2ª- COLORADO DO BRÁS é a segunda escola a desfilar pelo Grupo Especial de São Paulo
Por Redação
Reportagem
Roberta Campos, Vinicius Aguiar e Vitor Oliveira
- Sinopse
Lisboa, Portugal – Muitos anos atrás.
Prazer a todos. Me chamo Sebastião, mas me chamem de Dom, por favor. Afinal, sou um rei, independente do que falem por aí.
Minha história será contada da forma que eu quero, então, não se prendam em datas ou marcos históricos. A cronologia será da minha própria cabeça, afinal, a minha história é mais verdadeira quando contada por mim mesmo.
Nasci em Lisboa, capital do meu Império. Meu pai, João Manuel, na época era o príncipe de Portugal. Minha mãe, Joana de Áustria, além de princesa do nosso país, também era arquiduquesa da Áustria.
Toda a minha família vivia em torno da coroa portuguesa e meu nascimento foi marcado por diversas comemorações e bailes de festa. Não é todo dia que nasce o herdeiro do trono português, não é mesmo?
Mas o que ninguém imaginava, é que em menos de 3 anos, meu avô e meu pai morreriam, e o trono ficaria nas mãos da minha avó, Catarina de Áustria, que por medo de perder o Império, me colocou, com apenas 3 anos, para ser o novo rei de Portugal.
Cresci em meio ao poder da corte, mas assumi de fato o cargo aos 14 anos, o que para muitos era cedo, mas eu sabia que era o momento. Afinal, governar um país inteiro não deveria ser tão difícil assim. Finalmente eu realizava meu sonho real: ter a coroa em minhas mãos, ou na minha cabeça.
Entre as minhas ideologias, com certeza a religiosa foi a que mais guiou minhas decisões. E entre tantas histórias, a batalha de Alcácer-Quibir foi a que mais marcou minha passagem na terra.
Depois de algumas empreitadas de sucesso em favor da minha religião, fui procurado por um amigo: o sultão Mulei Maomé. Ele havia perdido o trono do Marrocos para seu tio, Mulei Moluco e me pediu ajuda para que pudesse recuperá-lo.
Na minha visão, aquela era a oportunidade de expandir o cristianismo naquela região e poder pregar os meus ideais em terras tão sagradas quanto as do Marrocos; além é claro, de explorar as riquezas naturais daquele país. E para isso, juntei aliados. Fui atrás dos países que haviam me ajudado em outras oportunidades, conversei com líderes italianos, alemães, belgas, mouros e espanhóis. Partimos rumo à grande fortaleza: Marrocos.
Mas nada disso aconteceu… e o que eu planejei, não deu certo. E tanto eu, quanto os dois sultões que disputavam o trono, nunca mais fomos vistos – ou pelo menos, acham que não – e por isso essa batalha ficou conhecida como a Batalha dos Três Reis.
Para muitos, eu morri, para outros, me escondi. Também dizem que me prenderam, mas essa parte da história, eu deixo para contar daqui a pouco.
Para entender os motivos que me levaram a invadir o Marrocos, eu preciso explicar um pouco mais sobre os meus ideais.
E a primeira coisa é: Eu não fui um louco!
Isso eu garanto, por mais que muitos tenham dito isso de mim por aí… Tudo que fiz, foi na minha plena consciência e na certeza dos meus próprios ideais – acreditem em mim.
Dizem por aí que na época que fui rei, o movimento da inquisição – a caça àqueles que não seguiam a minha religião – se tornou maior. Confesso que, de fato, em alguns momentos eu não queria bruxas ou pagãos por aí, mas na maioria, é meramente conversa de quem não gostava de mim.
Fui um dos principais financiadores do movimento jesuíta. Aqueles bravos soldados espalharam muito do meu legado religioso por aí, e isso é algo de que me orgulho. A catequização de muitos povos por meio das missões foi de grande valor histórico para muitos países, já que eu sempre fui muito devoto dos meus santos católicos.
E o meu nome? Vocês sabem o porquê? Claro, além do fato dos meus pais terem um ótimo gosto, eles me deram esse nome porque nasci no dia de São Sebastião. Ora, claro que minha fé vinha de algum lugar, e meu principal santo padroeiro sempre foi São Sebastião.
Muitos dizem que a minha fé cristã foi o que me levou à morte, mas eles se enganam, até porque, ninguém sabe como eu morri, não é mesmo?
Muitos acreditam que foi na batalha do Marrocos, mas será que foi mesmo?
Existem histórias de que eu estive escondido em diversos lugares. Relatam que me viram na Índia, onde eu teria morado com monges. Muitos dizem que fui morar no Vaticano, escondido no subsolo dos grandes templos, ou até que morei em mosteiros.
Além disso, muitos sabem de pessoas que tentaram se passar por mim – Mas será que não era eu mesmo?
Existe a história de um confeiteiro, que não sabia falar português, que vinha do Madrigal, e se passou por mim. Esse realmente não era eu, mas até que ele conseguiu enganar muita gente.
