06 A – GRES Estação Primeira de Mangueira
Por Marcelo Faria e Equipe Sambrasil Rio
Reportagens: Sirlene Oliveira, Ricardo Netto, Gilvan Lopes, Roberta Campos, Lizia Nascimento, Fernanda Gaspar e Rafael Rios
Imagens: Julia Fernandes, Sirlene Oliveira, Fernanda Gaspar e Lizia Nascimento
Fotografias: Arlene Melo, Marcelo Faria, Lizia Nascimento, Fernanda Gaspar e Marcelo S. Faria
Suporte técnico: Jack Costa e Jaime Jotta Jr.
Videomaker: Jaime Jotta Jr. e Raphael Rios
Produção: Lízia Nascimento e Fernanda Gaspar
Redes Sociais: Jack Costa, Lízia Nascimento, Julia Fernandes e Sirlene Oliveira
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A verde e rosa do morro da Mangueira mostrará as construções das visões de África na Bahia a
partir de sua musicalidade e instituições carnavalescas negras. A escola vai destacar o
protagonismo feminino nesse processo e as lutas contra intolerância, racismo e pelo fortalecimento
da identidade afro-brasileira, o enredo é desenvolvido pelos carnavalescos Annik Salmon e
Guilherme Estêvão.
ENREDO: As Áfricas que a Bahia canta
Sinopse do Enredo
Quando o verde se derrama em rosa pela avenida, o céu se agita, o morro mostra seu samba como
Ilú a repicar. Os ventos se assanham no girar da mãe, conduzindo os filhos de Mangueira a desfilar.
Por nós, Oyá! Por nós, Oyá!
Ela que veio de longe. Ela que veio do vento, guerreando contra todo sofrimento, de quem um dia foi
obrigado a traçar um novo destino além-mar. Bantu, Haussá, Gegê, Iorubá…tantas Áfricas que na
Bahia vieram a aportar.
Na alma, carregaram a bagagem de seus ancestrais; no corpo estamparam a riqueza de seus
rituais. No ecoar de suas vozes, fizeram-se mais fortes, nos “batuques” e seus toques adornavam
outros nortes. Na terra de todos os santos, tantas Áfricas se recriaram pelo encanto de seus
cortejos, pelas histórias de seus cantos. Como bandeira de luta, como conquista das ruas, por
liberdade em ser, por respeito às suas. Tudo isso através dos dias onde a Bahia é mais Bahia e ser
preto é sinônimo de alegria.
Hoje, mais uma vez, Iaiá mandou ir à Bahia, em tempos em que a Lei Áurea tão sonhada não havia
sido assinada, mesmo que a liberdade, posteriormente, ainda fosse ilusão. Negros iam as ruas em
dia de folia, desafiando toda perseguição, entoando cantares nativos, contando a saga daqueles
que, infelizmente, sucumbiram pela escravidão.
Faziam festa para a sua preta rainha em forma de cucumbis, trazendo, a frente, um cortejo de rotins,
afugentando todo mal que pudesse estar por ali. O arauto negro anunciava a chegada da procissão,
cavalarias faziam guarda e “barbeiros” davam o ritmo com xequerês, caxambus e a marcação.
Fogos dos bengalas explodiam no céu, quando, de repente, o filho da rainha morria em meio a
exibição. Ela ordena ao um feiticeiro que seu filho reviva. Na sua dança mágica, o menino ganha
vida, ela lhe entrega tesouros em missangas para que o cortejo prossiga, o sagrado demonstra seu
poder e a corte se unifica.
O “charme” da liberdade no papel, posteriormente, se garantia, porém a negritude estava longe de
alcançar direitos e cidadania. Pelas ruas de Salvador se viam ex-cativos marginalizados,
perseguidos até pela forma em que se vestiam. Era proibido “ser” africano na Bahia, mas, em dias
de folia, a fantasia era ousada, com muita sabedoria se esquivavam da chibata da polícia que
insistia em esquecer em que tempo estava. Seguindo a tradição preta de cortejos, se organizaram
em Clubes Negros, a disputar as ruas com a burguesia, em forma de arte, protestavam contra os
açoites e a serventia. As “Embaixadas” africanas impressionavam pelo luxo e incomodavam até que
um dia foram vetadas…
Mesmo perseguidos, os préstitos viraram formas de sobrevivência e luta por liberdade. Atraia-se,
daquela forma, os olhares da imprensa e da comunidade e, na ótica do opressor, uma ignorante
sensação de “civilidade”, ao acharem possível, desta maneira, controlar a força negra da baianidade.
Mas nada era mais intenso que a união do gueto, a rua e a fé, andando a pé pela cidade. Do terreiro
do Engenho Velho, o céu dos orixás intervia ao unir a arte, a religiosidade e a fantasia, levando os
livres toques de ijexá pelas ladeiras e avenidas. Preparava-se o padê para que Exu mensageiro
fosse ligeiro abrir os caminhos para passar o Afoxé. Nessa cidade em que todo mundo é d' Oxum,
nas ruas rodam candomblés, conduzidos e protegidos pela Yalotim, onde o santo é representado,
esculpido pelo talhar do Iroko. A África, desta vez, se recria pelas mãos do sagrado.
