05 B – GRES Beija Flor de Nilópolis

Por Marcelo Faria e Equipe Sambrasil Rio
Reportagens: Sirlene Oliveira, Ricardo Netto, Gilvan Lopes, Roberta Campos, Lizia Nascimento, Fernanda Gaspar e Rafael Rios
Imagens: Julia Fernandes, Sirlene Oliveira, Fernanda Gaspar e Lizia Nascimento
Fotografias: Arlene Melo, Marcelo Faria, Lizia Nascimento, Fernanda Gaspar e Marcelo S. Faria
Suporte técnico: Jack Costa e Jaime Jotta Jr.
Videomaker: Jaime Jotta Jr. e Raphael Rios
Produção: Lízia Nascimento e Fernanda Gaspar
Redes Sociais: Jack Costa, Lízia Nascimento, Julia Fernandes e Sirlene Oliveira
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A Azul e Branco de Nilópolis, da Baixada Fluminense, propõem um novo marco para a
Independência Nacional: O dia em que o povo venceu, em 2 de Julho de 1823, data da vitória das
tropas brasileiras na consagração instalada na Bahia. A escola quer comemorar um novo Dia da
Independência ao som dos batuques de caboclo, cantando que até o sol é brasileiro, festejando os
marcos populares em festas que tenham cheiro, cor e sabor de brasilidade, reconhecendo o
protagonismo feminino e afro-ameríndio. Desenvolveram o enredo os carnavalescos Alexandre
Louzada e André Rodrigues.
ENREDO: “Brava Gente! O grito dos excluídos no Bicentenário da Independência”
Sinopse do Enredo
CONVOCAÇÃO
Por uma questão de desordem no que se diz respeito às memórias que este país constrói: VAMOS
NOS UNIR, BRAVA GENTE!
Esta é uma convocação aos sobreviventes deste país que não nos reconhece. Um país que ignora
nossas existências.Um país que comemora 200 anos da marginalização da sua própria gente.
Seremos a voz do desejo de uma nação inteira: independência e vida!
O Estado brasileiro foi erguido sobre um conjunto de mitos e símbolos que justificam as violências
que ainda hoje são implementadas contra nós. Não é por acaso o apagamento do verdadeiro
protagonista da história nacional: o povo brasileiro. Esta é a brava gente que está ausente dos atos
cívicos que celebram nossos mitos fundadores. Excluídos.
Se as pautas fundamentais para uma nação soberana, independente e justa são trabalho digno,
moradia, alimentação, participação popular, igualdade de direitos e liberdade plena, a grande
pergunta é: este é o Brasil em que vivemos?
Propomos, então, um novo marco para a Independência Nacional: O dia em que o povo venceu, o 2
de Julho. O triunfo popular de 1823 é muito mais sobre nós e sobre nossas disputas. O Dia da
Independência que queremos é comemorado ao som dos batuques de caboclo, cantando que até o
sol é brasileiro. Precisamos festejar os marcos populares em festas que tenham cheiro, cor e sabor
de brasilidade, reconhecendo o protagonismo feminino e afro-ameríndio. Somos aqueles e aquelas
que, excluídos dos espaços de poder, ousam ter esperança no amanhã. O Brasil precisa reconhecer
os muitos Brasis e suas verdadeiras batalhas.
É a partir desta data que provocamos uma nova comemoração da independência do Brasil. A
independência do povo para o povo. Faremos, então, um grande ato cívico em louvação aos 200
anos de luta dos brasileiros, herança dos heróis e heroínas que forjam dia a dia, através de suas
batalhas, uma nação verdadeiramente livre e soberana.
Reivindicamos e nos orgulhamos das lutas históricas e sociais daqueles que nos precederam nesta
incansável batalha pela cidadania.
Juntem-se e vistam suas fantasias, pois será um grande carnaval quando em praça pública
declararmos nossa própria independência. NÓS, O POVO! Juntando tudo e todos. O novo Brasil
ditará as ordens a partir da folia. Alegria e manifestação! Nossa bandeira será um grande mosaico
do que somos de verdade, feita a partir do retalho do que cada um tem a oferecer daquilo que lhe
representa.
A cultura é o nosso poder, e, é através dela que lutamos pela transformação social, colocando o
povo no pedestal que lhe é de direito. Por isso fazemos carnaval, é a nossa missão, sempre
construindo o país que acreditamos, e lutando para que ele seja um dia, realidade.
