1ª- PÉROLA NEGRA abre a segunda noite de desfiles no Sambódromo do Anhembi
Por Redação
Reportagem
Roberta Campos, Vinicius Aguiar e Vitor Oliveira
- Sinopse
Há 5000 anos começou a diáspora do povo misterioso “Romani ou Roma”, conhecidos popularmente como ciganos, que, guiados por sua estrela da sorte, “Bartali Tcherain”, partiram do noroeste da Índia para adotar o mundo como sua pátria.
Povo de língua ágrafa (sem escrita), suas histórias sempre foram transmitidas de geração para geração pela tradição oral, o que cria muitas lendas.
Entre tantas histórias, conta-se que o povo cigano fazia parte de uma Casta de guerreiros que teriam abandonado a Índia, quando o sultão Mahmud Ghazni invadiu e dominou todo o norte da Índia expulsando-os e deixando-os sem pátria. Começa assim a peregrinação desse povo pelo mundo, carregando suas tradições e cultura em baús cheios de memórias, regados por música, alegria e lealdade a suas raízes, transportando seus sonhos em grandes comboios de carroças, espalhando mistério e magia por onde passam, tendo como companheiros Kan e Chonuto, “Sol e a Lua”, o dia e a noite, em direção a novos horizontes.
O caminho é longo e árduo, afinal, conviver com outras culturas sempre traz muitos desafios, mas, esse povo destemido e livre segue sua jornada e atravessa o deserto rumo ao Egito. O império egípcio vive, por volta de 2.500 a.c., um tempo de suntuosidade e crescimento e, nessa terra de prosperidade, os ciganos desenvolvem atividades como comerciantes, artistas dentro de palácios e ainda se destacam como exímios ferreiros, mas, momentos difíceis marcam a história desse povo, que tão ligado à liberdade sofre um duro golpe desferido pelo faraó Djoser, a escravização dos ciganos, sofrendo, pela segunda vez, a discriminação devido à ignorância de outros povos.
Os ventos sopram e determinam que é necessário buscar novos caminhos e, novamente guiados pela estrela da sorte “Bartali Tcherain”, lançam-se em uma jornada protegidos por Santa Sara Kali, rumo à Europa, pelo Mar Mediterrâneo, em companhia dos Mouros.
O encontro entre culturas se faz claro, pois um povo exótico, livre, caloroso e destemido, com sua cultura peculiar marcante e seus hábitos tão distintos se chocam com a frieza e austeridade dos europeus, o que causa estranheza e temor, gerando conflitos e uma nova onda de perseguição. Caçados pela Igreja, são queimados em fogueiras como hereges e bruxos.
A magia e a arte divinatória que marcam a história dos ciganos foi muito discriminada e incompreendida atraindo ignorância e perseguição, mas traz também todo um mistério e beleza de um povo poderoso e sábio que carrega em suas memórias conhecimento e sabedoria dos inúmeros lugares pelos quais passaram.
Apesar de serem hostilizados, o povo Roma deixou a sua arte e cultura na música, dança e imortalizou a figura de grandes personagens que marcaram e honraram sua história. Depois do terrível episódio da inquisição católica, os ciganos se reergueram, e muitos se fixaram e residem nesse continente até hoje.
No entanto, no século XX, outro episódio tenebroso assolou a história desse povo tão poderoso. Na Segunda Guerra Mundial uma perseguição de imensas proporções recaiu sobre os ciganos que foram aprisionados e mortos. O holocausto deixou uma profunda cicatriz em toda a humanidade, no entanto no povo Romani, a marca foi profunda em seus corações, famílias inteiras foram privadas de sua tão amada liberdade, um flagelo que até hoje ecoa na memória desse povo.
Apesar desse grande golpe, o povo Romani sobrevive com sua força e lealdade às suas tradições.
Alguns grupos insistem em se manter na Europa e outros abrem caminho para novas jornadas, agora o mundo é seu destino de chegada.
