Tuiuti supera trauma e mostra força de superação com bom desfile
Por Gilvan Lopes e Anderson Lopes
Fotos Mariana Barcellos, Marcelo Faria e Adriano Monteiro
Produção Adriano Monteiro
Suporte remoto: Julia Fernandes e Jack Costa
TUIUTI SUPERA TRAUMA E MOSTRA FORÇA DE SUPERAÇÃO COM BOM DESFILE
Com um dos melhores sambas do ano como referência, e usando a superação do incidente do último carnaval, onde uma Alegoria da escola envolveu-se num terrível acidente, como catalisador para levantar a moral dos seus segmentos para o desfile, a agremiação veio com muita força.
O intérprete Nino do Milênio conversou com o Portal Sambrasil: “Já seria uma honra pra mim cantar nessa escola, que tão bem me recebeu, e proporciona as melhores condições para que eu desenvolva meu trabalho; quanto mais com esse samba maravilhoso que foi escolhido para ser nosso hino na avenida, eu e todos do meu carro de som vamos ter nosso trabalho facilitado pois estamos com uma grande obra nas mãos, vamos emocionar a avenida com certeza.”.
Muito bom ver que a GRES Paraíso do Tuiuti seguiu em frente e cresceu com as adversidades, é um exemplo de superação de traumas a ser seguido.
SINOPSE
Enredo: Meu Deus, Meu Deus, Está Extinta a Escravidão?
Velha companheira de caminhada da Humanidade. A ideia de superioridade, divina ou bélica, cobriu-a com o manto do poder. Pela força ergueu impérios e sustentou civilizações. Pela alienação justificou injustiças e legitimou a discriminação. Ganhou nome quando eslavos viraram ‘escravos’ nas mãos dos bizantinos. Dominou mundo afora, invadiu terras adentro, expandiu a ganância mercantilista e fez da exploração do continente negro seu maior mercado. Viu senhores mouros do norte africano ostentarem servos de pele alva e olhos azuis mediterrâneos, enquanto negociavam artigos de luxo e peças de ébano. Cativou povos, devastou territórios, extraiu riquezas do solo e de animais em nome de coroas europeias. Era rentável negócio até para chefes negros que a alimentavam com gente de sua gente. Levou uma raça a oferecer-lhe da própria carne. Separou famílias, subjugou reis, aprisionou guerreiros, reduziu seres humanos a mercadorias. Calunga Grande muito ouviu os lamúrios dos Tumbeiros abarrotados em sua ordem. Calunga Pequena muito acolheu os vencidos pela sua sentença. Plantou seus filhos em nossos canaviais, cafezais e minas de ouro e diamantes. Lavou com sangue negro o chão das senzalas e os pés-de-moleque das cidades. Foi senhora de todos os senhores, mãe das sinhás, amante dos feitores. Marcou com ferro os que ousavam lhe renegar, levantar a cabeça. Perseguiu os de alma indomável que corriam ao encontro do sonho quilombola. Quimeras da liberdade de uma raça pirraça fortificadas entre serras e matas que teimavam lhe enfrentar. Porém, as eras de prática envenenaram até as mais legítimas das lutas quando expuseram suas raízes humanas nos quilombos. Provocou precisa e astuta fusão entre crenças apadrinhadas pela fé, amparo do rosário das desventuras nesse benedito logradouro. Coroou santos reis e sagradas rainhas ao som de louvores batucados. Fitas da linha do tempo presente e passado. Espelhos da ancestralidade. Ouviu os ventos soprados de longe que ressoaram brados iluminados de liberdade pelas paragens brasileiras. Abolir-te foi palavra de ordem. Utopia e justiça para uns. Falência e loucura para outros. Caminho sem volta para muitos. “O homem de cor” ganhou voz pelas ruas, força nos punhos da população, para além das leis parcialmente libertadoras. Contudo, mesmo enfraquecida, sobrevivia sob a égide dos grandes latifundiários e nas vistas grossas da hipocrisia. Ferida com a ponta afiada da pena de ouro que a áurea princesa empunhou ao assinar sua redentora extinção, maquinada por uma sedenta revolução industrial de sotaque inglês, caiu. Uma voz na varanda do Passo ecoou: – Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão! Folguedos, bailes, discursos inflamados e fogos de artifício mergulharam o povo em dias de êxtase e glória. Pão e circo para aclamação de uma bondade cruel, pois não houve um preparo para a libertação e ela não trouxera cidadania, integração e igualdade de direitos. Mais viva do que nunca, os aprisionou com os grilhões do cativeiro social. Ainda é possível ouvir o estalar de seu açoite pelos campos e metrópoles. Consumimos seus produtos. Negligenciamos sua existência. Não atualizamos sua imagem e, assim, preservamos nossas consciências limpas sobre as marcas que deixou tempos atrás. Segue vivendo espreitada no antigo pensamento de “nós” e “eles” e não nos permite enxergar que estamos todos no mesmo barco, no mesmo temeroso Tumbeiro, modernizando carteiras de trabalho em reformadas cartas de alforria.
Carnavalesco: Jack Vasconcelos.
Fotos por Marcelo Faria
Fotos por Adriano Monteiro
Enredo: Meu Deus, Meu Deus, está extinta a escravidão?
Compositores: Cláudio Russo, Moacyr Luz, Jurandir, Zezé e Aníbal
LETRA
Irmão de olho claro ou da Guiné
Qual será o seu valor? Pobre artigo de mercado
Senhor, eu não tenho a sua fé e nem tenho a sua cor
Tenho sangue avermelhado
O mesmo que escorre da ferida
Mostra que a vida se lamenta por nós dois
Mas falta em seu peito um coração
Ao me dar a escravidão e um prato de feijão com arroz
Eu fui mandiga, cambinda, haussá
Fui um Rei Egbá preso na corrente
Sofri nos braços de um capataz
Morri nos canaviais onde se plantava gente
Ê Calunga, ê! Ê Calunga!
Preto velho me contou, preto velho me contou
Onde mora a senhora liberdade
Não tem ferro nem feitor
Amparo do Rosário ao negro benedito
Um grito feito pele do tambor
Deu no noticiário, com lágrimas escrito
Um rito, uma luta, um homem de cor…
E assim quando a lei foi assinada
Uma lua atordoada assistiu fogos no céu
Áurea feito o ouro da bandeira
Fui rezar na cachoeira contra bondade cruel
Meu Deus! Meu Deus!
Seu eu chorar não leve a mal
Pela luz do candeeiro
Liberte o cativeiro social
Não sou escravo de nenhum senhor
Meu Paraíso é meu bastião
Meu Tuiuti o quilombo da favela
É sentinela da libertação
FICHA TÉCNICA
Fundação 05/04/1952
Cores Amarelo ouro e azul pavão
Presidente de Honra Renato Thor
Presidente Jorge Honorato
Quadra Campo de São Cristóvão, 33 – São Cristóvão – Rio de Janeiro – RJ CEP 20921-440
Telefone Quadra
Barracão Cidade do Samba (Barracão nº 03) – Rua Rivadávia Correa, nº 60 – Gamboa – CEP: 20.220-290
Telefone Barracão
Enredo 2018 “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”
Diretor de Carnaval: Leandro Azevedo
Carnavalesco: Jack Vasconcelos
Intérprete: Nino do Milênio
Mestre de Bateria: Ricardinho
Rainha de Bateria: Carol Marins
Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Marlon Flores e Danielle Nascimento
Comissão de Frente: Patrick Carvalho