05 – Beija-Flor campeã do último carnaval entra na avenida buscando mais um título

Por Gilvan Lopes e Heitor Olímpio
Fotos por Chiara Martelotta e Lucas Andrade
Suporte Mídias: Julia Fernandes
Suporte Técnico/Remoto: Jack Costa
Com 70 anos de fundação, a Beija-Flor irá contar sua história através dos seus enredos, entre eles estarão alguns que causaram impactos, polêmicas e frissons na avenida. Como “Ratos e Urubus larguem minha fantasia, de 1989”, “O Povo conta a sua história: saco vazio não para em pé, a mão que faz a guerra faz a paz, de 2003” e “Em nome do Pai, do Filho a Beija-Flor é Guarany, de 2005”.
A ideia inicial do tema partiu do presidente de honra da azul e branca, Anísio Abraão David. Não se tratará de uma simples reedição dos temas, mas sim apresentá-los com nova roupagem, uma versão atualizada. A proposta do nome do enredo – Quem não viu vai ver… As fábulas do Beija-Flor, surgiu para que o público que não viu tais enredos possam rever e prestigiar as histórias contadas na avenida pela agremiação.
Enredo: Quem Não Viu Vai Ver… As Fábulas do Beija-Flor, desenvolvido pela comissão de carnaval formada por Victor Santos, Bianca Behrends, Rodrigo Pacheco, Léo Mídia, Cid Carvalho e Válber Frutuoso.
A Beija-Flor de Nilópolis contou sua história traves de fabula num enredo “Quem Não Viu Vai Ver… As Fábulas do Beija-Flor”, desenvolvido pela comissão de carnaval formada por Victor Santos, Bianca Behrends, Rodrigo Pacheco, Léo Mídia, Cid Carvalho e Válber Frutuoso.
Quarta escola a pisar na avenida, a Azul e Branca de Nilópolis tem muita história para contar e nas palavras da pesquisadora de enredo, Bianca Behrends falou com a reportagem do Portal Sambrasil sobre o prazer de realizar esse trabalho e como vai ser contada a história da agremiação na Sapucaí. “Contar a história da escola que eu amo é muito fácil e prazeroso. A escola vai ser contada em três blocos, mas de muito fácil assimilação por parte de todo mundo. Estou muito feliz com o trabalho que desenvolvemos.”
Ricardo Abrahão David, presidente da Azul e Branca exaltou mais uma vez a importância das agremiações com esse problema de dinheiro para esse ano. “Só nas adversidades que conseguimos ver que as escolas são unidas”. E conclui dizendo o quando a escola vem para brincar “a Beija-flor falando dos outros já é forte, imagina falando de si?! É muito mais forte viemos para brigar e sair nas campeãs”.
Esse sentimento é presente em todos os componentes da Beija-flor de Nilópolis, da rainha de bateria Raíssa de Oliveira que apesar de ter 28 anos já uma veterana de Sapucaí aos experientes e xarás Arnaldos Mateus e Beija-flor, da ala de compositores da agremiação. Raíssa nos disse que não esconde a emoção apesar desses anos todos de avenida “Estou muito confiante com a nossa vitória, mesmo depois de tanto tempo de Avenida a Beija-flor me emociona muito”.
Arnaldo Mateus ainda é autor de dois sambas campeãs na quadra Margareth (Margareth Mee, a dama das bromélias, de 1994) e Beija-flor é festa na Sapucaí (1997) e chegou a oito finais.
E para os compositores esse samba é abraçado por todos da quadra “Todos estão cantando em Nilópolis, a Beija-flor vem sempre forte. Com esse samba vamos deixar o sangue na avenida e brigar pelo bicampeonato. A gente tem essa capacidade. Nilópolis merece”.
Falamos também com o presidente de honra da escola, Aniz Abrahão que contou como o seu coração Azul e Branca se comporta nesse dia “Meu coração está sempre bom, sempre explodindo porque isso aí é uma realidade a Beija-flor contato a sua história em 70 anos é sempre forte”.
INTRODUÇÃO
No dia de Natal, à luz do Criador Deus Menino, sete décadas atrás, nasceu faceiro Beija-Flor, criado com muito amor; dádiva de quem já estreou abençoado na manjedoura nilopolitana, esmeralda reluzente riscando o céu no infinito.
Conduzindo essa viagem fascinante, voando de flor em flor nos Jardins da Folia, disseminou o pólen da informação e o grão do entretenimento, semeando Cultura Popular; bailando e rodopiando pelos ares, até na floração do Carnaval nova flor ver desabrochar.