Dessa vez chegam a terras tupiniquins carregando toda a sua tradição ao som de violinos e castanholas e trazendo em sua bagagem as marcas da história, mas, de coração aberto para novas aventuras e a certeza de um novo amanhã, onde vão desfrutar de sua liberdade e dos laços familiares tão sagrados. Em devoção a Santa Sara Kali, o povo Roma mais uma vez se curva agradecendo e pedindo a sua proteção para o novo recomeço.
O Brasil, mesmo com tantas contradições e culturas, ganhou lugar de destaque, já que foi o único país do mundo onde um Romani chegou à presidência, Juscelino Kubitschek.
Lembramos também outro episódio de destaque, quando o Roma Mio Vacite enviou uma carta ao então Presidente, Ernesto Geisel: “Encontramos o paraíso e a segurança neste país, chegamos até aqui orgulhosos pois, ainda que nos tenham perseguido por toda a história, nossa bandeira jamais fora manchada com o sangue dos inocentes.”
Aqui os Romani começaram uma nova página de seu livro da vida, traçada pela força de um povo que reconhece o mundo todo como sua pátria e traz, para florescer nossas terras, a beleza, o mistério e a magia dos povos ciganos.
No Carnaval 2020, a Pérola Negra recebe o povo cigano com festa para celebrar a sua história milenar.
E hoje, na passarela do samba, a Joia Rara celebra o povo cigano, sua história de liberdade, uma nação que durante sua jornada sempre lavantou a bandeira da paz.
Hoje a alma cigana explode os corações da Vila Madalena de alegria.
Optcha, Pérola Negra!!
- Justificativa
A escola da Vila Madalena fará um tributo ao povo das estrelas, também conhecido como ciganos, que surgiu a milhares de anos, no norte da Índia e se espalhou pelo mundo em caravanas, eternos viajantes, em busca de liberdade.
- Ficha Técnica
Fundação: 07/08/1973
Cores oficiais: vermelho, azul, branco e preto
Presidente: Sheila Monaco
Carnavalesco: Anselmo de Brito
Mestre de Bateria: Neninho
Primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira: Arthur Santos e Eliana Sales Leite
Diretores de Carnaval: João Ricardo Alexandre e Giovana Natali Monaco dos Santos
Diretor de Harmonia: Rafael Tadeu Valério
Rainha da Bateria: Samara Carneiro
Intérprete: Daniel Collete
Coreógrafo da Comissão de Frente: Robério Theodoro
Colocação em 2019: campeã do grupo de Acesso I
Ordem do desfile em 2020:
Grupo Especial – Sábado – 22/02
1ª escola a desfilar – 22h30
- Letra do samba
Enredo 2020: “Bartali Tcherain — a estrela cigana brilha na Pérola Negra”
Sou eu filho do oriente
Sob a luz do luar… valente
Mesmo perseguido não irei me curvar
Carrego meus costumes e heranças
A esperança sempre foi motivação
Se a vida insiste em dor e sofrimento
Levo na bagagem o talento que condena a inquisição
No velho continente, deixei marcas nessa gente
Minha cultura aos quatro cantos florescia
Paixão que fez raiz em Andaluzia
Gira cigana, saia rodada
O seu bailado, acende a fogueira
Tem castanholas, violinos e pandeiros
É festa pra dançar a noite inteira
Na palma da mão destino traçado
Presente e futuro, nos levam ao passado
Energia reluz no cristal
A carta da sorte espanta o mal
Sou um bandoleiro vagando na vida
Coberto de ouro, paixão colorida
Nas minhas andanças de longas jornadas
Cheguei ao Brasil
A terra de encantos mil
Olhai por nós, oh Santa Sara
Olhai por nós… salve a cigana Madalena
A nossa voz
Sou a força do bem, emoção irradia
A estrela da sorte é a luz e me guia
Minha Pérola é a escola que eu amo
Joia Rara do samba e do povo cigano
Compositores: Turko, Silas Augusto, Maradona, Rafa do Cavaco, Zé Paulo Sierra, Luis Jorge, Miguel Tyesco, Abílio Junior e Pixulé