14 – Império da Tijuca fecha os desfiles na Sapucaí pela Série A em 2020
Por Redação
Reportagem: Gilvan Lopes, Heitor Olímpio, Jorge Bezerra, Gil Bezerra, Lú Rufino, Rafael Rios e Sirlene Oliveira
Fotos por Jorge Bezerra e Mariana Barcellos
Imagens: Marcelo Faria
Produção: Julia Fernandes
Suporte Remoto: Jack Costa
Editor: Julia Fernandes e Gilvan Lopes
Com o enredo “Quimeras de um Eterno Aprendiz”, desenvolvido pelo carnavalesco Guilherme Estevão, traz a temática sobre a importância da leitura e homenageia grandes autores.
As Pessoas são capazes de mudar o mundo, mas somente livros são capazes de mudar as pessoas; pois é no dedilhar das “manchas” do papel que se pode construir um universo de coisas boas. Que caiam os que semeiam a ignorância para manter seu poder e que esteja sempre viva a esperança e a vontade de compartilhar o verdadeiro e justo saber. (Trecho da sinopse).
SAMBA ENREDO: QUIMERAS DE UM APRENDIZ
COMPOSITORES: Pixulé, Braguinha, Diego Nicolau, Tinga, Jota, Tem-Tem Jr., Fábio Gigi e James Bernardes
INTÉRPRETE: DANIEL SILVA
LETRA:
EU SOU A LUZ NO BREU
A TRANSFORMAÇÃO, O CONHECIMENTO
PÁGINAS QUE ENCHEM DE ESPERANÇA
MUDANÇA ESCRITA NO TEMPO
VENTO LEVA SEU DESEJO DE BRAVURA
AO VESTIR A ARMADURA DA LEITURA E DO SABER
MESMO ANDARILHO, ESTANDARTE
RETIRANTE DA ARTE, A QUIMERA EM VOCÊ
PELO RIO NAVEGA, MERO APRENDIZ
É A FÉ QUE ME LEVA PELO MEU PAÍS
CONSTRUINDO EXEMPLO, O MILAGRE CONTEMPLO
PORQUE AINDA É TEMPO DE FINAL FELIZ
( É TEMPO DE FINAL FELIZ)
NATIVA INTELIGÊNCIA
FLORIU EM LIVROS A CIÊNCIA
DE NARRATIVAS, EMOÇÕES
PEQUENAS TIRAS ENTRE PRAÇAS E CANÇÕES
O SAMBA É SABEDORIA
NO MORRO DA FORMIGA, MINHA INSPIRAÇÃO
ENREDO BORDADO NO VERDE DO MEU PAVILHÃO
IMPÉRIO…
TANTAS VEZES FUI SEU COMPANHEIRO
HOJE FIEL ESCUDEIRO NO SONHO POR MAIS EDUCAÇÃO
VAMOS DAR AS MÃOS, SEGUIMOS NA LUTA
BRILHA A COROA, ISSO É IMPÉRIO DA TIJUCA!
JÁ CLAREOU UM NOVO DIA, MINHA ARMA É POESIA
O GRES Império da Tijuca veio falando de educação e com amparo na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), lembrando que a inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais é uma obrigação no currículo escolar e matéria obrigatória nos cursos de nível superior na área de humanas.
Mães especiais trouxeram seus filhos de branco e além de muito samba no pé, ecoaram palavras de luta por direitos iguais, acessibilidade e pediram apoio governamental a seus filhos.
A psicóloga e integrante da ala, Fabiana Larrubia, especialista em autismo e também professora disse estar muito feliz em ver o segmento ganhando voz e se manifestando na cultura popular através do Carnaval.
O folião cadeirante de 22 anos, Matheus Moraes, era um dos mais animados e repetia diversas vezes com muito encanto “eu tô aqui, eu tô aqui!”
Do início ao fim do desfile do Império da Tijuca, o samba enredo da escola veio interpretado em Libras pela professora universitária, Cristiane Penha, e suas alunas.
Enquanto a escola passava, toda a Marquês de Sapucaí aplaudia de pé e com muita euforia saudava a ala da Inclusão.
O Portal Sambrasil – Maior Portal de Notícias, Entretenimentos, Pesquisas e Referência do Mundo do Samba, entendendo a necessidade de inclusão de todos os indivíduos da sociedade e em todos os segmentos vem lançando uma nova coluna, mostrando pessoas especiais como artistas, foliões de modo geral divertindo-se no maior espetáculo da terra, independente de sua condição física.
SINOPSE DO ENREDO: Quimeras de um Eterno Aprendiz
“A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria…”
(Paulo Freire)
Pessoas são capazes de mudar o mundo, mas somente livros são capazes de mudar as pessoas; pois é no dedilhar das “manchas” do papel que se pode construir um universo de coisas boas. Que caiam os que semeiam a ignorância para manter seu poder e que esteja sempre viva a esperança e a vontade de compartilhar o verdadeiro e justo saber.
Conclamados cavaleiros da educação, com livros nas mãos e o estandarte de um novo amanhã. Freire, Teixeira e Darcy se unem na batalha a Mascellani, Arroyo e Florestan, abrindo alas para um poeta andarilho, Evando dos Santos, que fez do seu próprio destino símbolo de bravura, guerreando pelo simples direito à leitura e que hoje é inspiração para o carnaval do Império da Tijuca.
