07 B – GRESE Império da Tijuca
Por Marcelo Faria e Equipe Sambrasil Rio
Reportagens: Sirlene Oliveira, Ricardo Netto, Gilvan Lopes, Roberta Campos, Lizia Nascimento, Fernanda Gaspar e Rafael Rios
Imagens: Julia Fernandes, Sirlene Oliveira, Fernanda Gaspar e Lizia Nascimento
Fotografias: Arlene Melo, Marcelo Faria, Lizia Nascimento, Fernanda Gaspar e Marcelo S. Faria
Suporte técnico: Jack Costa e Jaime Jotta Jr.
Videomaker: Jaime Jotta Jr. e Raphael Rios
Produção: Lízia Nascimento e Fernanda Gaspar
Redes Sociais: Jack Costa, Lízia Nascimento, Julia Fernandes e Sirlene Oliveira
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Para a tradição nagô-iorubá, o axé é a energia vital que está presente no universo desde sua
criação. E com maestria, dentre ritos e celebrações do terreiro, festas e aglomerações das ruas,
vários momentos repletos de energia (axé) ganharam contorno nas obras do artista.
Os carnavalescos Júnior Pernambucano e Ricardo Hessez desenvolveram um enredo sobre o
universo religioso afro-brasileiro, baseado nas obras do pintor e escultor Carybé.
ENREDO: Cores do Axé
INTRODUCAO E JUSTIFICATIVA
Historicamente, o Império da Tijuca apresenta relevantes enredos que buscaram inspiração na
cultura afro-brasileira. Como forma de afirmação dos saberes negros, contra o racismo e a
intolerância religiosa, sempre se faz necessário afirmar os conhecimentos e as artes que envolvem
as religiões de matrizes africanas.
Para 2023, unimos essa poderosa narrativa ao olhar precioso de quem soube reconhecer e se
inspirar em um elemento tão potente e enriquecedor, imbuído da força primordial, transformadora e
criativa: o Axé. Para a tradição nagô-iorubá, o Axé é a energia vital que está presente no universo
desde sua criação. Rodeia, portanto, a humanidade, seus divinos e as substâncias naturais da
Terra. Abarca desde a pequena folha de uma grama até a pele do atabaque a rufar.
Também é força do encontro. O Axé se porta como o ritmo que embala a ginga do corpo e preenche
o significado da vida. Magia contagiante. É fé, presente nos candomblés e umbandas, dos xirês até
os mais singelos amuletos.
De tão vigoroso e presente na nossa cultura, o Axé não passaria despercebido aos olhos curiosos e
atentos de quem sabe se encantar com a beleza e a poesia da vida. Foi assim que Héctor Julio
Páride Bernabó, original mente argentino, logo se tornou baiano, deslumbrado pela energia criadora
e a potência afro-brasileira.
O Axé, que já era arte, ganhou nova visão através deste grande pensador da imagem. Seu fascínio
com as cores, os cheiros e os temperos da Bahia se derramaram em telas, aquarelas, painéis e
gravuras. Imagens que eternizaram o jeito que só essa terra tem. Ao lado de Amado, Verger e
Caymmi, foi um dos principais responsáveis pela construção das "baianidade" e por registrar o Axé
em sublimes manifestações.
Com maestria, pintou e esculpiu o cotidiano do nosso povo. Dentre ritos e celebrações do terreiro,
festas e aglomerações das ruas, vários momentos repletos de energia ganharam contorno nas obras
do artista. Traçou o Axé das vestimentas, dos animais e dos instrumentos dos orixás, além de seus
itans e lendas. Tornou-se oga e Obá, cabeça feita no terreiro Ilê Axé Opó Afonjá pela babalorixá
Mãe Senhora.
Munido da mais plena energia, nosso enredo se manifesta através das obras de Carybé: filho de
Oxóssi, Obá de Xangô e cronista do povo.
SINOPSE
Tela em branco na imensidão de Olodumarê, tal qual o mundo a ser criado. O primeiro risco do
artista é caminho aberto de Axé, onde linhas se encontram feito uma encruzilhada entre a tinta e o
papel. O movimento comanda o pincel como energia criadora, que traça os rumos da vida ao
preenchê-la de cor.
Do universo funfum, a nossa aquarela. Dos vários matizes, a energia vital.
Eis o Axé.
A princípio, ele desponta em forma de natureza, ocupando as lacunas e se ramificando em galhos
frondosos. Afinal, sem folha não há orixá.
Na beleza do mundo, feito mata verdejante de Oxóssi, o Axé se alastra. Flutua no vento alaranjado
guiado por lansã, ilumina o céu como o fogo do trovão de Xangô. Escorre no papel em dourado
doce, repousando sereno nas águas de Oxum. Deita-se salgado na imensidão azul de Yemanjá.
Os orixás, em seus tons, matizes, animais e instrumentos, ganham forma no rabisco de um Obá,
reconhecedor do Axé que pulsa nas cenas de sua arte. Transcendendo a natureza talhada em
madeira, a energia percorre outros. cenários. Com traços fortes, o pintor risca o chão do terreiro.
Lugar de troca e assentamento.
Ogãs tocam na textura de couro dos atabaques, enquanto fundamentos são evocados para a
entrega de oferendas. Reúnem-se em roda, convocam a força essencial, plantam Axé. Fazem dele o
ímpeto e a vitalidade para os barracões que resistem.
