06 B – GRES Unidos do Viradouro

Por Marcelo Faria e Equipe Sambrasil Rio
Reportagens: Sirlene Oliveira, Ricardo Netto, Gilvan Lopes, Roberta Campos, Lizia Nascimento, Fernanda Gaspar e Rafael Rios
Imagens: Julia Fernandes, Sirlene Oliveira, Fernanda Gaspar e Lizia Nascimento
Fotografias: Arlene Melo, Marcelo Faria, Lizia Nascimento, Fernanda Gaspar e Marcelo S. Faria
Suporte técnico: Jack Costa e Jaime Jotta Jr.
Videomaker: Jaime Jotta Jr. e Raphael Rios
Produção: Lízia Nascimento e Fernanda Gaspar
Redes Sociais: Jack Costa, Lízia Nascimento, Julia Fernandes e Sirlene Oliveira
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A Vermelho e Branco de Niterói, região metropolitana do estado Rio de Janeiro, contará a história da
Rosa Courana, ou Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz, considerada a primeira mulher negra a
escrever um livro no país. Ela também foi a primeira a refletir sobre importantes aspectos de uma
história tão marcante, na condição de escravizada, meretriz, feiticeira, beata e escritora. O enredo é
desenvolvido pelo carnavalesco Tarcísio Zanon.
ENREDO: Rosa Maria Egipcíaca
Sinopse do Enredo
A PROFECIA DAS ÁGUAS
Presságio… Diante do espelho ondulante das águas, a menina courana sentiu a vida passar diante
de si. Uma gota se transformou em oceano, fazendo o real transbordar em vertigem.
Em transe, percebeu-se tragada por um assombroso redemoinho em meio a um dilúvio brutal. Então
defrontou-se com o reflexo de uma mulher misteriosa, de manto reluzente e coroa luminosa, como
que a protegendo da própria sina. E, de súbito, viu-se emergir em uma arca resplandecente sobre a
qual flutuaria plácida a cortar a fúria das ondas.
A menina chorou frente àquela revelação. Dali em diante, tudo se desfez em mar revolto, apagando
as memórias dos seus primeiros anos. Foi rebatizada em águas cariocas, no outro lado do Atlântico.
E desse bárbaro ritual de esquecimento, brotou uma nova Rosa, preta e cálida: a Rosa mística do
Brasil.
Auri Sacra Fames – A Fome de Ouro
Ainda jovem, seguiu em romaria vigiada, por léguas e léguas mata adentro. Vendida às Minas
Gerais, foi obrigada a peregrinar com os cativos pela Serra da Mantiqueira, longo percurso que a
assombrava com visões de paraísos e infernos. Entre bruma e poeira, cortava as alterosas
cravejadas de sonho e temor.
Nas freguesias mineiras, a sociedade devota do ouro e dos diamantes era sustentada pela
depravada escravização na colônia. Cortejos de penitentes saíam pelas vielas do arraial entoando
ladainhas. Pediam perdão por muitos pecados, menos o de submeter outros seres humanos a
condições degradantes em nome da adoração às pedras e aos metais preciosos. Pacto social que
envolvia todo um sistema forjado no privilégio, na degeneração moral e violação da dignidade dos
corpos pretos.
Mas havia as frestas sociais. Enquanto servia de oferenda àquela civilização de escândalos e
perversões, Rosa acumulou um tanto de joias para se enfeitar e sedas para se cobrir. Os parcos
ganhos eram ostentados nos batuques do Acotundá . Na magia da noite escura, encandeada de luar
e fogueira, a preta girava saia, saudava as almas e soprava aos ares a fumaça do cachimbo,
religando-se à ancestralidade que brotava no terreirão da Fazenda Cata Preta, onde era cativa.
Até que o corpo deu sinais de desgaste. E Rosa se desfez de tudo. Distribuiu aos seus o pouco que
havia recolhido, como fez Maria do Egito, a santa meretriz que foi alçada ao altar celestial após doar
aos desvalidos toda a riqueza de uma vida. Mais tarde, deixaria de ser a Courana para ser Rosa
Egipcíaca, transitando entre a devoção e o misticismo.
Ventanias, Visões e Possessões
Feitiçaria ou teatro? A freguesia alvoroçada se dividia em opiniões ao testemunhar as possessões
da mulher, ocorridas entre rezas e sessões de exorcismo comandadas pelo padre português
Francisco Gonçalves Lopes, o “Xota-Diabos”.
Visagens chegavam a Rosa em ventanias ruidosas que apoquentavam sua mente dividida entre os
solfejos dos anjos e os gritos dos malignos. Em êxtase espiritual, ela era saliva e fogo, arrepio e
suor, lágrima e vulcão. Sentia, atordoada, a presença de sete demônios pairando sobre si em
vertiginosas espirais, possuída tal qual Maria Madalena .
Mas, assim como a personagem bíblica, a africana tinha também a alma acalentada pelo amor
Divino. E os ventos agora lhe sopravam de volta ao litoral.