Em seu Sergipe natal, Evandro viu já bem menino “o monstro sem alma”, como um cordel de Firmino Cabral. No agreste de sua vida, as margens do líquido Congo, se erguia entre os cortes do junco, acompanhando-o na lida. No bater de suas asas, roubava a infância do pequeno Zé Catraca, como era conhecido, e ainda bem jovem, andarilho, retirante se tornava. Eram as primeiras quimeras na qual duelava.
Depositou em um Rio a esperança de sua família e de seu próprio caminho. O menino, que pelo trabalho, o direito à escola foi impedido, foi encontrar na fé o prazer de ler, foi encontrar na bíblia a vocação para a lutar, pois “o Senhor é meu pastor, nada me faltará”. Com essas primeiras frases que conseguiu formar, encontrou nas ruas uma nova trajetória, por cinquenta livros reinventou a própria história. Entre achados e perdidos, um acervo construído: uma máquina do saber.
Tornou-se mestre de novos sonhos, fiel companheiro da literatura, vestiu sua armadura de Homem-Livro e se tornou peregrino da leitura. Construiu bibliotecas por um Brasil carente e seguiu em sua arqueologia das ruas, buscando doações e encontrando fascículos perdidos como os que ficaram na “Real” grande fuga.
A nobreza retirante trouxe à colônia seu acervo, mas, por cais e mares, uma parte se perdeu. Em terras tupiniquins, uma real biblioteca se ergueu. Entre missões artísticas, Imprensa Régia e as primeiras academias, a educação nesse chão nativo outra ótica teria. Se, na ancestralidade e tradição, antes se pautava, passou a construir ciência e ter como símbolo a figura do livro. Na terra do encontro de xamã, santo e orixá, uma Minerva entre eles passou a estar.
Científico, ganhou corpo; como literário, ganhou espaço. Passou a ser construído pelo seu próprio povo e conhecido por todo lado, ainda que seu acesso estivesse, a cada dia, negligenciado, categorizando gente por privilégios, construindo um tipo de ensino discriminado.
Trouxe os delírios de autores estrangeiros, foi símbolo de correntes nativas de pensamentos, costumes e visões. Os livros que guiaram a vida de Evando ganharam tirinhas, calçadas e corações. Entre Shakespeare, Cervantes e Neruda transitou. Por Vidas Severinas, Cortiços e Piamãs, quimeras literárias numa praça revelou. Mas, nas suburbanas estrelas das histórias, também está o caminho para a vitória alcançar, pois, como Tobias Barreto afirmava, “a vida é uma literatura e ler é lutar”.
Mas a educação não só de livros se forma. Ela se sente, se manuseia, ouve e se toca. Pela música o Homem-Livro enxergou novas formas de ensinar, e isso se deu também por meio do samba que é o próprio retrato do saber popular. E eis que seu primeiro Império teve, em si, a vocação educativa, ostentando em seu pavilhão o termo e trazendo conhecimento ao Morro da Formiga. Uma escola se construiu dentro de uma outra escola, pela tropa de José do Patrocínio, por oitenta anos fazendo história.
Se samba é poesia que balança, a agremiação é quem adereça o saber. No barro de Vitalino, educou pela arte; o Reino Independente do Nordeste a consciência social lutou para se ter. Trouxe a religiosidade e fez procissão com uma homenagem ao santo guerreiro em devoção; símbolo de pluralidade cultural, se tornou império Branzngola. Coroou-se, realizando um perolado e negro Batuk na escola. Faz de sua Utopia projeção para o futuro, com um amanhã mais seguro pra quem ensina e aprende, para que nossa gente tenha força, instrumentos e coragem para seguir em frente. Assim, nos armamos de livros, nos livramos de armas.
Hoje, o Império da Tijuca faz de seu samba instrumento de saber, voz ressoante, bandeira de luta, oceano sambista para um tsunami da educação, para que tantos outros homens-livros unidos lutem por uma nova nação. Propondo para o futuro acesso amplo à tecnologia, rompendo desigualdades de ensino para que haja inclusão. Sustentando um amanhã mais justo e plural, professor valorizado e respeito a todas as disciplinas sem “cortinas” de um poder elitizado. Dando as bases para que cada guerreiro tenha as armas do bem para vencer na batalha da vida. Que tudo isso comece, alegre e colorido, sambando na avenida, pois, como disse Cora Coralina, “feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.
Texto e desenvolvimento: Guilherme Estevão
FICHA TÉCNICA
Presidente: Antônio Marcos Teles (Tê)
Carnavalesco: Guilherme Estevão
Diretor de Carnaval:
Direção Geral de Harmonia: Renato Kort, Robson Tipaia e Alexandre Rouge
Intérprete: Daniel Silva
Comissão de Frente: Lucas Maciel
Mestre de Bateria: Jordan Pereira
Rainha de Bateria: Laynara Teles
1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Renan Oliveira e Laís Lúcia Ramos
2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Fabio Rodrigues e Mônica Menezes
Número de Componentes: 1.700
Número de Alegorias: 3 carros e 1 tripé
Número de Alas: 20
Ordem do desfile: 7ª escola – sábado de carnaval (Sambódromo)