06 A – GRES Beija-Flor de Nilópolis fecha a primeira noite de desfiles do Grupo Especial
Por Redação e Marcelo Faria
Equipe Sambrasil: Julia Fernandes, Gilvan Lopes, Roberta Campos, David Junior, Sirlene Oliveira, Rafael Rios, Ricardo Netto, Mariana Barcellos, Jorge Bezerra, Viviane Pinheiro, Gil Bezerra, Marcelo Faria e Jack Costa
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O GRES Beija-flor de Nilópolis fecha a primeira noite dos desfiles do Grupo Especial e apresenta o enredo “Empretecer o Pensamento é Ouvir a Voz da Beija-Flor”, desenvolvido pelo carnavalesco Alexandre Louzada.
Como referência cultural formada essencialmente pelo povo negro da Baixada Fluminense, ao voltar a propor um enredo tendo foco central a intelectualidade negra, reafirma as pautas sociais cujas demandas passam pela defesa do sistema de cotas raciais e pelo cumprimento da Lei 10.639 (atualizada pela Lei 11.645), que trata da obrigatoriedade do ensino da história e da cultura afro-brasileira e indígena nas escolas. Repudia ainda qualquer discriminação religiosa contra o nosso povo, reafirmando a laicidade do Estado brasileiro. E, por fim, torna-se mais uma voz a se levantar contra a violência no país, que tem atingido especialmente corpos negros, vítimas do racismo estrutural que vigora no país. Basta! Seus filhos já não aguentam mais!
Mestres Plínio e Mestre Rodney Beija-Flor de Nilopolis
Rodney- “A beija-flor vem celebrar a vida depois de dois anos sem carnaval. Podem aguardar um grande desfile”
Plínio- com um mestre negro, vai ser uma honra poder comandar a bateria em um enredo com esta mensagem”
Gabriel David, diretor da Beija Flor: A Beija-Flor é muito mais forte quanso fala da sua essência, ainda mais no comando do Almir que é apaixonado por esta comunidade. Tem tudo para dar certo”
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SINOPSE DO ENREDO: Empretecer o Pensamento é Ouvir a Voz da Beija-Flor
Razão de cantar feliz é poder nos reconhecer através das histórias que revelam a nossa essência. REPRESENTATIVIDADE é fazer parte de uma bandeira de arte e de luta que é exemplo para o nosso povo. É como gostamos de nos ver refletidos. Quem vê a fragilidade do voo de um beija-flor nem sequer imagina quantas vezes o coração bate e qual o tamanho do esforço para chegar à flor. É assim que se dá a ligação entre a bandeira nilopolitana e o nosso povo. É pela alegria e pelo prazer de brilhar na Avenida que superamos as dificuldades vividas durante o ano para no Carnaval sermos a referência de um Brasil mais africano.
A marca de vencer tantos carnavais já nos fez vestir muitas glórias. Porém, muito mais que isso, acreditamos que nossa sina é a afronta, o debate e a provocação artística. É cumprir todo ano a romaria, da Baixada à Avenida para fazer o povo protagonista e proporcionar o destaque que o Brasil sempre nos negou. Olha em volta, é hora de mais um acerto com a história, nosso povo de novo acordou e só está aguardando razão de cantar feliz o ressoar do som do teu tambor.
Sinopse
Este enredo é de autoria coletiva. Foi escrito pelas mãos, vozes e memórias de cada componente da nossa comunidade.
A imagem do Pensador, a bela estatueta do povo tchowkwe, que habita a região Nordeste de Angola, inspira-nos a levar para a Avenida um enredo sobre a contribuição intelectual negra para construção de um Brasil mais africano. Nossa civilização conhece e respeita os pensamentos esculpidos em mármore greco-romano. Mas por que não talhar os saberes em ébano? Empretecer o pensamento do mundo é dar a toda a humanidade a oportunidade de uma visão diferente e original, com novos caminhos para o futuro, estabelecendo outras rotas possíveis.