Fez da História milenar alimento, cruzou céus e mares, igarapés e mananciais. Promoveu o encontro entre tambores e tribos, lendas e mitos; e viu despontar costumes, peculiaridades e tradições. Escreveu páginas de ouro da poesia brasileira ao revisitar nossas raízes, e nos fez mais felizes ao cantar a exuberante beleza das riquezas áureas do Brasil de Norte à Sul, em tons de branco e azul.
Viajou pelo mundo místico dos Caruanas nas águas do Patu-Anu, pelo paraíso hospitaleiro de onde se avista o sol primeiro, da Terra Santa – verde paraíso do povo da floresta e seu canto de fé pela missão de preservar, embebido de força, mistério e magia – para as terras dos Pampas, onde sete povos, na fé e na dor, ergueram sete missões de amor, em meio à liberdade dos campos e aldeias.
Viu brilhar o seu valor a iluminar o estado de amor de uma Comunidade que impõe respeito, e cheia de orgulho, bate no peito. Retirou o chapéu de bamba para anunciar Brasília, a capital da esperança, inspirada na arte e nos traços do mestre da arquitetura; e declamou ainda, o poema encantado da terra do bumba-meu-boi, da encantaria e das palmeiras onde canta o sabiá.
Resgatou as nossas origens e a nossa herança africana, legado dos nossos ancestrais. Testemunhou a criação do mundo na tradição Nagô e às Pretas-Velhas… quanto amor! Cantando em louvor à grande constelação das estrelas negras e todo o seu esplendor.
Ao abordar a importância da negritude, rompeu fronteiras e conheceu o berço de diferentes civilizações. Do Egito à liberdade, esclareceu que negros escravos viveram em grande aflição, foram o braço forte da nação; saga de quem vai seguindo o seu destino…
Enfim reencontrou as Áfricas de lutas e de glórias – do baobá da vida de Ilê Ifé à irmandade do conto do griô, negro na raça, no sangue e na cor.
Narrador-personagem a desvendar mistérios trajados de fantasias, consagrou-se ave Soberana, desfilando a exaltar a Corte de reis e rainhas no cortejo dos plebeus, composto por mestiços, índios, negros e europeus.
Homenagens que passeiam pela exaltação à José de Alencar, ao bom Natal – saudado pela Majestade, o Samba; pela coroação da Dama das Bromélias Margareth Mee, que fez a festa na Sapucaí, e pelo canto de cristal da diva internacional Bidu Sayão, que sacudiu a Passarela.
Comoveu ao botar pra fora a felicidade de reverenciar a simplicidade, momentos lindos que fizeram do Samba, oração. Sonhou o sonho do sonhador ao viajar nos feitos do astro iluminado da televisão, e na genialidade do Marquês que batizou a Avenida, palco das mais esplêndidas atrações.
Audacioso pássaro pequenino se fez gigante, ao propor reflexão social, ao soltar o grito de liberdade, o clamor por igualdade. A utopia de um Brasil livre da ganância nociva que há por baixo dos panos, ninho de famintas serpentes, onde ratos e urubus, trepados no cangote do povo, fingem não entender que todo mundo nasceu nu, e que saco vazio não pára em pé. Santuário de ambição que vitimiza brava gente sofrida, cansada de ganhar tão pouco, que vive no sufoco e precisa desabafar: seus filhos já não aguentam mais! Monstro é quem não sabe amar!
Foi o nosso DNA precursor e revolucionário, de quem tem sede de vitória, que permitiu que chegássemos até aqui, conquistando 14 estrelas, revelando o sorriso alegre do sambista, e sendo aclamada o festival de prata em plena pista.
A possibilidade de fazer uma releitura de desfiles memoráveis, alguns considerados mesmo antológicos, é um afago para a nossa gente humilde, que defende o nosso manto sagrado, na alegria ou na dor. Enamorada do nosso país, Nilópolis é nossa raiz!
Hoje, a nossa declaração de respeito, reverência e devoção ao Pavilhão virou fabuloso enredo sobre nossa septuagenária Agremiação; hino a ser defendido e entoado pelo canto inebriante de uma Comunidade fascinante. Quem Não Viu, Vai Ver, as Fábulas do Beija-Flor!
Que o ímpeto de voar seja o nosso segredo para acreditar, que o palpite, é certo!
JUSTIFICATIVA
A proposta do Carnaval 2019 da Beija-Flor de Nilópolis é uma celebração aos seus 70 anos de história, resgatando a memória do Pavilhão através de uma releitura contemporânea e fabulosa dos enredos mais marcantes da Agremiação.
Quem Não Viu, Vai Ver, e quem viu, vai novamente poder se emocionar com As Fábulas do Beija-Flor, uma coletânea das aventuras conduzidas pelo voo do Beija-Flor, animal símbolo da Escola, e o narrador-personagem dos enredos.