O grito será por justiça e liberdade, igualdade sem neurose e sem caô
Nilópolis, 02/07/2023
Dia dos 199 anos da Independência do nosso Brasil
JUSTIFICATIVA
O G. R. E. S. Beija-Flor de Nilópolis irá apresentar no carnaval de 2023 o enredo “BRAVA GENTE!
O GRITO DOS EXCLUÍDOS NO BICENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA”.
O bicentenário da Independência é um momento propício para um debate profundo acerca dos
rumos e do próprio sentido do país. O carnaval carioca, alegria e manifestação, não poderia ficar de
fora desta ampla discussão. A festa consolidou-se como um espaço privilegiado para reflexão e a
disputa de questões de importância fundamental em um espetáculo artístico de inegável dimensão
política e caráter pedagógico.
Através do seu desfile, um ato cívico, nós propomos que a independência é um processo,
defendemos um novo marco para a emancipação política brasileira, destacando o protagonismo
popular enquanto denunciamos o caráter autoritário, tutelar, excludente e desigual do Estado, desde
sua gênese até a atualidade.
Ao invés de celebrar ritualisticamente o mito fundador da pátria – o grito do Ipiranga no 7 de
setembro, argumentamos em favor de um novo marco, capaz de oferecer um sentido que
consideramos mais próximo da verdade histórica de uma independência que foi conquistada; não
proclamada. Este marco é o 2 de julho de 1823, data da vitória das tropas brasileiras na
consagração instalada na Bahia.
Ao mesmo tempo, iremos rememorar esses duzentos anos a partir da perspectiva das camadas
populares apontando as mazelas, contradições e limites da construção nacional. Heroico é o povo
que constrói a sua própria autonomia através da luta. Esta é a nossa história: nada nos foi dado;
cada um dos nossos avanços foi obtido pelos nossos próprios esforços.
Se o Estado brasileiro se ergueu como um instrumento para conservação de uma ordem patriarcal,
escravocrata e latifundiária, o povo brasileiro, mesmo alijado dos espaços institucionais, insiste em
disputar no Brasil sem temer nem a luta, nem a morte.Este enredo é um grito que ecoa do Brasil
profundo e se faz ouvir aos quatro cantos. Das aldeias, guetos, terreiros e favelas um brado em
uníssono se faz clamor: independência e vida!
Este é o nosso grito.
FALA MAIS
O dia em que o povo ganhou: vitória patriótica de dois de julho
No processo de elaboração da memória nacional, o dia 7 de setembro de 1822 foi forjado como o
grande marco da nossa independência. O grito do Ipiranga seria o decisivo ato heroico do príncipe
regente para a emancipação política do Brasil. A invenção do sete de setembro cumpriu o papel de
mito fundador do Estado brasileiro. Este mito celebra uma ideia de independência pacífica, fruto do
heroísmo do futuro imperador e de arranjos da elite. O que ele esconde é que houve guerra e muito
sangue foi derramado neste processo.
As guerras da independência evidenciam a diversidade de ideias, concepções e projetos, os
conflitos e tensões sociais e políticas constitutivos daquele cenário histórico. O esquecimento sobre
estas guerras não é gratuito; muito pelo contrário, é o resultado de uma construção da história que
considera a emancipação política do Brasil um “desquite amigável” em relação a Portugal.
Em províncias como Ceará, Cisplatina, Maranhão, Pará e Piauí houveram confrontos bélicos em
episódios decisivos para que a causa nacional triunfasse. Porém foi na província da Bahia que se
instalou a guerra que tomaremos como marco. Durante um ano e quatro meses, o destino da nação
brasileira teve este território como palco privilegiado. O confronto na província foi central no
processo de ruptura que garantiu a soberania nacional.
Até que em 2 de julho de 1823 até o sol foi brasileiro. O dia em que o povo ganhou. Esta data marca
a vitória libertadora com a expulsão dos portugueses e, desde então, é celebrada com uma grande
festa que tem cheiro, cor e sabor de brasilidade. Uma algazarra pública, que tem nas figuras do
caboclo e da cabocla símbolos da liberdade. Esta festividade celebra e louva a ampla participação
popular, sobretudo de indígenas e negros, na luta pela emancipação ante a tirania e o julgo colonial.
O papel de destaque de muitas mulheres, como Joana Angélica, Maria Quitéria e Maria Filipa,
verdadeiras heroínas da pátria, acentua o protagonismo feminino que se contrapõe a uma escrita da
história centrada no paradigma da masculinidade.