Ao longo do tempo, foram grafadas em pedras duras imagens estereotipadas da África como um ajuntamento de sociedades tribais destituídas de pensamentos e tecnologias. Isto nos impede de ver o legado e a diversidade dos povos e refletir sobre a possibilidade de empretecer o conhecimento humano.
Muitas vezes enquadrada no campo do primitivo e do exótico, nossa forma sofisticada de ver o mundo é desvalorizada por estruturas coloniais racistas que desprezam a riqueza intelectual que produzimos.
Por isso, mais do que nunca, é hora de inspirar mentes, trabalhar pelo “reencantamento” de tudo, e talhar em madeira forte nossos saberes, feito sementes espalhadas por soberanos pássaros de ébano.
“No caminho da luz, todo mundo é preto”
(Emicida)
A diáspora do pensamento negro é um jogo de espelhos que faz refletir por muitas e muitas terras, povos e gerações o valor da nossa gente. Um negrume multicor que construiu monumentos em eras gloriosas, e que também passou a sofrer constantes tentativas de apagamento e silenciamento. Mas o legado dos nossos ancestrais persiste nas cores e nas formas que se afirmam pujantes, assim como a saga do nosso povo. Em muitos tons de negro, erguemos totens, esculpimos imagens de adoração de muitas fés, trançamos palha e fibra, entrelaçamos referências, bordamos a geometria das coisas e dobramos o tempo. Como num colar multicor, colocamos nos fios das artes visuais as mais raras pérolas e as contas mais sagradas dos nossos antepassados.
A costura de um tecido de pensamentos sofisticados se dá a partir dos ensinamentos dos antigos para constituirmos a “afrosofia” de hoje. Em memórias transmitidas de geração a geração, somos sujeitos de poder, guiados pelos ancestrais. Produzimos jeitos diversos de pensar o sentido de um mundo plural, mesmo que máscaras brancas sejam colocadas sobre a pele negra. Falamos e escrevemos em bom “pretuguês”, para o mundo inteiro ouvir, o valor das nossas reflexões que se desdobram em ações afirmativas. A voz da intelectualidade altiva e forte se ergue contra as desigualdades, propondo novos caminhos para transformar a realidade em que vivemos. É o levante quilombista em nome de uma sociedade mais justa!
A escrita de nós sobre nós faz emergir uma literatura que não se limita à entronização de heróis coloniais. Nossos personagens são escritos nas frestas, somos filhas e filhos do cotidiano e do épico, da dor e do prazer, dos movimentos sociais e das reflexões coletivas. As fraturas do processo escravocrata se manifestam na inquietação das palavras de azeviche. Imagens “poétnicas” de potência avassaladora, original e amplificadora de sentimentos e revoltas. São faíscas literárias que encandeiam ideias retintas e permitem reescrever mais e mais Brasis.
Sob as luzes – e às vezes sob as sombras – da ribalta, encenamos a liberdade como texto primordial. Nos palcos do Teatro Experimental do Negro, invocamos a energia vital dos antepassados, espelhando a fúria e a brandura das divindades. Alegria e manifestação! Articulações engajadas fazem com que se multipliquem nomes e mais nomes entre a “grande constelação das estrelas negras”. São a essência do vigor dos nossos passos, da expressão maior dos nossos sonhos e dos nossos corpos instruídos de energia e técnica. Somos constante movimento, pois somos filhos de deuses que dançam!
Agora cessem tudo o que antiga musa canta, porque uma flor nasceu no asfalto… E será cortejada por um pássaro de ébano, mestre-sala dos ventos a lufar sementes do samba, criação preta em essência. Filosofia em tambor sincopado que se transformou no maior espetáculo do ayê. Que possamos celebrar a arte que se afirma em cada Carnaval quando uma voz canta e um corpo responde “ao ressoar do som de um tambor”.
