03 A – GRES Mocidade Independente de Padre Miguel
Por Marcelo Faria e Equipe Sambrasil Rio
Reportagens: Sirlene Oliveira, Ricardo Netto, Gilvan Lopes, Roberta Campos, Lizia Nascimento, Fernanda Gaspar e Rafael Rios
Imagens: Julia Fernandes, Sirlene Oliveira, Fernanda Gaspar e Lizia Nascimento
Fotografias: Arlene Melo, Marcelo Faria, Lizia Nascimento, Fernanda Gaspar e Marcelo S. Faria
Suporte técnico: Jack Costa e Jaime Jotta Jr.
Videomaker: Jaime Jotta Jr. e Raphael Rios
Produção: Lízia Nascimento e Fernanda Gaspar
Redes Sociais: Jack Costa, Lízia Nascimento, Julia Fernandes e Sirlene Oliveira
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A verde e branco da Zona Oeste, abordará na Sapucaí o legado dos artistas do Alto do Moura,
discípulos de Mestre Vitalino, pertencentes ao maior Centro de Artes Figurativas das Américas. Alto
do Moura é um bairro de Caruaru que fica a 7 km do centro da cidade. Lá, começou a saga dos
artesãos de da cidade, que é repleta de ateliês de arte figurativa. O enredo é desenvolvido pelo
carnavalesco Marcus Ferreira.
ENREDO: Terra de meu céu, estrelas de meu chão
Sinopse do Enredo
Estas são as origens da Terra de meu Céu:
Deus, nosso Pai, foi o princípio. Firmou sua Criatura ao pó de argila. Soprou sobre Ela o fôlego da
vida – a imagem e semelhança sublime do Criador. Plantou um jardim no Agreste e pôs ali os
homens que tinha moldado. Fez brotar da terra vergéis repletos de mandacarus e xiquexiques – a
força de Sua criação. Riscou no Barreto as primeiras margens do Rio Ipojuca, a fim de regar a vida
das aves e dos animais do Campo. Pôs os astros no celeste firmamento, tomou o homem e o pôs
para o lavrar e o guardar. Mas não foram as mãos de Deus; foram as de meu pai, Mestre de todos
os discípulos deste vilarejo: Vitalino Pereira dos Santos do Alto do Moura – O Deus do Barro (Ref.
Música, Petrúcio Amorim, Caruaru-PE).
Jericos galopam pela manhã repletos de saquinhos de massapés, a matéria-prima do nosso Senhor.
Galhas de mamoeiros enfeitam as calçadas do povoado. O tauá descansa ao eterno, refém da
inspiração divina. Fornalhas incessantes, tal qual o cardeá da luta matuta. Resiste o estuque,
paredes guardam o âmbito majestoso do barro. Aporta a saudade e, nas capelinhas, o testemunho
de Padim Ciço, à memória de Deus-Pai. Valei-me, pelo sempre! Peço-lhe que interceda por mais um
dia de criação (Cenas revogadas pelo Livro Arte do barro e olhar da arte, por Pierre Verger – 1947).
Tabuinhas se preenchem da vida lá de fora. Sacadas narram a rota da roça. Imagine moldar a
imagem da Criatura sem seu fiel escudeiro? Os boizinhos de tantas pelejas pelo sacolejar das
loiçarias e alambiques, acompanhantes da luta destes meus irmãos. Irmãos que resistem à labuta
de terras distantes e exalam o cheiro verde vindo dos canaviais – afã promovido pela branquinha, a
companheira deste ofício. Feiras são salpicadas pelo colorido das frutas agrestinas. Animais fazem
algazarra nas cestarias das quitandeiras. Milharais congregam pela quebra. Mãos afagam o
algodão. Casas farinham um aferrado trabalho matriarcal. Prados de girassóis se voltam às cenas
deste meu Alto – visões que inspiram gredas e amenizam o suor da lida.
Histórias modeladas no escapismo e cerimoniadas pelo Bispo Mané-Pãozeiro. Caçadores viram
peões na busca por gatos-maracajás; lançam tarrafas aos doces riachos. Águas de reis e rainhas do
Cangaço – seres híbridos mimetizados pela lenda das sereias. Cavalgam caracóis enamorados
pelos rochedos que os margeiam. Torres observam o universo mítico de asnos armoriais. Monstros
gráficos não espantam a sorte dos arvoredos. Quimeras lendárias reinventam a arte; peças
configuram a vida como um grande jogo de xadrez no meio do meu Sertão.
Portinhas dos casarios são pertencidas à imagem dos três santos juninos. Santidades cúmplices do
ciclo da vida apadrinham as fases vividas pelo sertanejo. Nascimentos guiados pela estrela-guia e
amparados por presépios encantados. Procissões erguem santinhas vestidas de chitas que
abençoam, com juras de amor, o atravessar da cidade. Preces de novenas espantam a agrura de
toda tentação do deserto. Altares protegidos por faces angelicais das divindades. Mãos recriam
imagens protetoras do barro-sacro de cada dia.
Brincantes figuram o Auto deste meu Mundaréu: cânticos entoados pelo repente dos Bacamarteiros;
destino mambembe riscado pelas espadas dos Capitães do Reisado; flechas de caboclos erguem-se
aos Jaraguás do Cavalo-Marinho; realeza segue ao passo dos Vassalos do Maracatu-Rural;
Bandinhas de Pífanos bumbam fitas e flores para um Boi-Teimoso; Papangus reverenciam nossos
astros; Mazurcas giram saias rodadas, como os sonhos que embalam um carrossel em verde e
branco.
E em tudo que sonhar, olhe para o Alto!¹
Estas são as origens das Estrelas de meu Chão.