É este marco que celebramos como data da nossa independência: a vitória patriótica do 2 de julho e
o protagonismo popular, notadamente afro-ameríndio e feminino.
A conservação da ordem e a permanência das lutas populares
Após a independência oficial, não tardou para que o povo brasileiro percebesse que o projeto de
construção nacional não pretendia alterar a organização social: a escravidão, o latifúndio e a
monarquia seriam os pilares do Império. O grande temor das oligarquias era de que os ventos
revolucionários do Haiti provocassem uma onda emancipatória e inspirasse negros e negras
brasileiros em uma insurreição. O medo branco de uma grande rebelião negra era o principal fator
de agregação dos diversos setores de uma elite fortemente dividida entre oligarquias regionais.
O Império nasce como um Estado forte e centralizador. A dissolução da Assembleia Constituinte e a
repressão brutal a dissidências como a Confederação do Equador, que defendia um modelo
federalista, não deixavam dúvidas sobre este caráter. A unidade territorial foi mantida através da
forte repressão aos movimentos emancipatórios e separatistas. O sentido do Estado é a
conservação.
Por sua vez, o povo brasileiro permaneceu em luta. Construiu redes de proteção comunitária e
fortalecimento coletivo, organizou um conjunto de movimentos contestatórios que almejam a
conquista de direitos como os malês, cabanos e balaios. Se a independência não alterou a estrutura
social e não promoveu mudanças para aqueles que dispuseram de suas vidas para conquistá-la,
eclodiram movimentos, revoltas, rebeliões, motins e insurreições por toda extensão do Império. Se a
ordem é injusta, a desobediência civil é a resposta.
Em cada um destes levantes e movimentos populares, havia um acúmulo de forças e crescia a
consciência crítica e histórica. É impossível desvincular o movimento abolicionista que construiu e
solidificou a liberdade, das muitas revoltas de escravizados que se proliferaram de norte a sul. Assim
como as nações indígenas, originárias e verdadeiras donas desta terra, que seguiram mobilizadas
nos enfrentamentos necessários para a manutenção da sua própria existência, a conservação dos
seus saberes e práticas.
As fantasias republicanas e as batalhas pela cidadania
Provando que no Brasil as ideias estão sempre fora de lugar, a República já nasceu velha. Da
espada, oligárquica, dos coronéis e barões, do café com leite, dos ideais eugenistas e com um lema
que poderia estampar nossa bandeira: autoritarismo e desigualdade. Restringindo a cidadania a
pouquíssimos, discriminando por raça, credo, gênero e orientação sexual.
Brutalmente violento, o Brasil é descrito por seus intérpretes/inventores como um país pacífico e
harmônico, destinado à glória no porvir enquanto, no presente, seus filhos e filhas morrem de fome.
Excluídos, à margem. O tal “país do futuro” foi eficaz em construir uma imagem de si que mascara
sua verdadeira face.
A democracia, entre nós, sempre foi um terrível mal-entendido. E é curioso constatar que foi
pretensamente com a intenção de defendê-la que corriqueiramente a golpearam.
Os grandes agentes civilizatórios deste país são os brasileiros e brasileiras que, em movimentos
organizados, são os mais fiéis defensores da democracia. Se a intenção manifesta era conferir uma
cidadania limitada, inconclusa e tutelar, nós não aceitamos e conquistamos mais espaços de
participação através de diferentes táticas e estratégias.
Denunciando o genocídio da juventude negra, o feminicídio, a violência contra a população
LGBTQIA+ e o racismo religioso, a brava gente brasileira segue ocupando as ruas afirmando sua
existência, pleiteando reconhecimento e disputando o hoje. Nós não admitimos a tese absurda de
um marco que limite no tempo a posse da terra de quem é seu único e verdadeiro dono.
Manifestamos nossos desejos e expressamos nossas necessidades em pautas, causas e questões
incontornáveis como a reforma agrária, os direitos trabalhistas e a urgente promoção da igualdade
racial.
Em um país majoritariamente negro e feminino, as mulheres negras são a base de sustentação
material e, somente a partir delas, poderemos, efetivamente, se constituir em um país outro, uma
mátria de muitos Brasis. Plural, diversa, inclusiva e igualitária.
Alegria e manifestação
O desfile da Beija-Flor de Nilópolis será um grande ato cívico pela construção de um Brasil livre,
soberano e verdadeiramente independente. Este Brasil livre, soberano e independente ainda é um
sonho, mas, por este sonho, a brava gente brasileira segue derramando sangue e suor em busca de
dignidade e autonomia.
