05 A – GRES Unidos de Padre Miguel

Por Marcelo Faria e Equipe Sambrasil Rio
Reportagens: Sirlene Oliveira, Ricardo Netto, Gilvan Lopes, Roberta Campos, Lizia Nascimento, Fernanda Gaspar e Rafael Rios
Imagens: Julia Fernandes, Sirlene Oliveira, Fernanda Gaspar e Lizia Nascimento
Fotografias: Arlene Melo, Marcelo Faria, Lizia Nascimento, Fernanda Gaspar e Marcelo S. Faria
Suporte técnico: Jack Costa e Jaime Jotta Jr.
Videomaker: Jaime Jotta Jr. e Raphael Rios
Produção: Lízia Nascimento e Fernanda Gaspar
Redes Sociais: Jack Costa, Lízia Nascimento, Julia Fernandes e Sirlene Oliveira
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A vermelho e branco da Zona Oeste do Rio de Janeiro, a Unidos de Padre Miguel, apresenta o
enredo que retrata a influência e interferência árabe, moura e muçulmana no Nordeste.
A escola fará um paralelo entre o deserto e o sertão, a música, o chapéu do cangaceiro, leques e
guarda-sóis, o uso de tapetes e as janelas quadriculadas e os azulejos, do comércio do mascate, ao
gibão que cobre um cabra, fazendo um passeio pela Península Ibérica conquistada por árabes do
Norte da África e o domínio mouro no Nordeste. Os carnavalescos Edson Pereira e Wagner
Gonçalves desenvolveram o enredo.
ENREDO: Baião de Mouros
Sinopse do Enredo
“Eu era feliz vestindo os couros de cabra que outrora usava. Mais do que o sou agora em suntuosas
roupas. Se eu pudesse viveria, não neste alcáçar, mas na tenda do deserto onde muge o vento. O
camelo impetuoso de passo agitado eu amo mais que a mula de pacífico passo” (Califa Moawi)
“A Música árabe veio roçar com sua asa de fogo os cantares do nosso Romanceiro, assim como os
toques das nossas violas e rabecas, (…) trazendo nas cordas de seus instrumentos e nas de suas
gargantas as coplas, xácaras e romances cantados em ladino.” (Ariano Suassuna)
Tudo é sertão para quem é do Nordeste. Tudo é terra para quem não a tem. Forasteiros pisaram na
terra nordestina. Ao cantarem, suas músicas tinham como plateia os ouvidos mais absolutos: os
meninos descalços que corriam pela terra dura da lida. Reza a lenda sertaneja que “Criança, diante
de sua sabedoria, faz bem três coisas: Brincar, chorar e imitar”. De memória, o som da música dos
turcos-que-nem-sempre-são-turcos passou a ser repetida. Na transversal do tempo, o vulto branco
que a poeira ruiva envolvia transformou-se em palavra cantada. Virou história romanceada. Fez
nascer o Rei do Baião. O Baião é árabe, talvez por conta de o acordeon de Lua e Januário terem a
ver com o Maltuf de outrora. De “repente”, tudo vem do passado.
A influência árabe no Nordeste está presente em muita coisa: no chapéu do cangaceiro, nos leques
e guarda-sóis, na maquiagem das sobrancelhas e olhos, no ato de recitar a tabuada, na mantilha
das mulheres, no uso de tapetes, nas janelas quadriculadas e nos azulejos… do comércio do
mascate ao turbante branco muruçumim, inclusive no gibão que cobre um cabra…
Diante dos conflitos mouriscos na Península Ibérica, a expressão cultural de Portugal e Espanha
fundiram-se em poemas e romances de cavalaria, que encontrariam uma nova morada em terras
nordestinas, de “pedras” e “reinos” e castelos armoriais. Palavras cantadas por homens que, de lá e
de cá, conhecem o Sol e o deserto, as vértebras do camelo, as dunas que fazem as vezes de
florestas, as vitórias na guerra cavalhada onde uma cabeça de boi se finge de máscara…Os
“beduínos do Nordeste” são nômades que seguem firmes na luta. O verbo é a arma que eles usam
na disputa dos repentes.
Das feiras de Ocaz, cidade vizinha de Meca, ao canto do Guerreiro Menino de Orós. Anualmente,
milhões de islâmicos do mundo inteiro refazem os passos do profeta Maomé em sua “romaria”. Todo
muçulmano deve ir uma vez à meca da mesma forma como todo sertanejo deve visitar ao menos
uma vez na vida o santuário de Padre Cícero, a quarta figura da Santíssima Trindade.
Nesse contexto encantado, o tempo explica esta vitalidade garrida de um povo, que, de tão único,
parece lendário, armorial. Aqui, os muezins das mesquitas passaram a ter o som do aboiodos
vaqueiros. Os raqs viraram pandeiros, os tabals, zabumbas, e há quem diga que o atabaque
também tem sangue mourisco. Assim como a trilogia sertaneja – pífano, rabeca e viola – ainda
ressoa em solo nordestino a sua música num passado andaluz. Terra onde as morenas também
nascem esculpidas pelo vento. A brisa mourisca ainda respira nos pulmões o lingui-lingui – ou a
lenga-lenga – na gíria dos cantadores: De Taboca à Rancharia, de Salgueiro a Bodocó, graças a
Deus! (Ou seria Alhamdulillah? Arre!)