Severino Pereira dos Santos Vitalino, discípulo do Deus do Barro.
P.S.: Este é o inventário do país que queremos ser – surgido de uma prosa particular em um dia
com o filho do Deus Vitalino. E de outros proseares com os discípulos dos Mestres Zé Caboclo,
Manuel Eudócio, Manoel Galdino e Luiz Antônio. Legado figurado das grandes estrelas do Alto do
Moura e que servem de sublime inspiração aos repentistas de Padre Miguel!
Autoria, Enredo, Pesquisa e Texto: Marcus Ferreira, Carnavalesco. Agosto de 2022
Agradecimentos Especiais: Ângela Mascelani e Lucas Van de Beuque Curadoria Museu Casa do
Pontal. Emanuella Vitalino e família. Serginho Brayner – a enciclopédia Caruaruense. Mestra
Therezinha Gonzaga – Cidadã Patrimônio Vivo de Caruaru.
Revisão Textual: Henrique Pessoa.
Nota: ¹Frase da Mestra das Estrelas, Therezinha Gonzaga.
Vocabulário Matuto do Agreste:
Agrestina – Que vem do Agreste Pernambucano;
Barreto – Lugar de barro abundante;
Bacamarteiros – Grupo folclórico de repentistas;
Boi-Teimoso – Mesmo que boi-bumbá; Tira-Teima;
Cardeá – Queima nas fornalhas;
Galhas – Ramalhetes dos arvoredos;
Jericos – Mulinhas, jegues, cavalinhos de vida simples;
Jaraguás – Brincantes dos folguedos do Cavalo-Marinho;
Loiçarias – Utilitários domésticos de barro;
Mané-Pãozeiro – Figura popular do Alto do Moura – principal personagem da obra de Mestre
Galdino;
Marmeleiro – Ou Marmeleiro-do-Mato, árvore do Agreste utilizada para a queima nas fornalhas;
Prados – Ou Campos;
Tauá – Tom alaranjado da cerâmica;
Tabuinhas – Prateleira de madeira que apoia a arte figurativa para apreciação;
Vergéis – Mesmo que pomares.
SAMBA ENREDO: “Terra de meu Céu, Estrelas de meu Chão”
Compositores: Diego Nicolau, Richard Valença, Orlando Ambrosio, Gigi da Estiva, W Correa,
Leandro Budegas e Cabeça do Ajax
Intérprete: Nino do Milênio
SENHOR, QUE FEZ DA ARTE MUNDARÉU
EM SUAS MÃOS PADRE MIGUEL
CONCEBEU A CRIAÇÃO
“PLANTOU” SUA MISSÃO
FEZ DO SERTÃO, BARRO TAUÁ
JARDIM NO AGRESTE FLORESCEU
REGADO AO FIRMAMENTO DE MEU DEUS
A LIDA PRA VIVER, DA LAMA RENASCER
MARIAS E JOSÉS NO CÉU QUE MORAM PÉS, RAIZ!
FIEL RETRATO DESSE MEU PAÍS
SEGUE O CARRO DE BOI
O PEÃO NO BARREIRO
Ó RAINHA BONITA
SOU TEU REI, CANGACEIRO
É A VIDA UM XADREZ
PRA HONRAR O LEGADO
QUEM FOI QUE FEZ? FOI DEUS DO BARRO
MOLHA PEDRO MINHA TERRA
CHÃO DE ESTRELAS DE JOÃO
TRAZ ANTÔNIO MINHA AMADA
PADIM CÍCERO ROMÃO
ALUMIA O TEU POVO EM PROCISSÃO
CHEGA FOLIA, CHEGA CAVALO MARINHO
LINDAS FLORES NO CAMINHO
O NORDESTE COLORIU
E “DE REPENTE” ESSA GENTE INDEPENDENTE
FAZ DA GREDA SEU BATENTE
MOLDA UM POUCO DE BRASIL
AMASSA, DEIXA ARDER O MASSAPÉ
LÁ NO MEU ALTO DO MOURA
UM PEDACINHO DE FÉ
A MASSA, FORÇA DE MANDACARU
LÁ NO MEU ALTO DO MOURA
FIZ BRILHAR CARUARU
Ê, MEU CARDEÁ
SOU A CHAMA DO BRASEIRO
NORDESTINO, “RETIRANTE DA SAUDADE”
MAIS UM FILHO DESSE SOLO PIONEIRO
UM ARTISTA ESCULPINDO A MOCIDADE
FICHA TÉCNICA: GRES Mocidade Independente de Padre Miguel
Fundação 10/11/1955
Cores Verde e Branco
Presidente Flávio da Silva Santos
Quadra Av. Brasil, 31.146 – Realengo – Rio de Janeiro, RJ – CEP 21725-001
Telefone Quadra (21) 3332-5823
Barracão Cidade do Samba (Barracão nº 10) – Rua Rivadávia Correa, nº 60 – Gamboa – CEP:
20.220-290
Telefone Barracão (21) 2516-3215 e (21) 2203 1207
Site www.mocidadeindependente.com.br
E-mail canalmocidade@gmail.com
marinodiretordecarnaval@gmail.com
Imprensa Rodrigo Coutinho
e-mail: rodrigocoutinho86@yahoo.com.br
Tel: (21) 99848-2600
Enredo 2023 "Terra de meu céu, estrela de meu chão"
Carnavalesco Marcus Ferreira
Diretor de Carnaval Marquinho Marino
Intérprete Nino do Milênio
Mestre de Bateria Dudu
Rainha de Bateria Giovana Angélica
Mestre-Sala e Porta-Bandeira Diogo Jesus e Bruna Santos
Comissão de Frente Paulo Pinna