A Flor do Rio
Vivendo a debulhar as contas do Rosário, retornou ao Rio de Janeiro por onde desfilava como dileta
serva de Deus. Sob o pálio da devoção a Santana , avó de Cristo, a negra cruzava a fé dos brancos
com os cultos ancestrais aos mais velhos, herança da sua origem na costa africana. Rosa
impressionava o universo religioso da cidade com seus dons premonitórios, jejuns e flagelações,
tornando-se foco de curiosidade e admiração. Um passo para ser cultuada como Santa.
Levada pelo dever de perpetuar os pensamentos devocionais, alfabetizou-se nas letras divinas e
passou a escrever compulsivamente. Foi assim que colocou no papel aquele que é considerado o
primeiro livro a ser escrito por uma mulher negra no Brasil. Desta forma, derramava pelas suas mãos
o bendizer da palavra revelada nos pergaminhos mais sublimes.
Sentia na pele e no coração as dores das mulheres afastadas do convívio familiar. Assim, a
visionária ergueu o Recolhimento, mosteiro com que ela havia sonhado como arca protetora a
abrigar almas cujos corpos femininos eram negados pela sociedade.
O poder da vidência não cessava e Rosa sonhou com a imagem de cinco corações radiosos e
brilhantes. Cada vez mais santa no altar popular, foi se tornando mais mística, mais etérea e mais
misteriosa. Elo entre Deus e a humanidade, a beata com dons paranormais seria desposada em um
grandioso devaneio apocalíptico.
A Derradeira Profecia
Revelação. Rosa fechou os olhos e pressentiu um dilúvio de força descomunal que lavaria os
pecados da humanidade. Estava novamente frente à imagem que tanto a impressionou na infância:
a mesma mulher misteriosa de manto reluzente, protetora do seu destino. Debaixo do majestoso véu
das virtudes, revelou-se a face verdadeira: era o próprio rosto de Rosa.
Águas em turbilhão sairiam como veios da terra. E daquele reino sobrenatural emergiria não uma,
mas duas arcas, flutuando entre a história e o delírio. Em uma, estava ela, no esplendor do seu
último desvario; na outra, o rei Dom Sebastião , desaparecido em épica batalha em nome de Cristo.
O enlace com o Rei dos Encantados consumaria a união mística para fundar o grande Império
Brasileiro. Rosa, enfim, seria o rastro de salvação dos eleitos no triunfante evento do fim dos
tempos, inundando as almas de esperança. Assim, cumpriu o enredo de uma vida e agora estava
liberta para se tornar a própria Santa na qual se refletia.
Uma Santa Negra no Céu
E lá no firmamento, aonde as águas do dilúvio a arrebataram, um concerto de marimbas e
candombes a aclamou em sua saga de fé. Guardas da Santa Coroa, empunhando fitas e bandeiras,
uniram-se em batuques para louvar à Santíssima africana que um dia viveu cercada de mistérios e
virtudes em uma terra tão plena de vícios quanto de credos.
Folguedos desfilaram em louvor à mulher que virou divindade, em sagrado cortejo de canonização
popular. Nos jardins do Palácio Celeste, ela se enxergou em cada rosa que desafia a sorte, insiste
em rachar o chão e brota da aridez.
E no altar do Divino, todo enfeitado de flor, a mais bela Rosa orna a coroa do Senhor.
Não é uma rosa qualquer. É a Rosa que o povo aclamou!
Courana se refere à origem da protagonista do enredo, oriunda da nação courá, (também chamada
courana, courama ou curana). O povoado dessa etnia localizava-se na costa do reino de Benin.
Segundo Luiz Mott, “Tundá” ou dança de “Tundá”, de onde deriva “Acotundá”, eram termos
recorrentes em cerimônias de matriz africana no Brasil colonial, sendo registrado em Minas Gerais,
no povoado de Paracatu.
Rosa viveu entre 1733 e 1745 na Fazenda Cata Preta, no arraial do Inficcionado, vilarejo construído
entre as montanhas de Minas Gerais.
“Xota-Diabos” é corruptela de “Enxota-Diabos”, em alusão aos dons ligados ao exorcismo. O Padre
seguiu ao lado de Rosa como espécie de protetor espiritual.
Segundo a Bíblia (Lucas, Cap. 8, Vers. 2): “… e também algumas mulheres que haviam sido curadas
de espíritos malignos e doenças: Maria, chamada Madalena, de onde haviam saído sete demônios”.
Rosa tornou-se fervorosa devota da Santana, mãe de Maria e avó de Cristo. Ganhou, entre 24
títulos laudatórios, o de “Filha de Santana”. O culto à mãe de Nossa Senhora ganhou grande
impulso no Rio de Janeiro nos anos de 1700.
O livro escrito por Rosa Maria Egipcíaca se chamava “Sagrada Teologia do Amor Divino das Almas
Peregrinas”. Poucas páginas restaram da obra.
