02- Unidos do Viradouro é a segunda escola a desfilar na Sapucaí
Por Redação
Reportagem: Gilvan Lopes, Heitor Olímpio, Jorge Bezerra, Gil Bezerra, Lú Rufino, Rafael Rios, Roberta Campos e Sirlene Oliveira
Fotos por Jorge Bezerra e Mariana Barcellos
Imagens: Marcelo Faria
Produção: Julia Fernandes
Suporte Remoto: Jack Costa
Editor: Julia Fernandes e Gilvan Lopes
Diretor de Jornalismo: Marcelo Faria
A agremiação de Niterói tenta manter o mesmo nível do desfile de 2019, quando ela obteve o vice-campeonato, para isso traz para a Avenida o enredo: “Viradouro de Alma Lavada”, desenvolvido pela dupla de carnavalescos Marcus Ferreira e Tarcísio Zanon.
O Portal Sambrasil em conversa com Alex Neoral, que faz dupla com Marcio Jahú, coreográfos da comissão de frente da Unidos do Viradouro, ele nos afirma:
“A dança conta uma história de superação da mulher nesse momento em que ela ocupa seu espaço em todos âmbitos da sociedade. O destaque principal são para as 15 mulheres que simbolizam as Ganhadeiras de Itapoã. A escola tem uma estrutura que possibilita o trabalho de qualquer profissional. Teremos um desfile emocionante que mais uma vez entrará na história de grande carnavais”.
As Ganhadeiras escravizadas, simbolizam e concretizam na aurora do dia, o reflexo do ouro nas águas escuras da Lagoa, águas circundadas por dunas de finas areias brancas. No alvo véu da noiva, a comunhão das lavadeiras que ouvem cânticos lendários que vêm à tona das profundezas. À sombra do angelim, as sacerdotisas do sol ensaiam cantorias adocicadas por cachundés e guajirús. Varais de resistência cruzam as restingas no quarar das impurezas de seus senhores.
Samba Enredo: “Viradouro de Alma Lavada”
Autores: Cláudio Russo, Paulo César Feital, Diego Nicolau, Júlio Alves, Dadinho, Rildo Seixas, Manolo,
Anderson Lemos e Carlinhos Fionda
Intérprete: Zé Paulo Sierra
Levanta, preta, que o sol tá na janela
Leva a gamela pro xaréu do pescador
A alforria se conquista com o ganho
E o balaio é do tamanho do suor do seu amor
Mãinha, esses velhos areais
Onde nossas ancestrais acordavam as manhãs pra luta
Sentem cheiro de angelim
E a doçura do quindim
Da bica de Itapuã
Camará ganhou a cidade
O erê herdou liberdade
Canto das Marias, Baixa do Dendê
Chama a freguesia pro batuquejê
São elas, dos Anjos e das Marés
Crioulas do balangandã, ô, Iaiá
Ciranda de roda, na beira do mar
Ganhadeira que benze, vai pro terreiro sambar
Nas escadas da fé:
É a voz da mulher!
Xangô ilumina a caminhada
A falange está formada, um coral cheio de amor
Kaô, o axé vem da Bahia
Nessa negra cantoria
Que Maria ensinou
Ó, mãe! Ensaboa, mãe!
Ensaboa pra depois quarar
Ora yê yê ô, Oxum! Seu dourado tem axé
Faz o seu quilombo no Abaeté
Quem lava a alma dessa gente veste ouro
É Viradouro! É Viradouro!
Sinopse do Enredo:“Viradouro de Alma Lavada”
Sou Maria… De paixão vermelha, céu de nuvens brancas dos santos anjos… De Xindó, a alma cafuza, do pai pescador e mãe lavadeira. Alma que se une às escravas, caboclas e crioulas numa rede de sentimentos que emanam o mesmo ideal: a luta pela alforria do povo negro. Trago a memória ancestral de outras Marias da minha pequena Itapuã. A Itapuã do mar aberto, leito para a mística doçura do Abaeté.
A aurora do dia reflete o ouro nas águas escuras da Lagoa, águas circundadas por dunas de finas areias brancas. No alvo véu da noiva, a comunhão das lavadeiras que ouvem cânticos lendários que vêm à tona das profundezas. À sombra do angelim, as sacerdotisas do sol ensaiam cantorias adocicadas por cachundés e guajirús. Varais de resistência cruzam as restingas no quarar das impurezas de seus senhores.
No mar, a simplicidade no ganho de outras heroínas. Jangadas e saveirinhos repletos de feitorias por sereia-rainha que oferta o quinhão (xaréu, robalo, guaricema e peixe-galo). O marear das ondas preludia o balé das redes ao compasso feminino das puxadas. Cantos bravios que amenizam o peso de contínuos caminhos traçados. Areais testemunhos de grandes lições de vida que, caladas, alcançaram o pecúlio familiar.