A barra do dia veio avermelhando o céu. A lâmpada maravilhosa, “Lampião” que alumia a estrada
revela que tudo é migração. Tudo é êxodo. Tudo é guardado na potência da memória e na força da
cultura. O barro seco do caminho que levou o árabe ao Nordeste parece ser o mesmoque leva o
nordestino ao Sul. E todos têm a cor da poeira vermelha que a Unidos de Padre Miguellevanta ao
desfilar. Nas terras ruivas da Rua Mesquita, tudo é Sertão, o boi é mouro e a vitória vem de Alá!
Carnavalescos: Edson Pereira e Wagner Gonçalves
Texto: Vítor Antunes
VOCABULÁRIO:
“A vitória vem de Alá!”: Trecho de um amuleto malê confiscado durante a Revolta dos Malês.
Alcácer/Alcáçar: Castelo ou fortaleza que, criado pelos mouros, era usado para hospedar reisou
governantes Alhamdulillah: Graças a Deus, em árabe
Arre!: Interjeição de espanto que, supostamente, tem origem árabe
Beduínos: Nômades do norte da África
Califa: sucessor do profeta Maomé. Guia ou líder temporal e espiritual da comunidade islâmica.
Mouro/Mourisco/Mouresco/Moura: Nome pelo qual os descendentes do norte da África costumavam
ser chamados na península ibérica
Muezins: Aquele que anuncia em voz alta, ao cantar, do alto dos minaretes das mesquitas, o
momento das cinco preces diárias.
Muruçumim: Atribuição que os negros muçulmanos davam a si próprios. Os outros os chamavam
malês. Os turbantes brancos usados nas religiões afro-brasileiras teriam origem nos filás
malê/muruçumim.
REFERÊNCIAS:
ASMAR, João. Os árabes no sertão. 1.ed. 2010. São Paulo: Kelps, 2010.
CÂMARA CASCUDO, L. da. Mouros, franceses e judeus: três presenças no Brasil. 3. ed. São Paulo:
Global,2001.
DEL CAMPO, Luis Soler. Origens Árabes no Folclore Brasileiro ed.
GAIÃO, Pedro. História Islâmica, 21 de Maio de 2021.
MUSSA, Alberto. Os Poemas Suspensos. 1.ed. Rio de Janeiro. Record. 2006.
RAMOS, Alex. PEREIRA, Estevão. DIAS, Rômulo. EL DROUBI, Assaf. Dos Mouros ao Baião: a
influência árabe na música do nordeste brasileiro.
SAMBA ENREDO: Baião de Mouros
Compositores: Chacal do Sax · Sidney Myngal · Alexandre Rivero · Luis Mussili · Roberto Dias ·
Rafael Faustino · Maykon Rodrigues · Rodrigo Moreira · Gabriel freire
Intérprete: Bruno Ribas
E lá vou eu
Na seca, no deserto, Sol ardente
Sanfona no compasso do repente
Simbora que hoje vamos prosear
Outra vez romancear
Lá vou eu
Na luz que alumia meu sertão
Rabeca encontra o som do acordeom
Sou eu vivendo um sonho das arábias
Vi camelo no agreste, sultão cabra da peste
São 1001 noites de histórias ao luar
Romance de cavalaria
Um cangaceiro de turbante e gibão
Que vai além da imaginação
Em devoção vou seguindo em romaria
Meu Juazeiro é o caminho da fé
Diz Maomé: Salamaleico!
Pedindo a bênção na Meca do meu padroeiro
O sal da terra é o deserto desse mar
Povo valente, alma de guerreiro
O beduíno segue os passos do vaqueiro
É o oásis que enfeitiça o nosso olhar
Vem ver o Sol do Saara invadindo o nordeste
O barro rachado no chão do agreste
Forró, xaxado, baião… Inshalá!
Tem pandeiro e camanjá, rastapé a noite inteira
De mãos dadas na avenida pra selar a união
E, na Mesquita de Padre Miguel, Mustafá e Lampião
Ê, Boi Vermelho! Chegou pra guerrear
Meu Boi Vermelho, a vitória vem de Alá!
A nossa escola não deve nada a ninguém
Respeita o povo da Vila Vintém!
Composição: Chacal do Sax · Sidney Myngal · Alexandre Rivero · Luis Mussili · Roberto Dias ·
Rafael Faustino · Maykon Rodrigues · Rodrigo Moreira · Gabriel freire
FICHA TÉCNICA
Presidente: Lenilson Leal ou Renato Maroto (?)
Presidente de honra: Regina Celi
Direção de Carnaval: Cícero Costa e Nana Costa
Direção de Harmonia: Alessandro Cobra
Carnavalescos: Edson Pereira e Wagner Gonçalves
Intérpretes: Bruno Ribas
1º Casal de Mestre-sala e Porta-bandeira: Vinícius Antunes e Jéssica Ferreira
Mestre de Bateria: Dinho
Comissão de Frente: David Lima
Rainha de Bateria: Thalita Zampirolli
ENREDO: Baião de Mouros