Nosso ato será festivo e multicolorido.
Nossa singularidade é produto da pluralidade das muitas nações brasileiras. Esta pluralidade
manifesta compreensões e conhecimentos, formas de ser, sentir e pensar que alargam as
possibilidades de existência. Os muitos anseios e desejos de um Brasil melhor se exprimem
justamente na riqueza da nossa arte e cultura. São expressões de uma brasilidade que emana desta
gente que, permanentemente em luta, também produz beleza e encantamento.
Cultuamos e preservamos nossa ancestralidade e os saberes tradicionais resistindo a toda sanha de
domesticação dos corpos e aniquilação da diversidade de práticas, costumes e experiências.
Fazemos festa porque esta é, também, manifestação política e na festa carnavalesca gritamos que
outros Brasis são possíveis.
Autores do Enredo: André Rodrigues e Mauro Cordeiro
Desenvolvimento: André Rodrigues, Mauro Cordeiro e Alexandre Louzada
Convocação: André Rodrigues, Beatriz Chaves, João Vitor Silveira e Jader Moraes.
Pesquisa e Justificativa: Mauro Cordeiro
SAMBA ENREDO: “Brava Gente! O grito dos excluídos no bicentenário da Independência”
Compositores: Léo do Piso, Beto Nega, Manolo, Diego Oliveira, Julio Assis e Diogo Rosa
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
A REVOLUÇÃO COMEÇA
ONDE O POVO FEZ HISTÓRIA
E A ESCOLA NÃO CONTOU
MARCO DOS HERÓIS E HEROÍNAS
DAS BATALHAS GENUÍNAS
DO DESQUITE DO INVASOR
NAQUELE DOIS DE JULHO, O SOL DO TRIUNFAR
E OS FILHOS DESSE CHÃO A GUERREAR
O SANGUE DO ORGULHO RETINTO E SERVIL
AVERMELHAVA AS TERRAS DO BRASIL
EH! VIM COBRAR IGUALDADE, QUERO LIBERDADE DE EXPRESSÃO
É A RUA PELA VIDA, É A VIDA DO IRMÃO
BAIXADA EM ATO DE REBELIÃO (EH, EH)
DESFILA O CHUMBO DA AUTOCRACIA
A DEMAGOGIA EM SETEMBRO A MARCHAR
AOS “RENEGADOS” BARRIGA VAZIA
PROGRESSO AGRACIA QUEM TEM PRA BANCAR
ORDEM É O MITO DO DESCASO
QUE DESCONHEÇO DESDE OS TEMPOS DE CABRAL
A LIDA, UM CANTO, O DIREITO
POR AQUI O PRECONCEITO TEM CONCEITO ESTRUTURAL
PELA MÁTRIA SOBERANA, EIS O POVO NO PODER
SÃO MARIAS E JOANAS, OS BRASIS
QUE EU QUERO TER
DEIXA NILÓPOLIS CANTAR!!!
PELA NOSSA INDEPENDÊNCIA, POR CULTURA POPULAR
Ô ABRAM ALAS AO CORDÃO DOS EXCLUÍDOS
QUE VÃO À LUTA E MATAM SEUS DRAGÕES
ALÉM DOS CARNAVAIS, O SAMBA É QUE ME FAZ
SUBVERSIVO BEIJA FLOR DAS MULTIDÕES
FICHA TÉCNICA
Fundação 25/12/1948
Cores Azul e Branco
Presidente de Honra Aniz Abrahão David
Presidente Almir Reis
Quadra Rua Pracinha Wallace Paes Leme, 1025 – Nilópolis – RJ. Cep: 26.050-032
Telefone Quadra (21) 2791-2866
Barracão Cidade do Samba (Barracão nº 11) – Rua Rivadávia Correa, nº 60 – Gamboa. Cep:
20.220-290
Telefone Barracão (21) 2233-5889
Site www.beija-flor.com.br
Imprensa Philipe Reis – Elloo Comunicação
Tel.: (21) 97283-5791
Enredo 2023 “Brava Gente! O grito dos excluídos no Bicentenário da Independência”
Carnavalescos Alexandre Louzada e André Rodrigues
Diretor de Carnaval Dudu Azevedo
Intérprete Neguinho da Beija-Flor
Mestres de Bateria Rodney e Plínio
Rainha de Bateria Lorena Raissa
Mestre-Sala e Porta-Bandeira Claudinho e Selminha Sorriso
Comissão de Frente Jorge Teixeira e Saulo Finelon