O embasamento e a argumentação deste projeto carnavalesco perpassam pela definição do conceito de fábula, pela relevância histórica e pedagógica do escravo grego Esopo, e pela missão do Carnaval enquanto espetáculo e manifestação cultural.
As fábulas são narrativas de fatos, imaginários ou não; fabulações cujas personagens são animais (e ainda plantas e seres inanimados) que agem como seres humanos, apresentam características humanas, tais como a fala e os costumes, e têm como objetivo promover reflexão e propiciar ensinamentos através da moral da história.
A inspiração na obra milenar de Esopo baseia-se em uma identificação imediata, pois do mesmo modo que os preceitos morais deixados como legado por este visionário permanecem atuais e atemporais, a Beija-Flor de Nilópolis sempre revelou-se uma Escola pioneira, à frente de seu tempo.
Da mesma forma que as narrativas de Esopo se tornaram famosas ao longo da História da humanidade, os carnavais da Beija-Flor inspiraram e incitaram importantes reflexões na nossa sociedade, ambos embebidos de arte em um universo de magia e fantasia; e tanto as fábulas quanto o Carnaval são elementos populares. Sendo que o Carnaval, enquanto a mais genuína expressão da nossa identidade, também apresenta, através dos desfiles das Escolas de Samba, temáticas fictícias que têm por finalidade disseminar informação, conhecimento, cultura e entretenimento, cantadas em verso e prosa – tal qual as fábulas – através do samba-enredo.
SINOPSE
Uma lágrima sentida caiu dos olhos da Vovó, lembrando imagens de crianças e do velho tempo que passou. Olhem o céu que maravilha! Retalhos de nuvens, bordados de estrelas… Iluminada pelo sol da meia-noite, a natureza vem mostrar sua beleza.
Pela porta da imaginação, galopando em cavalos alados, chegamos ao País das Maravilhas. Recebidos por soldadinhos de chumbo, entramos na floresta onde os animais falam e as plantas cantam; tudo neste mundo é encantado!
Com o despontar da primavera, tirem do passado a nobreza, e do futuro, a magia da surpresa! Criem a mais linda fantasia, delirem no universo fantástico deste canto de emoção!
Não chore não Vovó, não chore não! Veja quanta alegria dentro da recordação!
Hoje, novamente sou livre, sou criança Beija-Flor; nessa bela fantasia, brindando à vitória do amor!
Pousarei nos luxuriantes Jardins das Delícias onde repousa o gigante em berço esplêndido. Celebrarei os donos da terra, sua cultura, suas lendas e seus rituais mágicos. Lavarei a alma e matarei a sede nas águas do rio mar, acompanhado de Caruanas e Amazonas à luz do luar. Ensinarei a dádiva da preservação das nossas riquezas, que estão abaixo e acima do solo; e revisitarei diversos cantos e recantos desse torrão miscigenado. Ouvirei ainda poemas encantados de amor; renascendo nas águas de um paraíso hospitaleiro de onde se avista o sol primeiro. Me tornarei candango e calango na capital da esperança e, traçando o destino ainda criança, me transfigurarei em brilho de fogo sob o sol do novo dia.
Iluminado feito um festival de prata, subirei ao Orum sagrado dos Nagôs, e descortinarei a reluzente constelação das estrelas negras para resgatar as nossas diversas Áfricas: a de lá e as de cá. Guiarei um cortejo de reis, rainhas e guerreiros negros, aqueles que romperam grilhões e carregaram nos ombros, marcados pelas chibatas, a opulência do nosso país, mas que sempre ficaram esquecidos nas savanas da memória oficial. Então, lembrarei que o mundo deve o perdão aos filhos de ébano, àqueles que sangrando pela História, foram tratados como mercadoria pela cruel ganância da escravidão.
Recordarei a grandiosidade da nossa cultura, múltipla, diversificada. Sonharei com rei e acertarei no leão. Ouvirei novamente aquela inesquecível voz de cristal encantando corações; me emocionarei com a sensibilidade da Dama das Bromélias; reviverei um tempo que passou, uma lembrança que ficou, para encontrar, lá no Cachoeiro, o Rei ainda menino e; finalmente, quando o amor invadir as almas e a magia trouxer inspiração, triunfará uma canção para embalar os corações.
Porém, entristecido, constatarei que não somos o Brasil das maravilhas. Verei que os trabalhadores mais humildes continuam carregando o peso descomunal dos impostos, enquanto os “donos do poder” se esbaldam em farras bancadas com dinheiro público. Serei mais uma vez o porta-voz dos excluídos contra as mazelas que corroem as nossas riquezas, por que faz parte da minha missão.
