02- Acadêmicos da Rocinha é a segunda escola a desfilar pela Série A

Por Redação
Reportagem: Gilvan Lopes, Heitor Olímpio, Jorge Bezerra, Gil Bezerra, Lú Rufino, Rafael Rios e Sirlene Oliveira
Fotos por Jorge Bezerra e Mariana Barcellos
Imagens: Marcelo Faria
Produção: Julia Fernandes
Suporte Remoto: Jack Costa
Editor: Julia Fernandes e Gilvan Lopes
Com o enredo “A Guerreira Negra Que Dominou os Dois Mundos”, a Rocinha traz para a Sapucaí a força da cultura negra, com seus heróis, personificados na figura de Maria da Conceição, a Maria Conga, que teve a vida norteada por tais ideais, apesar de todas as adversidades e sofrimentos, terá a história, baseada em fatos e livremente adaptada, alçada à luz.
SAMBA ENREDO: A GUERREIRA NEGRA QUE DOMINOU OS DOIS MUNDOS
COMPOSITORES: Claudio Russo, Anderson Benson e Fadico
INTÉRPRETE: CIGANEREY
NASCEU MARIA!
NOBREZA EM SUA TRIBO AFRICANA
TÃO LIVRE QUANTO OS VENTOS DA SAVANA
E A LUA CHEIA PRA TESTEMUNHAR
QUE ADOR, CORTA O MAR
CHORA, MARIA!
QUE ÁGUA DO OCEANO SABE O GOSTO
DA LÁGRIMA QUE ESCORRE EM SEU ROSTO
E OS SANTOS QUE APORTAM NO CAIS DA BAHIA
PROTEGEM QUEM JÁ FOI MERCADORIA
LEILOEIRO CANTA O LOTE
N’OUTRO CANTO O CHICOTE
SEGUE A VIA DA BRAVURA
É MARIA DA NEGRURA – BIS
ERGUEU QUILOMBO
DEU UM TOMBO NO APARATO
DESSES CAPITÃES DO MATO
CLAMANDO LIBERTAÇÃO
JÁ FOI VIDRAÇA, FEZ DA LUTA UMA COURAÇA
E HOJE O NEGRO SEM MORDAÇA
VEM EXPOR SUA GRATIDÃO
LUMIA O CRUZEIRO DAS ALMAS
QUE É LINHA DE FORÇA MAIOR
A GIRA JÁ VAI COMEÇAR!
HOJE A ROCINHA É MAGÉ NO CATIMBÓ
RISCA A PEMBA NO TERREIRO, PEDE A BÊNÇÃO A MINHA VÓ
MARIA CONGA, É QUE VENCE DEMANDA!
MARIA CONGA, É QUE VENCE DEMANDA!
SARAVÁ VÓ BENZEDEIRA PRETA VELHA DE ARUANDA – BIS
O Portal Sambrasil – Maior Portal de Notícias, Entretenimentos, Pesquisas e Referência do Mundo do Samba, entendendo a necessidade de inclusão de todos os indivíduos da sociedade e em todos os segmentos vem lançando uma nova coluna, mostrando pessoas especiais como artistas, foliões de modo geral divertindo-se no maior espetáculo da terra, independente de sua condição física.
A agremiação traz belos destaques com fantasias coloridas, em enredo que homenageia a guerreira Maria Conga, heroína do Quilombo, em ala com proposta inclusiva, com 26 pessoas com deficiência visual e seus acompanhantes, coreografada pela professora Renata Monier, pessoa com baixa visão e surdez parcial.
Ao Portal Sambrasil ela nos diz: Não precisa ver e sim sentir e que a felicidade se mostra para eles na dança, no enredo, na alegria de estar ali participando da festa.”.
Um show a parte foi dado pela pequena Maria de Lourdes com pouco mais de 1,10 m, diz que desfila na Acadêmicos da Rocinha desde que a escola ainda era um bloco e que quando passa e arranca aplausos do público se sente com dois metros e esquece totalmente todas as dificuldades do dia a dia.
SINOPSE DO ENREDO: A Guerreira Negra Que Dominou os Dois Mundos
O presente enredo busca evidenciar a cultura negra em um espaço de resistência, a história dos valentes heróis do Brasil Negro, dos quais muitos desconhecem, ou insistem em não reconhecer. Memoráveis por trajetórias de lutas, do sonho da liberdade e igualdade. Nessa ambiência, Maria da Conceição, a Maria Conga, que teve a vida norteada por tais ideais, apesar de todas as adversidades e sofrimentos, terá a história, baseada em fatos e livremente adaptada, alçada à luz.
Nossa guerreira sofreu perseguições por causa da luta pelos direitos e ideais em nosso mundo. Fundou um Quilombo de resistência e acolhimento que, atualmente, e uma comunidade (Quilombo de Maria Conga) habitada por uma população majoritariamente negra, e foi a primeira comunidade quilombola reconhecida na Baixada Fluminense. Proclamada heroína da cidade de Magé, em 1988, no centenário da abolição da escravatura, Maria Conga, por volta de 1895, após seu falecimento, tornou-se um espírito de luz. Consagrada por Oxalá e coroada por Zambi, ela continua sua missão, seu legado, ao receber os que precisam.