Maravilhosa e soberana é a nação que anualmente ritualiza e espalha seus saberes ancestrais. Em Apoteose, vamos elevar nosso cantar feliz a Cabana, o pensador de ébano que, com suas composições e enredos, ajudou a esculpir o Beija-flor no terreiro sagrado do Carnaval.
A ele e todos os ancestrais do samba, dedicamos nosso desfile, exaltando a memória e o trabalho intelectual do povo preto, e evocando o símbolo adinkra do pássaro que, com os pés fincados no chão, olha para trás para poder agir no presente e seguir rumo ao futuro.
Epílogo
A Beija-Flor de Nilópolis, como referência cultural formada essencialmente pelo povo negro da Baixada Fluminense, ao voltar a propor um enredo tendo foco central a intelectualidade negra, reafirma as pautas sociais cujas demandas passam pela defesa do sistema de cotas raciais e pelo cumprimento da Lei 10.639 (atualizada pela Lei 11.645), que trata da obrigatoriedade do ensino da história e da cultura afro-brasileira e indígena nas escolas. Repudia ainda qualquer discriminação religiosa contra o nosso povo, reafirmando a laicidade do Estado brasileiro. E, por fim, torna-se mais uma voz a se levantar contra a violência no país, que tem atingido especialmente corpos negros, vítimas do racismo estrutural que vigora no país. Basta! Seus filhos já não aguentam mais!
FICHA TÉCNICA
Presidente: Almir Reis
(Presidente de Honra: Aniz Abrahão David)
Carnavalesco: Alexandre Louzada
Diretor de Carnaval: Dudu Azevedo
Direção Geral de Harmonia: Simone Sant’Ana e Valber Frutuoso
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Comissão de Frente: Marcelo Misailidis
Mestres de Bateria:Rodney e Plínio
Rainha de Bateria: Raíssa Oliveira
1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Claudinho e Selminha Sorriso
2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: David Sabiá e Fernanda Love
SAMBA-ENREDO: “Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor”
Autores: J. Velloso (Im Memoriam), Léo do Piso, Beto Nega, Júlio Assis, Manolo e Diego Rosa
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
A nobreza da corte é de ébano
Tem o mesmo sangue que o seu
Ergue o punho, exige igualdade
Traz de volta o que a história escondeu
Foi-se o açoite, a chibata sucumbiu
Mas você não reconhece
O que o negro construiu
Foi-se o açoite, a chibata sucumbiu
E o meu povo ainda chora
Pelas balas de fuzil
Quem é sempre revistado
É refém da acusação
O racismo mascarado pela falsa abolição
Por um novo nascimento, um levante
Um compromisso
Retirando o pensamento
Da entrada de serviço
Versos para cruz, Conceição no altar
Canindé, Jesus, ô, Clara!!
Nossa gente preta tem feitiço na palavra
Do Brasil acorrentado, ao Brasil que não se cala
Versos para cruz, Conceição no altar
Canindé, Jesus, Ô, Clara!!
Nossa gente preta tem feitiço na palavra
Sou o Brasil que não se cala!!
Meu Pai Ogum ao lado de Xangô
A espada e a lei por onde a fé luziu
Sob a tradição Nagô
O grêmio do gueto resistiu
Nada menos que respeito
Não me venha sufocar
Quantas dores, quantas vidas
Nós teremos que pagar?
Cada corpo um orixá! Cada pele um atabaque
Arte negra em contra-ataque
Canta Beija-Flor! Meu lugar de fala
Chega de aceitar o argumento
Sem senhor e nem senzala, vive um povo soberano
De sangue azul nilopolitano
Mocambo de crioulo: Sou eu! Sou eu!
Tenho a raça que a mordaça não calou
Ergui o meu castelo dos pilares de Cabana
Dinastia Beija-Flor!
VÍDEO Making Of Oficial: @portalsambrasil @riocarnaval https://youtu.be/w5xAwK0fcJA
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