador do meu presente e, acima de tudo, senhor da minha luta. A liberdade não veio nem a igualdade virá de favor ou de bondade. Se conquistou e seguirá sendo buscada pela força e pela intelectualidade de gênios guerreiros, arquitetos de nossa trajetória. Homens e mulheres, soldados e juristas, políticos e trabalhadores negros. A dignidade será cantada em Tom Maior graças à luta. A minha luta. A luta de preto.”
- Justificativa
“É Coisa de Preto” é um enredo afirmativo, que mostra que a contribuição de negros e negras para a formação de nossa nação, vai muito além do estereótipo.
Nosso desfile mostrará como os africanos se tornaram afro-brasileiros e trouxeram sua contribuição, não só física, mas (principalmente) intelectual no desenvolvimento de nossa sociedade. Líderes, estudiosos, escritores, poetas, artistas populares e eruditos, transgressores sociais… Personagens que o preconceito insiste em ofuscar de nossa história, mas que devem ser trazidos aos holofotes para o devido reconhecimento, e também para inspirar as novas gerações. A partir da subversão de uma expressão racista, mostramos que “Coisa de preto”, “serviço de preto”, “arte de preto” na verdade são alguns dos pilares essenciais de nossa
sociedade, escancarando que ignorante é quem desconhece a verdadeira importância de negros e negras em nossa história.
- Ficha Técnica
Fundação: 14/02/1973
Cores oficiais: vermelho, amarelo e branco
Presidente: Luciana Silva
Carnavalesco: André Marins
Mestre de Bateria: Carlão
Primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira: Jairo Silva e Simone Gomes
Diretor de Harmonia: Yves Alexeiv
Diretor de Carnaval: Judson Sales
Rainha de Bateria: Pâmella Gomes
Coreógrafo da Comissão de Frente: Alex D’arc
Intérprete: Bruno Ribas
Colocação em 2019: 12º lugar – Grupo Especial
Ordem do desfile em 2020
Grupo Especial – Sexta-feira – 21/02
2ª escola a desfilar – 00h20
- Letra do samba
Enredo 2020: “É Coisa de Preto”
Um guerreiro da cor
Herdeiro de Palmares
Sou Tom Maior, a voz da liberdade
A minha força pra calar o preconceito
É coisa de pele, é coisa de preto
Senhor, não vim pra ser escravo nem servil
Sou filho dessa pátria mãe gentil
Que traz a esperança no olhar
Oh meu Brasil… que tanto sustentei em meus braços
Espelha tua grandeza num abraço
Revela o meu dom de encantar
Não é esmola teu reconhecimento
O meu talento é mais que samba e carnaval
Na luz da ribalta,
Retinta beleza se fez imortal
A negra inspiração… É poesia
A arte de criar… É quem me guia
Floresce de um baobá
Um pensamento de amor
Herança que a mordaça não calou
Se a vida deixou cicatrizes
Ideais são raízes do meu jeito de viver
Faço da minha negritude
Um legado de atitude, inspiração pra vencer
Lutar… é preciso lutar por igualdade
Liberdade… fazer da resistência uma nova verdade
Soprando a poeira da história
A nobreza em meus olhos brilhou
É o dia da nossa vitória
Conquistada sem favor
Compositores: Gui Cruz, Rafael Falanga, Vitor Gabriel, Portuga, Imperial, Elias Aracati, Luciano Rosa e Reinaldo Marques, Marçal e Willian Tadeu