A dor que pariu Salvador, pariu seu carnaval e promoveu a explosão de grupos pretos que tomaram
conta dessas vias de clave e Sol com alegria, pois ela é a revolução. A realidade dura dos guetos
virava letra de canções, incorporando e renovando a herança rítmica das negras procissões. Corpos
e corpas se tornaram protesto, estampando seu manifesto no vestir e no dançar. Os blocos afros
reconstruíram a identidade de um povo, que passa a ter ainda mais orgulho de sair na folia a cantar,
de fazer a terra tremer, pois o vulcão da Bahia é tambor de Ilê Aiyê. É pulsação de Muzenza, de
Olodum e Badauê. É o Didá e dança de Malê Debalê. São as mais belas das belas deusas do ébano
girando e reinando pela avenida, ao toque da batida que vira sinônimo da própria vida. Se adornam
no laço afro que amarra o legado de seus ancestrais, dando cor, energia e vigor aos carnavais. Que
bloco é esse, negão?
Salvador se agita no negro toque do agogô, nas quebradas com a pele pintada, nas estampas de
faraós, na pipoca do trio, nos tambores do Pelô. Na mistura do Timbalada, dos sambas de roda,
reggae e tantos sons que dão o tom à baianidade Nagô. Nas vozes das pérolas negras que
conduzem os cortejos sem submissão de raça, sem lágrima, nem dor. O amor do povo que se lava
com a força do axé, na fé do Bonfim, nos cantos do candomblé. Axé que canta e amarra em seus
fios de conta a importância de ser chão africano. Axé da negrada que passa o astral da avenida todo
ano. Axé que mostra que a cor dessa cidade é a mesma de Mangueira, com a força do vento,
expressão da liberdade, fazendo o negro respirar felicidade.
Texto (Carnavalescos): Guilherme Estevão e Annik Salmon
Pesquisa: Guilherme Estevão, Annik Salmon e Mauro Cordeiro.
SAMBA ENREDO: “As Áfricas que a Bahia Canta”
Compositores: Lequinho/ Junior Fionda/ Gabriel Machado/ Guilherme Sá/ Paulinho Bandolim
Intérpretes: Marquinho Art’ Samba e Dowglas Diniz
OYÁ, OYÁ, OYÁ Ê Ô!
Ê MATAMBA, DONA DA MINHA NAÇÃO
FILHA DO AMANHECER, CARREGADA NO DENDÊ
SOU EU A FLECHA DA EVOLUÇÃO
SOU EU MANGUEIRA FLECHA DA EVOLUÇÃO
LEVO A COR, MEU ILÚ É O TAMBOR
QUE TREMEU SALVADOR, BAHIA
ÁFRICAS QUE RECRIEI
RESITIR É LEI, ARTE É REBELDIA
COROADA PELOS CUCUMBIS
DO QUILOMBO ÀS EMBAIXADAS
CM GANZÁS E XEQUERÊS FUNDEI O MEU PAÍS
PELO SOM DOS ATABAQUES CANTA MEU PAÍS
TRAZ O PADÊ DE EXU
PRA MAMÃE OXUM TOCA O IJEXÁ
RUA DOS AFOXÉS, VOZ DOS CANDOMBLÉS
XIRÊ DE ORIXÁ
DEUSA DO ILÊ AIYÊ, DO GUETO
MEU CABELO BLACK, NEGÃO, COROA DE PRETO
NÃO FOI EM VÃO A LUTA DE CATENDÊ
SONHO BADAUÊ, REVOLUÇÃO DIDÁ
CANDACE DE OLODUM, SOU DEBALÊ DE OGUM
FILHOS DE GANDHY, PAZ DE OXALÁ
QUANDO A ALEGRIA INVADE O PELÔ, É CARNAVAL!
NA PELE O SWING DA COR
O MEU TIMBAU É FORÇA E PODER
POR CADA MULHER DE
LIBERTA O BATUQUE DO CANJERÊ
EPARREY OYA! EPARREY MAINHA!
QUANDO O VERDE ENCONTRA O ROSA TODA PRETA É RAINHA
O SAMBA FOI MORAR ONDE O RIO É MAIS BAIANO
REINA A GINGA DE IAIÁ NA LADEIRA
NO ILÊ DE TIA FÉ, AXÉ MANGUEIRA!
Compositores: Lequinho/ Junior Fionda/ Gabriel Machado/ Guilherme Sá/ Paulinho Bandolim
FICHA TÉCNICA: G.R.E.S ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA
Fundação 28/04/1928
Cores Verde e Rosa
Presidente de Honra Hélio Turco
Presidente Guanayra Firmino
Quadra Rua Visconde de Niterói, 1.072 – Mangueira, CEP 20943-001
Telefone Quadra (21) 2567-4637
Barracão Cidade do Samba (Barracão nº 13) – Rua Rivadávia Correa, nº 60 – Gamboa – CEP:
20.220-290
Telefone Barracão (21) 2223-5889
Site www.mangueira.com.br
Imprensa Rubem Machado
e-mail: imprensa@mangueira.com.br
Enredo 2023 “As Áfricas que a Bahia canta”
Carnavalescos Annik Salmon e Guilherme Estevão
Direção de Carnaval Amauri Wanzeler
Intérpretes Marquinho Art’ Samba e Dowglas Diniz
Mestres de Bateria Taranta Neto e Rodrigo Explosão
Rainha de Bateria Evelyn Bastos
Mestre-Sala e Porta-Bandeira Matheus Olivério e Cintya Santos
Comissão de Frente Cláudia Motta