02 B – GRES Unidos da Ponte
Por Marcelo Faria e Equipe Sambrasil Rio
Reportagens: Sirlene Oliveira, Ricardo Netto, Gilvan Lopes, Roberta Campos, Lizia Nascimento, Fernanda Gaspar e Rafael Rios
Imagens: Julia Fernandes, Sirlene Oliveira, Fernanda Gaspar e Lizia Nascimento
Fotografias: Arlene Melo, Marcelo Faria, Lizia Nascimento, Fernanda Gaspar e Marcelo S. Faria
Suporte técnico: Jack Costa e Jaime Jotta Jr.
Videomaker: Jaime Jotta Jr. e Raphael Rios
Produção: Lízia Nascimento e Fernanda Gaspar
Redes Sociais: Jack Costa, Lízia Nascimento, Julia Fernandes e Sirlene Oliveira
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A agremiação azul e branco da Baixada Fluminense abordará a saga contra o racismo religioso de
uma das mais importantes yalorixás do Brasil: Mãe Meninazinha de Oxum.
O enredo celebra também a ligação da mãe de santo com a cidade de São João do Meriti, sede da
agremiação.
ENREDO: Liberte Nosso Sagrado: O Legado Ancestral de Mãe Meninazinha de Oxum
Sinopse do Enredo
Nossos caminhos se cruzaram em solos de São João de Meriti.
Nesse encontro desenhado pelo rei senhor da terra, Omolú, pedimos sua benção e proteção Mãe,
para que nosso Carnaval de 2023 eleve o poder da voz doce da brandura e do respeito.
Que esse lembrar da escuridão traga cura aos corações perdidos, para que assim tudo se erga num
brilho de libertação.
ANTES DO NASCIMENTO DE MÃE MENINAZINHA, O ORIXÁ DE SANTO DE SUA AVÓ, OMOLÚ,
FEZ UM COMUNICADO AO POVO DE AXÉ:
“AQUELA MENINA, FILHA DE OXUM,
SERÁ A HERDEIRA E LIDER ESPIRITUAL DO TERREIRO”.
“Esse é o grande pai Omolú, foi por ele que estou aqui. Dizem que ele é o Deus da doença. Omolú,
para mim, é o Deus da saúde. Ele é o nosso médico. Quando você está doente a gente recorre a
ele. Ele é o Deus da saúde”.
A doença não é só do corpo, é também do coração.
No coração do homem triste sempre fez morada o desejo de prejudicar e oprimir as minorias.
Ainda faz.
Ainda tem muita tristeza no coração dos homens.
“Desde a década de 20 que nós somos perseguidos, que nossas casas são invadidas, que nossos
sagrados são quebrados, que nossos babalorixás ancestrais foram agredidos fisicamente e expulsos
de suas casas pela polícia”.
“Naquela época, a polícia invadia os terreiros, quebrava tudo, pegava o que era de Orixá e levava
aquilo que era nosso, no maior desrespeito. Hoje, são grupos de fanáticos que invadem os terreiros
e também quebram tudo. Nós estamos sofrendo o que nossos ancestrais sofreram. Gente, isso dói
dentro da gente, isso dói”.
E de repente se fez escuro.
Silenciaram o atabaque.
Invadiram o terreiro.
Arrancaram o fio de contas.
Quebraram a imagem do Orixá.
Levaram a cabaça, o ajerê, o ados, o abará e o ekó.
Queimaram saia, alaká, Iketê, ojá, zinguê e tudo.
Prenderam o sagrado de Axé.
Chegou a escuridão. Se fez o pranto.
A polícia bateu, prendeu e fichou: “praticante de magia negra”.
A lei para o povo preto fere até tirar o sangue.
Na diáspora local, higienizaram o centro da cidade do Rio de Janeiro.
Todo povo de axé foi afastado para o que chamavam de distante.
Então, na boca da mata, reuniram-se os filhos do choro.
Fez-se o vento e a chuva.
O anúncio no Orum de Yá Davina apontava estrelas para um novo tempo de axé:
LEVANTE OS OLHOS E VEJA A COROA DE OXUM
LEVANTE OS OLHOS E VEJA A COROA DE OXUM
LEVANTE OS OLHOS E VEJA A COROA DE OXUM
Ali na beira e nas margens verdejantes se fez o sol. O brilho chegou.
“Nós estamos aqui para lutar. Nós nos chamamos resistência, nós resistimos até agora e vamos
continuar resistindo. Resistir, conforme nós estamos resistindo, vem através da união, independente
de nação. É Ketu, é Jeje, é Angola, é Umbanda, todos nós juntos, vamos resistir. E nós vamos
continuar. Enquanto vida eu tiver, eu vou continuar nessa minha fala e nessa minha luta. Enquanto
eu viver vou lutar por essa religião. Eu por ela não mato, mas eu morro”.
“Para eles acabarem com a religião eles teriam que acabar com a natureza”.
“Os orixás são elementos da natureza. Não se chega no mato para tirar uma folha e vai embora. A
gente conversa com as folhas, com os matos, a gente conversa com a a água, a gente conversa
com a terra que pertence a Omolú. A gente conversa com a natureza. No quintal, a gente olha pra
cima, olha pra baixo e a gente conversa e agradece, principalmente”.