Retirarei das imensas lixeiras desse país, restos de luxo, convocando o povo para um grande Bal Masqué. Fazendo, da própria angústia, um grito de desabafo: ratos e urubus, larguem nossas fantasias! Chega de ganhar tão pouco, chega de sufoco e de covardia! Parem com essa ganância, pois a tolerância pode se acabar um dia! Oh! Pátria amada, por onde andarás? Seus filhos já não aguentam mais!
É bem verdade, Vovó, que de lá pra cá, tudo se transformou. Mas a vitória da folia ficou no encanto do meu povo, que brinca sambando quando samba a Beija-Flor!
Comissão de carnaval: Victor Santos, Bianca Behrends, Rodrigo Pacheco, Léo Mídia, Cid Carvalho e Válber Frutuoso
LETRA
“Quem não viu, vai ver… As fábulas do Beija-Flor”
Autores: Di Menor BF, Júlio Assis, Kiraizinho, Diego Oliveira, Fabinho Ferreira, Diogo Rosa,
Dr. Rogério, Carlinho Ousadia, Márcio França, Kaká Kalmão, Jorge Aila e Serginho Aguiar
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
NASCIDO FEITO O REI MENINO
EM NINHO DE AMOR E HUMILDADE
MEU PAI DIRECIONOU O MEU DESTINO
VOAR NAS ASAS DA FELICIDADE
E ARRISQUEI UM VOO NESSE LINDO AZUL
UM MUNDO ENCANTADO PUDE RECORDAR
EM FÁBULAS BORDEI A FANTASIA
Ê SAUDADE QUE MAREJA O MEU OLHAR
HERDEIRO DESSA TERRA ME TORNEI
CANTEI NOSSOS RECANTOS, TRADIÇÕES
SOU EU AQUELE FESTIVAL DE PRATA
QUE NA PISTA ARREBATA TANTOS CORAÇÕES
ÔÔÔÔ AXÉ QUE NO SANGUE HERDEI
NO MEU QUILOMBO, TODO NEGRO É REI
ABRE A SENZALA! ABRE A SENZALA!
NESSE TERREIRO O SAMBA É A VOZ QUE NÃO CALA
CRESCI, OUVINDO ACORDES ENTRE DOCES MELODIAS
A BELA DAMA RETRATADA EM POESIA E O CANTO DE CRISTAL
A SIMPLICIDADE NO AMOR, AQUELE BEIJO NA FLOR
FEZ MAIS UM SONHO REAL
PÁTRIA AMADA DA GANÂNCIA
EU PEDI SOCORRO PELOS FILHOS TEUS
ALGOZ DA INTOLERÂNCIA
MESMO PROIBIDO, FUI A VOZ DE DEUS
TODA ESSA GRANDEZA, VEM DA NOSSA GENTE
QUE ESQUECE A DOR E SÓ QUER SAMBAR
É POR ESSE AMOR
QUE O MEU VALOR ME FAZ BRILHAR
COMUNIDADE ME ENSINOU
A SER APAIXONADO COMO EU SOU
ONTEM, HOJE, SEMPRE BEIJA-FLOR
OH DEUSA!
TEM FESTA NO MEU CORAÇÃO
DESFILO TODA GRATIDÃO
RAZÃO DO MEU CANTAR,
A LUZ DO MEU VIVER…
O QUE SERIA DE MIM SEM VOCÊ?
FICHA TÉCNICA
Fundação 25/12/1948
Cores Azul e Branco
Presidente de Honra Aniz Abrahão David
Presidente Ricardo Abrão David
Quadra Rua Pracinha Wallace Paes Leme, 1025 – Nilópolis – RJ
Cep: 26.050-032
Telefone Quadra
Barracão Cidade do Samba (Barracão nº 11) – Rua Rivadávia Correa, nº 60 – Gamboa
CEP: 20.220-290
Telefone Barracão
Internet www.beija-flor.com.br
Imprensa Natália Louise
e-mail: natalia.elloo@gmail.com
Tel.: (21) 98195-5798
Enredo 2019 “Quem não viu vai ver… As fábulas do Beija-Flor”
Carnavalescos Victor Santos, Bianca Behrends, Rodrigo Pacheco, Léo Mídia,
Cid Carvalho
Intérprete Neguinho da Beija-Flor
Mestres de Bateria Rodney e Plínio
Rainha de Bateria Raíssa de Oliveira
Mestre-Sala e Porta-Bandeira Claudinho e Selminha Sorrizo
Comissão de Frente Marcelo Misailidis