Mas com certeza, a história que mais deixa esses historiadores intrigados é sobre o Prisioneiro de Veneza. Um homem, com semblante absolutamente parecido com o meu, até com marcas no corpo iguais às minhas, e que sabia absolutamente tudo sobre mim, e surgiu 20 anos depois do meu sumiço. Ele chegou a ser agraciado com muitos benefícios, mas no fim acabou sendo preso e condenado à pena de morte – mas pergunto de novo, será que não era eu mesmo?
Aqui pelo Brasil eu também virei lenda. E quem diria que no meio da guerra de Canudos, muitos dos viajantes que passaram na região diziam que eu voltaria para reestabelecer a monarquia e restaurar a ordem no sertão da Bahia, que vivia em guerra naquele momento. E até o próprio Antônio Conselheiro vivia dizendo por aí que eu tinha enviado presentes pessoalmente para ele, e dizia ser meu amigo. Será?
Mas eu quis terminar essa história no Brasil, justamente para responder a uma pergunta: Que rei sou eu?
Eu sou o rei que viverá para sempre aqui! Em terras brasileiras, porque foi aqui que me encontrei. E para ser mais preciso, foi no Maranhão, nos Lençóis Maranhenses. Ali onde até me casei com a lua. Ali que dizem que reencarno como um touro negro. Ali onde tem um boi bumbá que se inspirou na minha lenda – e usa uma estrela dourada na testa para representar a estrela do Marrocos, lugar que eu sempre quis conquistar.
E todas as vezes que as ondas encostam nas areias das praias maranhenses, uma certeza sempre existirá – ali estou eu.
Naquelas águas, um dia, acharão o meu castelo submerso, onde escolhi morar pela eternidade.
E onde estarei para sempre. E quando vierem me visitar, me tragam uma água de coco e óculos escuros para que eu possa tomar um sol… afinal, eu ainda sou um rei, não é mesmo?
Viva o Brasil
Viva o Maranhão
Viva Dom Sebastião
Viva a Colorado do Brás
- Justificativa
No carnaval 2020, a Colorado do Brás levará para a avenida a história de um rei.
Muito mais do que isso, levará a vida de um dos personagens mais enigmáticos da história da humanidade. Nascido em meio à corte portuguesa, colocado no trono aos 3 anos para defender a sua família, transformado em rei aos 14 anos e morto por sua própria ambição aos 24 anos.
Uma breve vida, marcada por mistérios, lutas, sabedoria, lendas, crenças, erros, acertos, loucura e sagacidade.
Religioso fervoroso, amante das artes, estrategista e misterioso. Chamado de “O desejado”, “Capitão de Deus”, “Adormecido”. E entre todas as suas faces: Dom Sebastião.
Sua história nunca terá um ponto final. Jamais saberemos o que de fato aconteceu. Mas, em nosso desfile, escreveremos as folhas em branco que não foram preenchidas nos livros de história.
Contaremos o que poucos sabem, desvendaremos seus segredos e faremos de sua vida uma página na nossa história.
Faremos da sua lenda, um desfile.
E ninguém melhor para contá-la do que ele mesmo!
Saindo do seu castelo submerso nas praias do Maranhão, o rei entrará em nosso desfile para contar a sua própria história.
- Ficha Técnica
Fundação: 01/10/1975
Cores oficiais: vermelho e branco
Presidente: Antônio Carlos Borges (Ka)
Vice-presidente: Gilson Ramalho
Carnavalesco: Leonardo Catta Preta
Mestre de Bateria: Allan Meira
Primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira: Ruhanan Pontes e Ana Paula
Diretor de Carnaval: comissão de Carnaval
Diretores de Harmonia: Diego de Oliveira Gonzaga, João Daniel Alves Ferreira e Natalia Garrido
Rainha da Bateria: Muriel Quixaba
Intérprete: Chitão Martins
Coreógrafo da Comissão de Frente: Wangles Kelson
Colocação em 2019: 11º lugar – grupo Especial
Ordem do desfile em 2020:
Grupo Especial – Sábado – 22/02
2ª escola a desfilar – 23h35
· Letra do samba
Enredo 2020: “Que Rei sou eu?”
O luar do Maranhão clareia
Meu samba na veia
O sonho só começou
Meu povo querendo mais
Eu sou Colorado do Brás
Se cada um escreve seu destino…
O meu foi conduzido pelo Criador
Um órfão, um guerreiro, um menino
“O escolhido”, que rei eu sou???
“No clamor desejado” capitão de Deus
Herdeiro esperado por toda nação
De nobres e plebeus
Ao santo flechado, mais que devoção…
Meu nome virou uma lenda
A coroa me fez Dom Sebastião
Pode acreditar… louco eu não sou
Missionário sonhador…
Marejado na retina
Consagrado… luz Divina
Abençoado… fiel desbravador
Lá no Marrocos segui a minha missão
Sumi do mapa, ficou a interrogação
Por onde está nossa alteza?
Na Índia ou habitando mosteiro
Preso, misterioso em Veneza
É o povo em busca do meu paradeiro…
Mas, a realidade é que sempre estive aqui
No Belo Monte ou na Praia dos Lençóis
A alegria do Brasil eu descobri
É o presente que há em cada um de nós
E o touro encantado é minha magia
Vermelho e branco, encantaria
Numa só voz…
Compositores: Márcio Pessi, Evandro Bocão, Moisés Santiago, Edson Dafféh, Marcelo Valença e André Diniz