Terreiros da Baixa do Dendê revelam o preparo do ganho. Nas malhadas, a secura dos pescados, a colheita do plantio, o preparo do quitute e o manejo das artesãs. A Bica de Itapuã foi o principal ponto de encontro do Bando das Ganhadeiras. Ópera negra do mercadejo: dos banhos sem pudor, dos negros camarás e da comunhão das escravas em torno da compra de suas alforrias.
“E que toda Maria passe na frente!”.
E lá vai Maria… E lá vão as Marias… De saias florais, blusas de crivo, colares de contas e erês nos panos de dorso. Apoiadas em torsos, segue a procissão de balaios, bandejas e gamelas em ritual de longas trajetórias. Maré baixa que revela no litoral margeante milhares de passos a caminho de São Salvador – o porto das freguesias. Aguadeiras refrescam a sede dos becos perfumados de dendê. Largos ganham o colorido das barracas mercantes de frutas. Vento que orquestra a sinfonia dos balangandãs das caixoteiras. Fogaréus acesos e vozes regadas a goles de cachaça no fuá da estridente marcação.
À beira-mar, um farol vermelho e branco de luz poente ilumina o livre caminhar. De pés cansados, agora calçados. Punhos cerrados, enfeitados com joias de crioula. Mulheres que não se curvaram e hoje cantam a sua liberdade. Saias de roda para sambar; samba de areia para cirandar. Nas cheganças, a negra dança ao som malê. Atabaques que unem Orun – Ayê. Pedra que ronca ao vento que balança. Mergulho profundo de peito aberto no samba de mar aberto.
Águas que purificam a lavagem das escadarias de Nossa Senhora da Conceição – nossa devoção! Mãe da Mãe que desata todos os nós. Fé que emana romarias ao mar: escadarias, pétalas em flor e o cheiro da aroeira. Irmandades remontam a festejos passados na Festa da Baleia. O sagrado abraça a matriz sob o véu que descortina a igualdade.
“Toda mulher brasileira em sua essência é ganhadeira!”.
O Brasil de hoje revela a voz de outras mulheres que, em consonância, ritmam o trabalho e o sustento de suas vidas. Elas são de verdade! Sou um pouco de mim, em uma falange de nós. Pertenço à quinta geração das ganhadeiras históricas que remetem à saga de nossas avós, de nossas mães e de outras Marias que contribuíram para a fortificação do povo brasileiro. Histórias que se cruzam à beira da Baía e refletem no espelho d’água o futuro, sem se esquecer da luta de um passado recente. De mãos dadas, ganzás embalam chocalhos, atabaques versam caixas, pandeiros cadenciam o choro das cuícas. Lágrimas que se revigoram no sagrado altar do samba sob as bênçãos de Xangô e São João Batista – protetores da minha Viradouro. Viradouro que, de alma lavada, abraça as Ganhadeiras de Itapuã, espelho da mulher brasileira.
Donas do meu carnaval!
Maria da Paixão dos Santos Anjos ou Maria de Xindó.
(Lavadeira e uma das matriarcas do grupo musical as Ganhadeiras de Itapuã. Viradourense de coração, nascida em 1946 – Ano de fundação da Unidos do Viradouro.)
Carnavalescos: Marcus Ferreira e Tarcísio Zanon
Pesquisa, Desenvolvimento e Texto: Marcus Ferreira, Tarcísio Zanon e Igor Ricardo
Revisão Textual: Henrique Pessoa
FICHA TÉCNICA
Fundação 24/06/1946
Cores Vermelha e Branca
Presidente Marcelo Calil Petrus Filho
Presidente de Honra José Carlos Monassa (in memoriam)
Quadra Av. do Contorno, 16, Barreto, Niteroi CEP: 24110-205
Telefone Quadra (21) 2628-5744
Barracão Cidade do Samba (Barracão nº 01) – Rua Rivadávia Correa, nº 60 – Gamboa CEP: 20.220-290
Telefone Barracão
Internet www.unidosdoviradouro.com.br
E-Mail presidencia@unidosdoviradouro.com.br
Imprensa Simone Fernandes
Tel.: (21) 98601-2922
Enredo 2020 “Viradouro de Alma Lavada”
Direção de Carnaval Alex Fab e Dudu Falcão
Carnavalesco Marcus Ferreira e Tarcísio Zanon
Intérprete Zé Paulo Sierra
Mestre de Bateria Ciça
Rainha de Bateria Raissa Machado
Mestre-Sala e Porta-Bandeira Julinho e Rute
Comissão de Frente Alex Neoral