Os Cinco Corações da Sagrada Família apareceram em forma de visão Rosa, representando os
corações de Cristo, da Virgem Maria, de São José, de Santana e de São Joaquim. A imagem foi
reproduzida, esculturada e adornada, e até hoje está presente em uma capela no convento de Santo
Antônio, no Largo da Carioca, centro do Rio de Janeiro.
rei Dom Sebastião – Monarca português desaparecido na histórica batalha de Alcácer Quibir, no
Marrocos, em 1578. Desse episódio, surgiram várias versões místicas sobre o paradeiro do
soberano, que passou a ser cultuado no Brasil em diversas religiões, inclusive as de matriz africana.
Acusada de heresia, Rosa foi presa e levada a Lisboa pela Inquisição. Após ter toda a sua
impressionante história registrada em depoimentos colhidos na capital portuguesa, acabou morrendo
de causas naturais. A trajetória da africana foi revelada séculos mais tarde pela minuciosa pesquisa
do antropólogo Luiz Mott. Aqui, tomamos uma das visões de Rosa para projetarmos outro desfecho
para a Santa, eternizada no imaginário popular.
O candombe (tambor) traz os espíritos à Terra, reunindo, ao seu toque, vivos e mortos. Marimba é
um instrumento de origem africana, formado por placas de metal ou madeira, que vibram ao toque
de baquetas.
Autor do Enredo e Carnavalesco Tarcísio Zanon.
Inspirado no livro “Rosa Egipcíaca: Uma Santa Africana no Brasil”, de Luiz Mott Texto: João Gustavo
Melo
SAMBA ENREDO: "Rosa Maria Egipcíaca"
Compositores: Cláudio Mattos, Dan Passos, Marco Moreno, Victor Rangel, Lucas Neves, Deco,
Thiago Meiners, El Toro, Luis Anderson e Jefferson Oliveira
Intérprete: Zé Paulo Sierra
ROSA MARIA, MENINA FLOR
RAINHA DO ESPELHO MAR
NA PELE NO TAMBOR
PRANTO DAS DORES QUE RESISTIU
DESÁGUA NO IMENSO BRASIL
SUA LUZ INCORPOROU:
DISTANTE ME ENCONTRO DAS ORIGENS
CAMINHO ONDE O CORPO FOI PRISÃO
OURO QUE DEIXOU AS CICATRIZES
ESPERANÇA FOI VERTIGEM
A ALMA, LIBERTAÇÃO
É VENTO NA SAIA DA PRETA COURÁ
NA GINGA DO ACOTUNDÁ…
É VENTANIA
SETE VOZES GUIARAM MINHAS VISÕES
MISTÉRIOS, ALUCINAÇÕES, FEITIÇARIA
ME ENTREGO A ESCREVER A PREDIÇÃO
LÁGRIMA NAS CONTAS DO ROSÁRIO
DÁDIVA AO CLAMOR DO CORAÇÃO
PALAVRAS DE UM PRETO RELICÁRIO
A VOZ QUE COBRE O CRUZEIRO
RELUZ SOBRE NÓS NO FIM DO CALVÁRIO
NAVEGA ESPERANÇA À LUZ DO ENCANTADO
REFLETE O AZUL
SENTI A ALMA DAQUELES, OS MAIS OPRIMIDOS
VENCI HERESIA NA FÉ DOS DIVINOS
A MAIS BELA ROSA AOS PÉS DO SENHOR
CANDOMBES E BATUQUES NO CORTEJO
EU SOU A SANTA QUE O POVO ACLAMOU
EIS A FLOR DO SEU ALTAR, SUA FÉ EM CADA GESTO
O AMOR EM CADA OLHAR DOS FILHOS MEU
NO CANTAR DA VIRADOURO, O MEU SAMBA É MANIFESTO
SOU ROSA MARIA, IMAGEM DE DEUS
EIS A FLOR DO SEU ALTAR, SUA FÉ EM CADA GESTO
O AMOR EM CADA OLHAR DOS FILHOS MEUS
NO CANTAR DA VIRADOURO, O MEU SAMBA É MANIFESTO
IMAGEM DE DEUS, SOU EU
FICHA TÉCNICA
Fundação 24/06/1946
Cores Vermelha e Branca
Presidentes de Honra José Carlos Monassa (in memoriam) e Marcelo Calil Petrus
Presidente Marcelo Calil Petrus Filho
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Telefone Quadra (21) 2628-5744
Barracão Cidade do Samba (Barracão nº 01) – Rua Rivadávia Correa, nº 60 – Gamboa CEP:
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Imprensa Simone Fernandes
Tel: (21) 98601-2922
Enredo 2023 “Rosa Maria Egipcíaca”
Carnavalesco Tarcísio Zanon
Diretores de Carnaval Alex Fab e Dudu Falcão
Intérprete Zé Paulo Sierra
Mestre de Bateria Ciça
Rainha de Bateria Erika Januza
Mestre-Sala e Porta-Bandeira Julinho e Rute
Comissão de Frente Rodrigo Negri e Priscilla Mota