O batuque dos terreiros se expande derramado pelas ladeiras e o padê abre os caminhos. Nas ruas,
pingos de tinta e de gente desenham a paisagem das celebrações que ornamentam a Bahia das
obras do Obá. Festas que não existem sem fé. Axé que desconhece a vida sem festa. As
celebrações populares têm suas heranças ancestrais.
Seja num xirê, no Olubajé, na lavagem do Bonfim ou em Dois de Fevereiro. Toca o alujá, dança o
São João. Saem correndo no Pelourinho os Erês brincalhões. Estão todos ali nas gravuras, pintando
a vida com nuances de farra.
O Axé, constante e circular, prolifera. Em aquarela, registra a alegria e o cotidiano da brasilidade.
Está no cheiro da feira, no sabor forjado na panela, no aconchego da pele com cada fio de conta, na
ginga da capoeira, no tabuleiro da baiana e em seus balangandãs.
É muita gente que chega, batendo na palma da mão e apostando nos encontros como forças
transformadoras.
Arte e cenários se misturam. No quadro, o chão da quadra: ambiente colorido onde o ritmista batuca,
o mestre-sala risca o chão, a bailarina gira feito majestade e a folia faz o chão tremer.
Os brincantes compartilham da mesma concha de feijão fervido pela velha baiana, unem-se pela
proteção de um pavilhão, desfilam em cortejo.
A cada embalo da bandeira desfraldada, ecoa pelo vento o Axé da ancestralidade do samba. Na
avenida, vivemos kizombas, banquetes e batuques. Vibrações máximas, contagiantes, que nos
preenchem de energia.
Outrora vazia, a folha agora é painel de encontros tingidos de alegria pulsante.
Através de traços diversos, significados sinuosos de festa e devoção passam pelo olhar do artista e
brincam de criar o mundo fundando Axé na quina de uma tela.
Lá no canto do papel, é possível ver a assinatura daquele que o Império da Tijuca anuncia:
Carybé. Obá das Cores do Axé.
SAMBA ENREDO: Cores do Axé
Compositores: Almeida Sambista, Bachini, Júlio Pagé, Osmar Fernandes, Ricardo Simpatia, Samir
Trindade e Wagner Zanco
Intérprete: Daniel Silva
CAMINHOS ABERTOS PRO AXÉ
ORUM, AYÊ
NA IMENSIDÃO DE OLODUMARÊ
NA TELA O BRANCO DE OXALÁ
XEU ÊPA BABÁ, XEU ÊPA BABÁ
RAÍZES, AQUARELA, ENERGIA
KOSI EWÊ KOSI ORIXÁ
É FOLHA, SEIVA VIVA DE OXÓSSI
TRAZ FORÇA, VENTANIA DE IANSÃ
UM FOGO JUSTICEIRO BEM MAIS FORTE
MEU PAI OGUM, MAMÃE OXUM
GUIANDO O AMANHÃ
É ÁGUA SALGADA DE ODOYÁ
ÁGUAS SAGRADAS DE YEMANJÁ
OBÁ OBÁ DE XANGÔ
RISCA ESSE CHÃO
ASSENTA O ORIXÁ NO XIRÊ DESSE TERREIRO
PINTA MEU CORPO RETINTO MACUMBEIRO
TAMBOR, Ô Ô Ô Ô, OGÃ
TAMBOR, Ô Ô Ô Ô, OGÃ
EVOCA MAGIA ANCESTRAL
NAS LADEIRAS, RITUAL
COLORIDA, A BAHIA É CANJERÊ
NUANCE DE FESTA EMOLDURADA NA FÉ
GIRA BAIANA CARREGADA DE DENDÊ
EU SOU DE JORGE, CAVALEIRO DE BATALHA
DO ALTAR, DA FEIJOADA
DOS MATIZES DO AMOR
E ME ENCONTRO NO BATUK VERDE E BRANCO
MINHA ARTE É ACALANTO
HOJE O SAMBA É MULTICOR
SOBE O MORRO DA FORMIGA FILHO DE ODÉ
FAZ DO PINCEL O MEU OFÁ
NAS CORES DO AXÉ
O IMPÉRIO DA TIJUCA VEM SONHAR
FICHA TÉCNICA
G.R.E.S.E. Império da Tijuca – Carnaval 2023.
Desfile da Série Ouro Enredo: "Cores do Axé"
Autores do Samba: Almeida Sambista, Bachini, Júlio Pagé, Osmar Fernandes, Ricardo Simpatia,
Samir Trindade e Wagner Zanco
Intérprete: Daniel Silva.
O Império da Tijuca vai homenagear o artista Caribé.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Renan Oliveira e Laís Lúcia
Presidente de Honra: Paulo Tenente
Presidente: Antônio Marco Teles (Tê)
Carnavalescos: Júnior Pernambuco e Ricardo Hessez
Texto: Felipe Tinoco, Juliana Joannou e Leonardo Antan
Comissão de frente: Jardel Lemos
Mestre de bateria: Jordan Pereira
Corte de bateria: Lázaro Telles
Endereço: Rua Medeiros pássaros, 84 – Tijuca, Rio de Janeiro, RJ – 20530100