Por tudo isso, a guerreira negra que dominou os dois mundos, Maria Conga, terá a trajetória de vida, em nosso mundo, e sua importância no mundo espiritual, contada no maior espetáculo a céu aberto da Terra. O palco será a Marquês de Sapucaí, no festejo momesco da cidade do Rio de Janeiro, nossa Cidade Maravilhosa.
Desenvolvimento
Festa para a princesa congolesa
No continente africano, na região do Congo, uma tribo congolesa está em noite de festa. É o nascimento da princesa da tribo. Festa, canto e dança, com muita fartura, para receber a princesa que nascia sob a luz do luar. Festejos que seriam repetidos sete anos depois para o batismo nominal da alteza. Ela seria apresentada sob a luz da grande lua cheia que, em um sopro do vento, traria seu nome, como reza a lenda dos costumes da tribo local.
Erguida para ser banhada com a luz da grandiosa lua cheia, antes que o vento soprasse seu nome nos ouvidos de seu pai, toda alegria de uma noite farta e feliz foram brutalmente interrompidas, e todos ali foram agressivamente aprisionados e escravizados. Empilhados em centenas, em condições desumanas, e piores que as de outras mercadorias, onde pouco mais da metade das pessoas aprisionadas sobreviviam a bordo de um navio de incertezas, sofrimentos e muita dor, desde a Costa do Congo até o desembarque na Bahia de Todos os Santos.
O Destino e o batismo, Maria da Conceição
Em terras brasileiras, por volta de 1804, no Porto de Salvador, na Bahia, o destino da pequena princesa mudaria novamente.
Separada da família, vendida para um senhor que a batizou de Maria da Conceição, a guerreira negra começa o novo caminho de luta, resistência e proteção aos seus pares. Viveu todas as agruras comuns aos escravos e fez da liberdade a causa da sua vida inteira. Com cerca de 18 anos de idade, chegou a Magé, vendida a um fazendeiro alemão, dono de uma fazenda de café. Ela se destacava pela liderança entre os escravos na senzala, na luta pelo fim da escravidão.
Alforriada após anos de trabalho escravo, por volta de 1854, Maria não se dá por satisfeita, continua sua luta pela liberdade e também se depara com uma nova realidade: a falta de direitos dos alforriados, que, após serem libertos, eram jogados nas ruas e muitos voltavam ao trabalho escravo por falta de opção.
O Quilombo de Maria Conga, luta, resistência e acolhimento
Agora chamada de Maria Conga, como preferia, perseguida por sua luta, apesar de alforriada, fundou um Quilombo que servia de abrigo e dava proteção aos negros refugiados da guerra contra jagunços e capitães do mato.
Magé/Guapimirim, onde morreu no final do século XIX. A brava lutadora não deixou descendentes e nunca reencontrou sua família novamente.
Guiada por espíritos de luz ao reino das almas
A guerreira Maria Conga deixa nosso mundo para ser guiada por espíritos de luz ao encontro da consagração feita por Oxalá e sua coroação por Zambi. Ao exemplo de toda sua luta, liderança e acolhimento na terra, recebe em sua consagração e coroação no Reino das Almas, a liderança da linha dos Pretos Velhos de Iemanjá, a mãe de todos. Tudo para dar continuidade a sua missão, ao seu legado, e também, receber os que precisam.
A negra guerreira, líder, passou a maior parte da vida nas matas de Magé/Guapimirim, onde morreu no final do século XIX. A brava lutadora não deixou descendentes e nunca reencontrou sua família novamente.
A Preta Velha Maria Conga se eterniza no plano espiritual com sua doçura e proteção nos calorosos abraços de vovó. Nos concede direcionamento através da luz em nossos caminhos, segurança com seus patuás, curas com suas ervas, benzeduras com suas rezas, e também, a força espiritual para continuarmos na batalha por direitos, justiça e igualdade.
Quando, ainda hoje, na busca por condições mais justas, existem perseguições severas, com tentativas implacáveis de nos calar, ceifando nossas vidas com a moderna chibata de gatilho, pólvora e chumbo, que desfere centenas de chicotadas a bala. Mesmo assim, Maria Conga nos recebe em seu Quilombo de resistência no Reino das Almas e nos acaricia, nos acolhe. E, com um poder inexplicável, faz com que nossas vozes sejam ouvidas, mesmo com a vida ceifada, muito mais alto pelos quatro cantos do mundo, multiplicando a força da nossa resistência, timbrando nossa existência, sempre presente!
“Capturaram meu corpo, mais minha alma seguirá livre pela eternidade.” Maria Conga
Sinopse, Pesquisa e texto: Marcus Paulo
Bateria da Acadêmicos da Rocinha, do Mestre Júnior fazendo a entrada na Pista, com sua Rainha Mônika Nascimento!
FICHA TÉCNICA
Presidente: Ronaldo Oliveira
Carnavalesco: Marcus Paulo
Diretor de Carnaval: Maurício Santana Dias
Diretor Geral de Harmonia:
Intérprete: CIGANEREY
Comissão de Frente:
Mestre de Bateria: Augusto Junior
Rainha de Bateria:
1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Vinícius Jesus e Viviane Oliveira