Firmando o Ponto como Ponte de amor, todos eram filhos de um terreiro de chão batido.
Eram crias de Maria!
Iyá Maria do Nascimento Mãe Meninazinha d’Oxum.
Filha das águas.
Senhora da palha.
Herdeira do assentamento de Omolú: Num balaio de Salvador à Meriti.
Mãe da nação Ketu!
Mãe da nação meritiense!
Mãe da nação Ketu!
Mãe da nação meritiense!
TODO AQUELE QUE INICIA NO CANDOMBLÉ RENASCERÁ PARA UMA NOVA VIDA.
“O candomblé é muito matriarcal. A presença da mulher é importantíssima, como mãe, como filha e
como acolhedora. A mulher representa tudo isso”.
Chegou um novo tempo de amor, luz e sabedoria:
LEVANTE OS OLHOS E VEJA A COROA DE OXUM
LEVANTE OS OLHOS E VEJA A COROA DE OXUM
LEVANTE OS OLHOS E VEJA A COROA DE OXUM
“Mãe, nós estamos aqui admirando a sua coroa. Orixá é maravilhoso. Orixá só nos traz coisas boas.
Eu sou feliz por ser de Orixá. Eu não poderia ser de outra religião, eu tinha que ser de Orixá”.
EU VI A ESCURIDÃO, MAS TAMBÉM EU VI A CURA.
A ESCURIDÃO PRENDE. FERE. ROUBA.
A CURA PERDOA. DEVOLVE. RENASCE.
NÃO PRENDAM MAIS NOSSO SAGRADO.
NÃO INVADAM MAIS NOSSOS TERREIROS.
LIBERTEM SEUS CORAÇÕES DA DOR.
CANDOMBLÉ É ORIXÁ, É NATUREZA E AMOR.
NOSSO SAGRADO SÃO PEÇAS SAGRADAS DE NOSSOS ANCESTRAIS.
INVADIR O NOSSO SAGRADO,
A PARTE MAIS ÍNTIMA DE NOSSA VIDA,
É UMA DAS PIORES DORES.
QUANDO NOSSO SAGRADO ESTÁ PRESO,
NÓS TAMBÉM ESTAMOS PRESOS.
Eu vi a Coroa de Oxum porque o amor venceu.
Se firmou o Ponto como Ponte de amor.
Somos filhos da Mãe Meninazinha.
Mãe da nação Ketu
Mãe da nação Meritiense.
Carnavalescos: Rodrigo Marques e Guilherme Diniz
Texto: Tiago Freitas
SAMBA ENREDO: "Liberte nosso sagrado: o legado ancestral de Mãe Meninazinha de Oxum"
Compositores: Júnior Fionda, Tião Pinheiro, Tem-tem Jr, Marcelo Adnet, Léo Freire, Marcelinho
Santos, Carlos Kind, Bruno Castro e Vitor Hugo
Intérprete
Kleber Simpatia
Olorum chamou herdeira no aiyê!
No firmamento, velho Omolu
Era a cura pra salvar ilê…
O recomeço Mojubá Exu,
Ventre encantado fez Iyá Maria
Vovó Davina apontou o céu.
Oraieiê do ouro a luz divina
Se fez doçura pra abrandar o fel.
Era tempo de diáspora do povo preto!
Era sangue e degredo meu sagrado em punição…
O tambor que, cultuado, insistiu em resistir:
Fundamento assentado em São João de Meriti!
“Disse a farda ser a Lei…" Vilipendiou!
Foi Xangô, meu rei, contra o opressor!
No chão batido, um ponto de xirê…
Pequenas Áfricas de Oxalá
Renovam vida por Oxumaré,
E purificam pelas águas de Iemanjá!
Ogum se junta a Logun Edé,
Intensificam luta de Iansã,
Vencer demanda é dom de mulher,
A luz de Obá e o saber de Nanã.
Onde dançam orixás, o preceito é ancestral.
Cada um com sua crença nesse meu Brasil plural!
Que Oxóssi atire a flecha e atinja os corações…
Pra que haja mais respeito entre as religiões.
Eu vi a coroa d’Oxum, ô Meninazinha…
Unidos feito ponte – o amor e o axé.
Som de Ketu é atabaque, Yalorixá Rainha!
Deixa em paz meu terreiro de Candomblé!
FICHA TÉCNICA:
Presidente: Rosemberg Azevedo
Vice-presidente: Burunga e Tião Pinheiro
Direção de Carnaval: Mauro Tito , João e Sidinho
Direção de Harmonia: Tikinho
Carnavalescos: Guilherme Diniz e Rodrigo Martins
Intérpretes: Kleber Simpatia
1º Casal de Mestre-sala e Porta-bandeira: Emanuel Lime e Thainara Mathias
Mestre de Bateria: Branco Ribeiro
Comissão de Frente: Alessandra Oliveira
Rainha de Bateria: Lili Tudão
ENREDO: "Liberte nosso sagrado: o legado ancestral de Mãe Meninazinha de Oxum"